Como o tradicionalismo gaúcho se renova ao longo do tempo
Por Mariana Rodrigues
O gaúcho é memória e transformação. Carrega símbolos, ritos e indumentárias de outros tempos, mas a sua chama permanece acesa porque aprendeu a se reinventar sem esquecer suas raízes. E nesse processo de constante renovação, o jovem é o protagonista que sempre esteve presente.
A juventude teve papel central na criação, preservação e evolução da cultura do Rio Grande do Sul. Em 1947, foi um jovem de 20 anos, João Carlos Dávila Paixão Côrtes que liderou a formação do Grupo dos Oito, estudantes que buscavam valorizar os hábitos e costumes do gaúcho. Desse grupo surgiu a primeira Ronda Gaúcha, evento que deu origem à Semana Farroupilha, celebrada até hoje como símbolo de identidade e orgulho regional.
No ano seguinte, nasceu em Porto Alegre o 35 CTG, considerado o primeiro da história. Mais uma vez, foi a juventude que se mobilizou para erguer a entidade que inspiraria a criação de outros CTGs pelo estado.
Desde então, a tradição não parou de crescer e se transformar. E mesmo hoje, em tempos de redes sociais e mudanças aceleradas, o jovem segue lá. Para o atual presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), Alessandro Gradaschi “eles são protagonistas dentro das entidades, seja nas invernadas artísticas, no campeirismo, no voluntariado ou nos concursos culturais. É a juventude que garante a renovação do Movimento”.

A comunicação, nesse contexto, tem sido estratégica. Gradaschi explica que o MTG busca se adaptar através de investimentos nas redes sociais e transmissões online dos eventos. “A tradição pode e deve ocupar esses espaços. O desafio é aproximar a linguagem tradicionalista do universo jovem, sem perder a essência do que somos.”
Esse pensamento também é compartilhado por Leonidas Augusto da Silva, 1º Peão do Rio Grande do Sul. Ele vê a comunicação como fator decisivo: “Entidades do século XIX não avançaram porque não souberam se divulgar. Já o 35 CTG teve apoio do rádio e da imprensa. A comunicação sempre foi e continua sendo fundamental.”
Gaúcho nos quatro cantos do mundo
As redes sociais podem ser aliadas do tradicionalismo ao aproximar a cultura gaúcha de públicos que, muitas vezes, nunca haviam tido contato com ela. Foi assim que o grupo Triopacito viralizou nas redes sociais. Ao unir o sapateio da chula com músicas do cenário global, eles criaram uma ponte entre a tradição gaúcha e a modernidade.
Tudo começou de forma despretensiosa, com um vídeo em que o gaiteiro Guilherme Tavares tocava Despacito na gaita, enquanto os amigos William Cantareli e Leonardo Brizola, sapateadores de chula, acompanhavam com passos sincronizados. Publicado no Facebook, o vídeo alcançou milhões de visualizações. E em menos de uma semana, já estavam em programas nacionais, como o Encontro com Fátima Bernardes.

A repercussão inesperada levou os três a formalizarem o grupo, e com vídeos criativos, que misturam ritmos contemporâneos e tradição, o Triopacito vem conquistando novos públicos e inspirando jovens de todas as idades. Eles reconhecem que, para atrair a juventude, é preciso falar sua língua: “Pra que a gente possa favorecer ou possibilitar que pessoas comecem a gostar da nossa cultura, da nossa arte, a gente precisa primeiro conversar na língua desses jovens. Essa conexão, esse ponto de vínculo é o que vai trazer o jovem de forma natural”.
Mas, a internet não substitui o contato com o campo e com os CTGs. “Ela é um catalisador. Facilita o acesso, mostra o que a gente acredita e naturalmente atrai mais pessoas. O digital encurta o caminho pra quem quer conhecer. Mas o contato com o campo, com o CTG, com o homem campeiro, precisa continuar existindo. A essência tem que estar lá.”, explica Leonardo.
Pertencimento
A presença da juventude nos CTGs também se explica pelo sentimento de identidade e pertencimento. Para o presidente do MTG, muitos jovens permanecem nesses espaços porque encontram neles valores que levam para a vida: “O movimento ensina respeito, disciplina, solidariedade e amor à terra. São princípios que formam cidadãos conscientes, que levam consigo a importância da cultura, da família e do espírito comunitário.”
A meta, segundo Gradaschi, é clara: que o jovem veja no tradicionalismo não apenas lazer, mas também propósito e oportunidade de crescimento.








