O crescimento das cidades vem acompanhado de uma série de desafios: aumento da temperatura, impermeabilização do solo, enchentes, poluição do ar e do ruído, perda de biodiversidade. Em meio a tantos problemas urbanos, há uma solução silenciosa, eficiente e muitas vezes negligenciada: as árvores.
A arborização urbana vai muito além do embelezamento das ruas — ela é uma infraestrutura verde vital para a saúde das cidades e de seus habitantes. Árvores bem planejadas contribuem para reduzir ilhas de calor, melhorar a qualidade do ar, absorver parte das águas da chuva, proteger o solo contra a erosão, servir de abrigo para a fauna e ainda proporcionam bem-estar psicológico, conforto térmico e qualidade de vida para a população.
Apesar de tudo isso, Santa Maria ainda não possui um Plano de Arborização Urbana. Isso significa que o plantio, a manutenção, o manejo e até a supressão de árvores em vias públicas seguem ocorrendo de forma pontual, sem diretrizes claras, sem metas de longo prazo, sem critérios técnicos bem definidos. O resultado são ruas com espécies mal escolhidas, raízes que danificam calçadas, copas que interferem na fiação elétrica e, por outro lado, áreas totalmente desprovidas de cobertura vegetal.
A boa notícia é que este cenário está prestes a mudar. Em 2024, o município anunciou que iniciará a elaboração do seu Plano de Arborização Urbana. Esse é um passo importante — e tardio. O plano deverá conter diretrizes para o plantio e manejo das árvores em espaços públicos, levando em conta o clima, o solo, a densidade urbana, a diversidade de espécies nativas, a acessibilidade, o paisagismo e a convivência com a infraestrutura existente.
Mas para que esse plano seja realmente eficiente, ele precisa ser construído com base técnica e com participação social. Envolver universidades, profissionais da área ambiental, arquitetos, urbanistas e, principalmente, a comunidade, é essencial. As pessoas precisam entender que o verde da cidade é tão importante quanto o asfalto, o esgoto e a iluminação pública. E precisam ter voz ativa nesse planejamento.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, a recomendação mínima é de 12 m² de área verde por habitante. Santa Maria, como muitas cidades médias brasileiras, ainda está distante dessa meta. E a arborização das vias públicas é um dos caminhos mais viáveis e baratos para aproximar essa realidade da população.
Além disso, em tempos de mudanças climáticas, a arborização se torna uma estratégia de adaptação. Árvores ajudam a reduzir a temperatura nas cidades, a proteger áreas vulneráveis contra erosão e escorregamentos e até a mitigar parte dos impactos das enchentes — como vimos nas tragédias que marcaram o Rio Grande do Sul em 2024.
Um Plano de Arborização Urbana bem feito não é um luxo. É um instrumento de planejamento, justiça ambiental, saúde pública e qualidade de vida. Que Santa Maria aproveite essa oportunidade para transformar sua paisagem urbana com inteligência, responsabilidade e compromisso com o futuro.