O Brasil acaba de lançar o primeiro Plano Nacional de Arborização Urbana (PlaNAU), um marco inédito e necessário. É um documento que reconhece, finalmente, o óbvio: cidades sem árvores são mais quentes, mais vulneráveis e mais desiguais. Mas a pergunta que precisamos fazer com honestidade, é simples: vamos transformar esse plano em ação concreta, ou ele corre o risco de se tornar mais um documento técnico que não sai do papel?
Mesmo diante de evidências sólidas de que árvores podem reduzir até 12°C em áreas densas, filtrar poluentes, diminuir alagamentos e melhorar indicadores de saúde pública, ainda vemos a arborização urbana ser tratada, em muitos lugares, como “item acessório” e não como infraestrutura. Quantas vezes árvores são removidas por obras sem uma reposição adequada? Quantas vezes a fiação aérea decide a altura da copa? Quantas vezes a comunidade só é informada depois que a árvore já foi cortada?
A crítica principal aqui não é ao conteúdo do PlaNAU, ao contrário, o plano é tecnicamente consistente, moderno e alinhado às melhores práticas internacionais. O problema está no intervalo perigoso entre a norma e a execução, entre o que se planeja em Brasília e o que se realiza nas ruas das cidades brasileiras.
O PlaNAU representa um avanço, mas ele não se sustenta sozinho. Políticas nacionais só ganham força quando encontram municípios preparados com equipes técnicas consistentes, inventários atualizados, capacidade de fiscalização e integração entre secretarias. Sem isso, qualquer plano, por melhor que seja, perde eficácia no percurso até a ponta.
E é aqui que entra o papel das cidades, inclusive Santa Maria.
Assim como tantos municípios do país, Santa Maria está diante de uma oportunidade real: deixar de enxergar arborização como paisagismo e passar a tratá-la como infraestrutura essencial, diretamente ligada ao clima, à mobilidade urbana, à drenagem, à saúde e à qualidade de vida. Isso significa pensar árvores já no início dos projetos, e não depois que a calçada está pronta; significa integrar decisões entre urbanismo e meio ambiente; significa que a árvore não pode ser “um problema a ser contornado” mas parte da solução.
Mas existe um lado extremamente positivo e esse é o ponto de virada.
Temos conhecimento técnico acumulado, universidades fortes, equipes qualificadas, profissionais comprometidos e iniciativas locais que funcionam. Há competência sobrando no Brasil e em Santa Maria para fazer uma política de arborização bem planejada.
O que falta, em muitos casos, é articulação:
planejamento de longo prazo, continuidade entre gestões e a decisão política de avançar. Isso vale para todas as cidades do país. O PlaNAU aponta a direção, mas são os municípios que vão dizer se o caminho será percorrido.
Porque, no fim das contas, arborização não é luxo.
É adaptação climática.
É proteção.
É saúde pública.
É bem-estar urbano.
É infraestrutura do século XXI.
E o PlaNAU nos lembra que o futuro urbano do Brasil vai depender, cada vez mais, da sombra que formos capazes de plantar e manter hoje.








