O ESG veio para contribuir não apenas com os investidores, mas também com as próprias empresas, ajudando-as a criar procedimentos e ferramentas para diminuir o risco de fraudes e subornos corporativos.
Existem todos os tipos de fraudes e, a cada dia, surge uma nova. Elas podem ser praticadas por colaboradores ou por agentes externos, algumas vezes em conluio com membros da própria empresa.
Segundo o estudo de Valentini, Gruber e Malagues no Capítulo Tecnologia Deepfake no Ambiente Corporativo: Desafios Éticos e Governança para uma Responsabilidade Social Alinhada ao ESG do livro Direitos Fundamentais na Perspectiva Italo-Brasileira de 2025, além das fraudes financeiras, existem outras ameaças digitais como sabotagem, difamação e manipulação de informações. Atualmente, destaca-se o uso de deepfakes, reconhecidos pelo STF como “falsidades profundas”, que utilizam inteligência artificial para criar vídeos e áudios falsos com realismo impressionante, frequentemente com o intuito de aplicar golpes financeiros.
Um exemplo emblemático ocorreu em Hong Kong: criminosos clonaram a voz de um presidente e até simularam uma reunião virtual, com avatares de colaboradores e de um diretor financeiro, solicitando transferências financeiras. O funcionário, acreditando na veracidade da situação, autorizou operações que totalizaram aproximadamente US$ 25,6 milhões (Banco do Brasil, 2023).
Mais recentemente, em 01/10/2025, veio a público no Brasil a suspeita de um grupo que teria usado um vídeo deepfake da modelo Gisele Bündchen para aplicar golpes em vendas de produtos (G1 Globo/25).
De um lado, temos riscos corporativos crescentes: fraudes, manipulações e golpes de diferentes tipos e valores.
Do outro, atuando como escudo de integridade e transparência, estão os eixos “S” (Social) e “G” (Governança) do ESG.
Uma cultura de governança sólida e estruturada desenvolve suas defesas por sua própria natureza, alinhada aos eixos “S” e “G” do ESG (Environmental, Social and Governance). A integridade financeira das empresas depende de controles robustos, ética e cultura organizacional — todos elementos ligados diretamente a esses dois pilares.
Dentro dessa lógica, as empresas alinhadas ao ESG contam com duas linhas de defesa:
- A primeira, formada pelos colaboradores (escudo humano), estruturada pelo eixo “S”.
- A segunda, estruturada pelo eixo “G” (escudo técnico), com controles robustos e análise de riscos.
O escudo humano (primeira linha de defesa) – eixo “S”
Esse papel é exercido pelos colaboradores quando recebem capacitação contínua, não apenas para desempenhar melhor suas funções, mas também para lidar com inovações, identificar riscos e enxergar oportunidades. Esse processo envolve respeito aos direitos humanos, valorização do profissional e treinamentos robustos em ética e compliance. Os colaboradores quando valorizados, capacitados e respeitados em seus direitos, tornam-se agentes de vigilância dentro da própria empresa e o principal capital, o humano. Treinamentos contínuos, códigos de ética robustos e políticas de desenvolvimento profissional os preparam para atuar bem em suas funções, identificar riscos e acompanhar as inovações.
Empresas que investem em seus profissionais, preparando-os para as novas demandas do mercado, contam com equipes engajadas, que funcionam como agentes de vigilância internos e externos.
- A ABNT PR 2030, em sua autoavaliação ESG, prevê requisitos mínimos de práticas para o eixo “S”, fortalecendo a cultura organizacional e funcionando como uma primeira linha de defesa contra fraudes. Em sua autoavaliação ESG, já traz temas e práticas mínimas para o eixo “S”, fortalecendo a cultura organizacional. Entre os requisitos: capacitação contínua, programas estruturados de desenvolvimento, incentivos à aprendizagem e proteção ativa dos direitos humanos. Empresas que aplicam isso não apenas formam profissionais mais preparados, mas constroem times engajados e leais — verdadeiros guardiões contra fraudes:
- Capacitação contínua e desenvolvimento profissional;
- Treinamentos obrigatórios e rotineiros;
- Política estruturada de desenvolvimento de carreira;
- Incentivos à aprendizagem permanente;
- Políticas de proteção aos direitos humanos, tanto internos quanto externos;
- Avaliação dos impactos das atividades nos direitos humanos e nos riscos relacionados.
Além disso, a organização deve oferecer treinamentos de rotina visando à produtividade, políticas de capacitação com objetivos claros e incentivos ao aprendizado contínuo. Essa lógica pode se estender ainda aos fornecedores, alinhando-os às metas estratégicas da empresa e fortalecendo a cadeia de valor.
O escudo técnico (segunda linha de defesa) – eixo “G”
Essa linha é formada por controles e mecanismos de governança que asseguram a integridade e a transparência financeira. Com a primeira linha de defesa já estruturada no âmbito operacional, a segunda entra como reforço, entram os controles de processos bem estruturados, matriz de riscos, cenários, impactos e monitoramento constante. É a camada de defesa que garante transparência e responsabilização, com metas, indicadores e registros sistemáticos: identificando riscos, avaliando sua probabilidade de ocorrência, tratando-os e monitorando continuamente os resultados.
Na autoavaliação ESG para o eixo “G”, a ABNT PR 2030 traz requisitos mínimos nos temas de Controle e Gestão e Transparência, integrando a gestão de riscos à tomada de decisões, priorizando planos de mitigação, formalizando responsabilidades e medindo resultados:
- Controle e Gestão: os riscos, mesmo quando inicialmente reconhecidos de forma intuitiva, precisam passar por processos formais de identificação, avaliação, priorização e mitigação. Esses riscos devem ser integrados às decisões estratégicas, com uso de ferramentas como matriz de riscos, cenários e análise de impactos.
- Transparência: deve haver responsabilização formal, definição clara de metas e métricas, integração da gestão com os processos organizacionais, papéis bem definidos, indicadores de desempenho e monitoramento sistemático com registros adequados.
Esses são apenas alguns exemplos de como os eixos “S” e “G” do ESG podem funcionar como verdadeiras linhas de defesa contra fraudes, fortalecendo a integridade e a resiliência corporativa. Implementar no planejamento estratégico políticas de ESG compatíveis com seu modelo de negócio e aliar-se de profissionais capacitados tecnicamente para assegurar a estruturação e o alcance dos seus objetivos de sustentabilidade, eleva o patamar de governança das organizações.








