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Eles não falam, porém comunicam.

A arte de diagnosticar um animal é, antes de tudo, um exercício profundo de escuta, ainda que nenhum som seja dito. Costumo dizer que meu consultório é um território onde a lógica se encontra com a sensibilidade, porque, para nós veterinários, cada paciente se expressa por meio de pequenos sinais que precisam ser interpretados com cuidado, humildade e método.

Quando um animal chega a mim, ele não descreve onde dói, não aponta o desconforto, não detalha quando começou o mal-estar. Cabe a mim construir uma linha de raciocínio baseada em fragmentos: um olhar mais apagado, um caminhar hesitante, a forma como respira, a maneira como reage ao toque. Cada detalhe é uma palavra dentro de uma linguagem silenciosa.

O primeiro passo é sempre a observação. Antes de qualquer exame, paro alguns instantes apenas para assistir. Como se move? Como se posiciona? Que postura assume ao ver o tutor ou ao me ver? Essas pistas iniciais já direcionam meu pensamento para possíveis sistemas envolvidos, seja digestivo, respiratório, locomotor ou neurológico.

Depois vem a anamnese com o tutor, que funciona como a voz emprestada do animal. Pergunto sobre o comportamento em casa, mudanças sutis na rotina, alimentação, exposição a riscos. Cada resposta elimina algumas hipóteses e fortalece outras. O raciocínio clínico é, em essência, a arte de descartar com lógica.

A seguir, a palpação, a ausculta e os testes neurológicos simples. Nesses momentos, a comunicação chega ao seu ápice. O animal nos mostra claramente seus limites: enrijece, se retrai, aceita. Não há engano nesse tipo de resposta. É sincera como poucas coisas na vida.

Por fim, entram os exames complementares, como sangue, imagem e urina, que confirmam ou negam aquilo que nossa percepção montou cuidadosamente. Mas sempre lembro que esses exames não substituem o olhar clínico; apenas o completam.

Ser veterinário é compreender que, mesmo sem palavras, nossos pacientes falam abundantemente. Basta ter paciência, ciência e respeito para ouvir. E, acima de tudo, reconhecer que cada diagnóstico é um diálogo silencioso entre espécies que se entendem além da linguagem.

Reinaldo Guidolin

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