Fazer parte da história da Revista Enfoco é mais do que um marco na minha trajetória profissional, é um reconhecimento de que a pauta ambiental encontrou espaço, ressonância e continuidade. Ao longo das últimas 14 semanas, cada coluna foi construída como uma semente. Algumas germinaram como reflexões, outras como denúncias, algumas provocaram incômodos; e todas, sem exceção, nasceram de uma convicção: não há mais tempo a perder.
Ao longo dessas 15 semanas, percorremos temas urgentes, interligados e profundamente conectados com a nossa realidade local e global. Começamos pelas emergências climáticas, com foco nas enchentes devastadoras que atingiram o Rio Grande do Sul. A coluna de estreia foi um chamado à ação: planos diretores atualizados, drenagem urbana eficiente, fiscalização e, principalmente, o fim da aceitação passiva diante de tragédias que se repetem. A cada chuva, vidas são afetadas. não por fatalidade, mas por escolhas políticas, omissões estruturais e uma ocupação desordenada do território.
Seguimos com reflexões sobre a crise climática no campo, mostrando como o produtor rural é um dos mais impactados pelas mudanças do clima. Estiagens prolongadas, perdas de safras e incertezas econômicas mostram a necessidade de planejamento, diversificação de cultivos e políticas públicas que priorizem o pequeno agricultor como agente fundamental da transição ecológica.
Falamos sobre a água como direito universal, abordando sua escassez, desperdício e contaminação. Essa discussão nos levou à série de colunas sobre a qualidade da água e do solo, onde abordamos a recuperação de matas ciliares, os impactos silenciosos dos cemitérios urbanos, a ausência de saneamento básico em áreas periféricas e a contaminação invisível que ameaça ecossistemas inteiros.
Também refletimos sobre o consumo consciente, a partir de temas simbólicos como a Páscoa, e sobre como embalagens brilhantes e descartáveis representam um modelo de produção e descarte que precisa ser urgentemente revisto. Em outro momento, discutimos memória e meio ambiente, reforçando que até a morte deixa sua marca no planeta.
Voltamos o olhar a Santa Maria, destacando desde a lentidão no plano de arborização urbana até o abandono de comunidades como a Vila Canário. Mostramos que o município reflete tantos outros no Brasil: rico em potencial, mas ainda tímido na adoção de políticas estruturantes.
Mais recentemente, abordamos dados impactantes: 70% das matas ciliares do Rio Soturno foram destruídas e 31% do seu curso natural alterado. Analisamos o Programa Desassorear RS, alertando que dragar rios sem restaurar suas margens é enxugar gelo. E no Dia Mundial do Meio Ambiente, reforçamos: não basta homenagear, é preciso transformar.
Hoje, ao chegar à 15ª coluna, olho para trás e percebo que cada tema abordado nos levou um passo adiante na construção de um debate mais maduro e profundo sobre sustentabilidade. Através das palavras, tenho buscado conectar dados, histórias, pessoas e territórios. Mostrar que o meio ambiente não é um setor isolado é a base sobre a qual toda sociedade se constrói.
Falar de meio ambiente é falar de saúde pública, de segurança alimentar, de justiça social, de economia, de cultura e de identidade. É atravessar fronteiras políticas e ideológicas para tratar de algo que nos é comum: a vida em equilíbrio. E quando tratamos o meio ambiente com seriedade, entendemos que cada rio preservado é um gesto de cuidado com quem mora em suas margens; que cada área verde protegida é uma política de saúde preventiva; que cada ação de reciclagem é um passo rumo a uma economia circular, inclusiva e regenerativa.
Esses 15 textos, publicados semanalmente, têm sido um convite à reflexão e, mais do que isso, um chamado à ação. Porque é fácil se sensibilizar diante de uma tragédia, mas é mais difícil, e mais necessário, manter o compromisso com a prevenção, com a fiscalização, com a educação e com o planejamento. Sustentabilidade não se faz apenas com intenção; ela exige constância, responsabilidade e coragem para enfrentar interesses que ainda insistem em tratar a natureza como obstáculo e não como origem.
É por isso que, hoje, reafirmo: o jornalismo ambiental tem papel estratégico na construção de uma sociedade mais consciente. Ele informa, denuncia, mobiliza, mas também propõe caminhos. E enquanto houver espaço para a palavra escrita, haverá espaço para a transformação. Que essa 15ª coluna não seja um ponto de chegada, mas mais um ponto de partida nessa caminhada de sensibilização e compromisso. Porque, no fim das contas, falar sobre meio ambiente é falar sobre tudo e é esse tudo que está, pouco a pouco, pedindo socorro.
E hoje, a primeira edição impressa da Enfoco nasce nesse cenário: um momento em que o jornalismo precisa se manter vigilante, investigativo e propositivo. E é uma honra fazer parte disso. Que este espaço continue sendo ponto de encontro entre informação e transformação.
A cada semana, seguimos relembrando que a natureza fala. E quando ignoramos seus sinais, ela grita.