A aprovação apressada de um subsídio de R$ 4 milhões ao transporte público em Santa Maria, durante a madrugada da última quarta-feira (14), escancara uma postura preocupante da gestão municipal: a completa desconexão com a realidade de quem mais precisa do serviço: o trabalhador e a trabalhadora.
O projeto foi enviado pelo Executivo municipal no início da tarde da véspera, minutos antes do início da sessão plenária ordinária , analisado às pressas pela Comissão de Constituição e Justiça da do legislativo e votado horas depois, em uma sessão extraordinária que atravessou a madrugada, se estendendo até quase o nascer do sol. Essa pressa não se justifica quando o assunto é um serviço essencial à vida cotidiana de milhares de trabalhadores, pelo contrário, ela revela o total desrespeito do governo Decimo com a sociedade, principalmente o usuário de transporte coletivo, que sequer teve tempo de entender e opinar sobre a proposta apresentada pela base do governo municipal.
O trecho referente ao subsídio do transporte público contém um parágrafo que concede uma espécie de carta branca ao Executivo para realizar futuros repasses, sem qualquer exigência de transparência ou prestação de contas à população. Nós da oposição, votamos pela supressão deste artigo e fomos derrotados pela base do governo. Acreditamos que isso pode gerar problemas para o prefeito, uma vez que consideramos que esse artigo fere princípios constitucionais.
A situação mais preocupante é que a própria Associação dos Transportadores Urbanos (ATU) considera o valor aprovado insuficiente. O governo Decimo sabe que o montante de R$ 4 milhões não resolve o problema já que apenas empurra a crise com a barriga. Enquanto isso, o trabalhador e a trabalhadora seguem enfrentando ônibus lotados, atrasos, redução de horários, paradas de ônibus em estado precário e incertezas sobre o futuro do transporte na cidade. Importante ressaltar que o subsídio não garante que a passagem não sofrerá reajuste a curto prazo.
A paralisação recente da empresa Expresso Medianeira, que é responsável por cerca de 60% do transporte local, foi um alerta claro de que o sistema está no seu limite. Os trabalhadores da empresa, sem reajuste, cruzaram os braços. A prefeitura, no entanto, prefere remendar o problema com uma verba que inevitavelmente deve ser insuficiente, em vez de apresentar um plano real de reestruturação do transporte coletivo.
Fica evidente que o foco da gestão do prefeito Rodrigo Decimo não está no cidadão que acorda às 5h da manhã para trabalhar, pega dois ônibus para chegar ao serviço e ainda precisa torcer para que o transporte funcione. O governo municipal perdeu a chance de ouvir a população, de envolver especialistas, sindicatos e usuários numa discussão transparente e democrática antes de aprovar esse subsídio.
A pressa em aprovar um projeto mal explicado, no apagar das luzes, mostra que o interesse do trabalhador ficou em último plano. E quando um governo esquece de quem mais precisa, deixa de cumprir sua principal função: servir à população. Santa Maria merece mais do que decisões tomadas entre quatro paredes enquanto a cidade dorme. Merece um transporte digno e um governo à altura das suas necessidades.