O vício em apostas online, impulsionado pelas plataformas de “bets”, tornou-se uma preocupação crescente no Brasil, afetando diversas camadas da sociedade e impactando negativamente a economia e a saúde mental dos cidadãos.
Muitos brasileiros são atraídos para as apostas online por campanhas publicitárias agressivas, que prometem ganhos fáceis e rápidos. A facilidade de acesso, aliada à ausência de regulamentação eficaz até recentemente, contribuiu para a popularização dessas plataformas. A pandemia também desempenhou um papel significativo, levando mais pessoas a buscar entretenimento online e alternativas de renda, o que aumentou a exposição às apostas digitais.
A busca por adrenalina e a ilusão de controle sobre os resultados incentivando apostas repetidas; a influência de amigos e familiares que também apostam normalizando o comportamento; e a esperança de resolver problemas financeiros através de ganhos em apostas gerando comportamento compulsivo, são alguns dos fatores que podem levar as pessoas ao vício em apostas.
Em 2024, o mercado de apostas online no Brasil movimentou aproximadamente R$ 100 bilhões. Estima-se que os brasileiros tenham perdido cerca de R$ 23,9 bilhões em apostas, considerando a diferença entre os valores apostados e os prêmios recebidos.
Um levantamento do Banco Central revelou que, em agosto de 2024, beneficiários do Bolsa Família transferiram R$ 3 bilhões para sites de apostas online, representando cerca de 20% do valor total repassado pelo programa naquele mês. Além disso, uma pesquisa indicou que 30% dos beneficiários do programa já realizaram apostas online, com dinheiro que deveria ser utilizado para combater a fome e prover o sustento básico de famílias em situação de vulnerabilidade social.
O vício em apostas pode levar a sérias consequências psicológicas, como ansiedade, depressão, isolamento social e até pensamentos suicidas. A compulsão por apostar frequentemente resulta em perdas financeiras significativas, aumentando o estresse e comprometendo a saúde mental dos indivíduos.
Além disso, o envolvimento com apostas online pode comprometer seriamente o orçamento familiar, levando ao aumento do endividamento e da inadimplência. Esse cenário afeta fortemente o varejo, reduzindo o consumo e impactando negativamente a economia como um todo.
Em resposta aos problemas associados às apostas online, o governo brasileiro implementou uma série de medidas para regulamentar o setor. Desde janeiro de 2025, entrou em vigor a Lei nº 14.790/2023, que estabelece normas para a exploração das apostas de quota fixa, conhecidas como “bets”, no país. Dentre as principais medidas, destacam-se:
• A obrigatoriedade de licenciamento para as casas de apostas, com critérios rigorosos para operar legalmente no Brasil;
• A exigência de sede no país para empresas do setor, facilitando a fiscalização e arrecadação de impostos;
• A proibição de apostas por menores de 18 anos e a implementação de mecanismos para controle de acesso;
• A vinculação de campanhas de conscientização sobre o jogo responsável, com advertências nas propagandas;
• A criação de um imposto de 12% sobre a receita bruta das operadoras e de 15% sobre os prêmios dos apostadores;
• A possibilidade de bloqueio de CPF de beneficiários de programas sociais, como o Bolsa Família, para restringir o acesso às plataformas.
Mas muito além das ações governamentais, é fundamental que o setor privado também atue na prevenção do problema. Empresários podem — e devem — adotar campanhas internas de conscientização junto aos seus colaboradores, alertando sobre os riscos que as apostas online representam para a sustentabilidade financeira individual e familiar. Tais campanhas podem ajudar a prevenir o endividamento, preservar a saúde mental dos trabalhadores e promover um ambiente mais saudável e produtivo nas empresas.
Os cidadãos também devem ter participação ativa no enfrentamento deste problema, adotando iniciativas capazes de inibir o início nas apostas online, tais como:
• Educação Financeira: Buscar conhecimento sobre gestão financeira pode ajudar a tomar decisões mais conscientes e evitar a tentação de apostar como solução para problemas econômicos.
• Consciência dos Riscos: Entender que as apostas são desenhadas para favorecer as casas de apostas e que as chances de perda são altas pode desencorajar o envolvimento.
• Apoio Psicológico: Procurar ajuda profissional ao identificar sinais de compulsão por apostas é fundamental para prevenir o agravamento do problema.
O vício em apostas online representa um desafio significativo para a sociedade brasileira, exigindo ações coordenadas entre governo, sociedade civil e indivíduos para mitigar seus impactos e proteger os mais vulneráveis.
Nesse contexto, também é essencial que os empresários façam a sua parte, promovendo campanhas internas de conscientização com seus colaboradores, alertando sobre os riscos que as apostas online representam para a sustentabilidade financeira pessoal e familiar.
Ao investir em informação e prevenção dentro do ambiente de trabalho, as empresas contribuem para a saúde financeira e emocional de seus funcionários, além de evitar que o problema afete a produtividade, o clima organizacional e o bem-estar coletivo.
