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Quando o invisível nos toca

Peço licença, e até um perdão sincero aos leitores desta coluna que estão habituados com minhas reflexões sobre temas jurídicos. Hoje, porém, permito-me escrever algo diferente, ainda que eu realmente não veja grande distância entre um texto humano e um texto jurídico, porque acredito que ambos se entrelaçam. Vida e Direito lidam com conflitos, escolhas, limites, consequências e com essa fascinante e, às vezes, desgastante experiência de lidar com pessoas. Há mais paralelos entre uma decisão emocional e uma decisão judicial do que estamos dispostos a admitir.

Este mês foi corrido, intenso e cheio de desdobramentos. Financeiramente bom, mas energeticamente desgastante. Me senti cansada, estafada, exausta. Situações começaram a aparecer como uma avalanche, uma após a outra, quase debochando da minha tentativa de organizar a vida. E eu, colérica que sou, reagindo como sempre reajo, de forma prática, impulsiva e impaciente. Tomo decisões rápidas, mas nos oito segundos que sucedem essas decisões penso demais, racionalizo tudo, até aquilo que nasceu do impulso mais visceral. É um paradoxo, eu sei, mas é o meu ritmo interno, e aprendi a conviver com ele. E, sinceramente, é uma caracterização abonadora! 

Não acredito em coincidências. As coisas acontecem por uma razão, mesmo quando essa razão se apresenta mascarada de caos. E foi justamente na semana em que tudo parecia não estar alinhado que encontrei uma página falando sobre energia e sobre como influências externas podem afetar a nossa vida. Não era novidade para mim, sempre li muito sobre isso, mas dessa vez resolvi testar. Fiz as sessões e, no fundo, não me surpreendi ao perceber o quanto de energia negativa de outras pessoas pairava sobre mim, justamente no mês em que coisas essenciais estavam sendo modificadas na minha vida. Não exagero, não atribuo tudo a inveja ou campos magnéticos mal alinhados, mas também não ignoro que certos pesos não são nossos, e que certas intenções não chegam pela porta da frente.

Lembrei de Oscar Wilde, que sempre foi preciso ao descrever a alma humana, “A cada bela impressão que causamos, conquistamos um inimigo, para ser popular é indispensável ser medíocre”. Essa frase explica mais do que gosto de admitir. Há pessoas que nos odeiam não pelo mal que fizemos, mas pelo bem que somos. Pessoas que jamais serão o que você é transformam isso em motivo para te detestar. E ninguém deveria precisar se preocupar com isso, mas precisa. Porque a vida, assim como o Direito, não funciona apenas com princípios, funciona com fatos, com realidades, com consequências palpáveis.

Minha mãe sempre repetiu um conselho que só aprendi a valorizar depois de adulta, não sangre em tanque de tubarões. Hoje entendo o que ela queria dizer. Não se trata de viver escondida, mas de escolher com cuidado onde e para quem você mostra suas vulnerabilidades e, principalmente, onde você deposita seu brilho. Há também aquele ditado certeiro, prego que se destaca leva martelada. A vida comprova. Principalmente, a minha!

E quando penso no quanto nos preocupamos com coisas que “não deveriam nos afetar”, lembro do quão humano é desejar, em silêncio, que alguém que nos feriu tropece também. Quem nunca pensou, “bem que podia…”? Parece mesquinho, mas normalmente nutrimos esse tipo de sentimento por pessoas que fizeram o mesmo conosco, e isso é humanamente perdoável. Às vezes o que desejamos é tão menor, tão insignificante perto do que recebemos, que quase se torna um “crime privilegiado” emocional. Há até certo alívio em ver que a vida devolve, vez ou outra, aquilo que nos tiraram. Sentimento humano não é tese jurídica, mas é compreensível.

Quando, porém, alguém vive desejando o mal como regra, aí sim a vida devolve, porque desejar infelicidade gera infelicidade, mesmo que soe piegas dizer isso. Eu acredito que tudo volta. Às vezes devagar, às vezes discretamente, às vezes em silêncio. Mas volta.

E em tudo isso, volto à minha premissa, sou senhora da minha vida, e o que não me mata me fortalece. Hoje, mais madura, reconheço que vale a pena emanar energia boa, amar mais, preocupar-se menos com o que os outros pensam e compreender que apresentar demais cedo demais pode colocar um alvo nas nossas costas. Ninguém quer isso. Às vezes mostrar apenas parte do que somos é proteção. Desabrochar lentamente também é estratégia. Nenhum girassol nasce inteiro, antes disso é semente, e semente ninguém consegue podar.

Então sim, experimente preocupar-se, mas com medida. Experimente ser feliz pelos outros. Experimente reconhecer sua humanidade sem deixar que ela vire fraqueza. E não viva apenas do lado primitivo das emoções, ele existe, mas não deve comandar tudo. A semente cresce mesmo quando ninguém está olhando, e cedo ou tarde, ela devolve, por si só, o que precisa ser devolvido.

E já que falo de tempo, lembro da personagem de De Repente 30, que desejava ardentemente chegar aos trinta para finalmente ter uma vida perfeita, apenas para descobrir que a pressa de ser adulta cobra seu preço. A trilha do filme, Vienna, de Billy Joel, traduz exatamente isso, “Slow down, you crazy child, you’re so ambitious for a juvenile”, que significa algo como desacelera um pouco, criança, você está correndo demais para alguém que ainda tem muito pela frente. E mais adiante, “you can’t be everything you want to be before your time”, ou seja, você não pode ser tudo o que deseja ser antes da hora.

Nem no Direito, nem na vida, nem numa coluna de revista  existe glória na pressa. Existe poder no ritmo, existe força no silêncio estratégico, existe maturidade em escolher quando florescer. E existe paz em entender que a nossa própria felicidade, luminosa ou discreta, já basta para fazer murchar tudo aquilo que nunca nos pertenceu. Nem sempre é sobre nós. Mas sempre vai ser como escolhemos permitir (ou não) que nos afete.

Eizzi Benites Melgarejo – advogada OAB/RS 86.686

Reinaldo Guidolin

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