Ontem, em razão do dia das mães, as redes sociais foram tomadas por fotos e textos celebrando o dia das mulheres que nos deram a vida. Um reconhecimento justo, mas que infelizmente não tem expressão na vida real se observarmos a atual dinâmica do mundo do trabalho e como isso tem afetado a vida de milhões de brasileiras, principalmente as que trabalham sob a escala 6×1.
Passar 6 dias da semana trabalhando, e ter apenas 1 dia de descanso é exaustivo e desumano, e para as mulheres tem um peso ainda maior por conta de elementos como a dupla jornada e a desigualdade salarial. As mulheres recebem quase 20% a menos que os homens, segundo o Ministério das Mulheres e do Trabalho e Emprego (MTE). O trabalho doméstico, invisibilizado e não remunerado, consomem cerca de 21,3 horas em casa, de acordo com dados de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Se não bastasse toda a adversidade da dupla jornada e da desigualdade salarial, elementos como o racismo e o crescimento do número de mães solo mostram a crueldade da atual jornada de trabalho que a maioria das mulheres brasileiras estão inseridas. As mães solo já chegam a 11 milhões, sendo a maioria de mulheres negras (90% das mulheres que se tornaram mães solo entre 2012 e 2022 são negras).
Os números gritam a realidade perversa das mulheres brasileiras diante da atual jornada de trabalho. Talvez o melhor presente para as mães, as que mais sofrem nessa escala, seja tentar devolver a vida delas em uma escala mais digna e humana. A vida não tem hora extra e as mães brasileiras merecem viver.