“Para Minha Filha, no dia em que o mundo me perguntou quem eu fui”
Hoje, uma de minhas filhas faz aniversário. Adolescente, navegando os limites e aventurando-se pela vida, como um personagem de Júlio Verne explorando o desconhecido.
Mas qual mundo ela herdará? Que planeta minha geração realmente deixou? Que sementes, afinal, plantamos — e quais deixamos secar nas mãos?
Quando olho para trás, para a história, imagino se ela um dia cantará: “Por isso cuidado, meu bem, há perigo na esquina… Eles venceram, e o sinal está fechado pra nós, que somos jovens.”
Vivemos em um planeta exausto, conflituoso, tenso como um fio prestes a romper. À sombra de guerras — guerras que, no fundo, são disputas de bancos centrais, interesses que não são meus, nem seus, nem das minhas filhas. E diante disso, pergunto-me: que futuro aguarda uma geração nascida da tecnologia, mas cercada de fragilidades humanas?
Ainda há tempo?
Tempo para mudar, transformar o ambiente, preservar os recursos naturais? Tempo para construir uma sustentabilidade real, pragmática, eficaz? Ou continuaremos entregando a eles apenas o eco distante da ECO-92 e a aparência frágil de cooperações inconclusas como as da COP-25?
Lembro da ECO-92, no Rio de Janeiro: promessas grandiosas de um mundo regenerado.
Mas, no fim, as finanças engoliram os sonhos; o capital venceu a sociedade; e o futuro foi sendo silenciosamente sacrificado.
Minha geração tornou-se impotente, egoísta, individualista — e permitiu que negligenciássemos não só o amanhã, mas também aqueles que virão depois de nós.
Essa é a verdade que nos atravessa: acomodamo-nos.
E deixamos aos nossos filhos um mundo mais sombrio, mais instável — ambiental e geopoliticamente.
Novos Reichs, novas Vichys, novas formas de colonização se erguem, disfarçadas, repetindo velhas histórias sob novas máscaras.
Minha geração não aprendeu com os erros; apenas os aperfeiçoou. Consumista, imediatista, deslumbrada com o próprio reflexo.
E então, pergunto a mim mesmo:
Que futuro eu ajudei a criar para minhas filhas?
Que elas não sejam covardes como eu.
Que tenham a coragem que me faltou, que transformem o que não transformei, que corrijam o que deixei escapar pelas frestas do tempo.
Que sejam maiores do que fomos — e que não repitam nosso silêncio.
Porque, no fundo, a minha dor é perceber que, apesar de tudo o que fizemos — ou acreditamos ter feito —
Ainda somos os mesmos, e vivemos…
Ainda somos os mesmos, e vivemos…
Como os nossos pais








