Na vida militar, aprendemos que não existe ação sem registro. Cada ocorrência precisa ser relatada, documentada e analisada, porque é assim que se organiza o campo de batalha e se define a melhor estratégia. No dia a dia da sociedade civil, essa disciplina se traduz em algo simples, mas fundamental: registrar o Boletim de Ocorrência (B.O.).
O que mostram os dados: Estudos indicam que menos da metade das vítimas de furtos e roubos registram ocorrência, o que deixa brechas e distorce a realidade da criminalidade. Em casos de violência contra a mulher, a subnotificação é ainda mais grave: pesquisas apontam que mais de 60% dos episódios nunca chegam a virar dado oficial. Sem esses registros, o Estado não tem munição estatística para planejar operações, reforçar efetivos ou investir em áreas críticas. O B.O é seu relatório de dados. Assim como um comandante precisa de relatórios precisos para agir, a segurança pública depende de dados confiáveis. Cada B.O. é um “mapa tático” que mostra onde e como o crime avança.
Ele direciona o policiamento: define rotas de patrulha, alvos de operações e locais que precisam de reforço. Ele fortalece investigações: garante cadeia de informações que podem levar à prisão de criminosos. Ele protege o cidadão: seguradoras e órgãos públicos exigem o B.O. como documento oficial em casos de acidentes, fraudes e roubos. Muitos pensam: “Foi só um furto pequeno, não vale a pena registrar”. Mas é justamente a soma dessas pequenas ocorrências que mostra onde o inimigo está agindo. O crime se aproveita do silêncio. Quando deixamos de registrar, entregamos terreno ao adversário.
Hoje, no Rio Grande do Sul, a Delegacia Online permite registrar boa parte das ocorrências pela internet, de forma prática. Casos que envolvem violência, flagrante ou risco à vida continuam exigindo presença imediata em delegacia ou contato com o 190. Mas nas demais situações, o registro digital é ágil e evita deslocamentos. Nas fileiras militares, aprendemos que disciplina e ordem são armas poderosas. Na sociedade, o B.O. é essa arma: simples, gratuita e ao alcance de todos. Se você foi vítima, não se cale. Registre. Transforme a sua dor em munição para que o Estado possa agir, proteger e punir. Sem registro, não há estatística. Sem estatística, não há estratégia. E sem estratégia, a batalha contra o crime já começa perdida.








