Como a crise climática redefine o papel da engenharia, da arquitetura e da gestão ambiental.
Estamos vivendo o momento mais crítico da história moderna: a crise climática deixou de ser uma previsão distante para se tornar uma realidade que já molda nosso cotidiano. Ondas de calor extremas, chuvas intensas, estiagens prolongadas, aumento de doenças relacionadas ao clima e a perda acelerada de biodiversidade são sinais de que o planeta entrou em um ponto de inflexão. E essa é exatamente a pauta central da COP 30, que nesta semana reacendeu debates profundos sobre responsabilidade, adaptação e ação imediata.
Nesse cenário, a liderança técnica ganha um novo significado. Profissionais da engenharia, arquitetura, planejamento urbano e gestão ambiental não são apenas executores, são protagonistas. A crise climática exige habilidades que vão além do domínio técnico: exige leitura de contexto, tomada de decisão, ética, comunicação clara e, acima de tudo, coragem.
Durante muitos anos, acreditamos que bastava seguir normas, entregar projetos dentro do escopo e garantir conformidade legal. Hoje, isso é apenas a base. Com a intensificação dos eventos climáticos extremos, projetar sem considerar riscos climáticos não é apenas ultrapassado: é perigoso. A engenharia e o urbanismo precisam assumir que estamos construindo em um mundo diferente daquele para o qual nossos códigos e manuais foram escritos.
As chuvas que caem hoje já não são as mesmas de 20 anos atrás. As temperaturas que enfrentamos agora não serão as mesmas daqui a cinco anos. Os solos, a água, o ar e as cidades estão sendo transformados em velocidade recorde. E se a realidade mudou, a liderança técnica precisa mudar junto.
É por isso que a COP 30 insiste tanto em colocar a crise climática no centro das conversas. A conferência tem repetido uma verdade incômoda: não há política pública, plano diretor, obra ou licenciamento que sobreviva sem incorporar cenários climáticos de curto, médio e longo prazo. E essa é uma responsabilidade direta de quem projeta, analisa e aprova.
Ser um líder técnico em tempos de crise climática significa:
1. Antecipar riscos
Não esperar o desastre para agir. É estudar dados climáticos, entender padrões regionais, avaliar vulnerabilidades e incorporar soluções baseadas na natureza, drenagem inteligente, infraestrutura verde e materiais adequados a ondas de calor.
2. Defender decisões técnicas com firmeza
Em um ambiente de pressão econômica e política, é o profissional que precisa sustentar, com clareza e evidências, por que uma área não deve ser ocupada, por que um projeto deve ser revisado, por que uma obra deve ser adaptada.
3. Enxergar além do empreendimento
Toda intervenção dialoga com ecossistemas, bacias hidrográficas, comunidades, fluxos de água e energia. A crise climática mostra que não existe obra neutra.
4. Comunicar com integridade
Num mundo tomado por desinformação, inclusive sobre clima, a liderança técnica exige explicação acessível, dados confiáveis e transparência.
5. Incorporar justiça climática e território
Povos tradicionais, comunidades vulneráveis e periferias urbanas são os mais afetados pelos extremos climáticos. Os protestos desta semana na COP 30 reforçam: não existe liderança técnica sem considerar pessoas, cultura e direitos.
A crise climática, portanto, não é apenas o maior desafio ambiental da nossa geração, é o maior desafio técnico, ético e profissional. Cada projeto que assinamos é uma resposta que damos ao futuro: estamos perpetuando riscos ou construindo resiliência?
Seja no Pará, na Amazônia, em Santa Maria ou em qualquer cidade brasileira, a liderança técnica hoje é a linha que separa o improviso da prevenção, o impacto do cuidado, o desastre da responsabilidade.
E talvez seja essa a nossa missão neste tempo histórico: sermos líderes capazes de transformar a crise climática não em paralisação, mas em direção.
Uma direção que honra o território, protege vidas e constrói cidades preparadas para o que já chegou, e para o que ainda virá.








