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Mofo: o inimigo invisível que mora com você

Manchas aveludadas, odor forte e crescimento rápido. Essas são algumas das características do mofo, um inimigo silencioso que pode se instalar nas residências quase sem ser notado. Comum em ambientes úmidos e mal ventilados, o mofo vai muito além do incômodo estético: ele representa uma ameaça dupla, à saúde dos moradores e à integridade das construções. Em ambos os casos, o impacto é direto na qualidade de vida.

Mas afinal, o que é o mofo?

Não é pouco comum vermos manchas esverdeadas, acinzentadas ou pretas no teto dos banheiros, nas paredes do quarto ou no fundo do guarda-roupa. Este é o mofo, uma manifestação visível da ação de fungos microscópicos que se alimentam de matéria orgânica presente em superfícies como madeira, papel, tecido, tinta, gesso e até poeira. 

Quando o ambiente tem alta umidade, pouca ventilação e temperatura amena ou quente, os fungos, que estão naturalmente presentes no ar, encontram as condições ideais para se fixar e crescer. Ali, eles começam a “digerir” a superfície da estrutura, ou seja, a decompor o material orgânico presente nela. Esse processo de digestão e reprodução é o que gera as manchas escuras que chamamos de mofo.

O mofo começa no projeto

O mofo nas residências começa muito antes de a primeira mancha aparecer. Ele surge ainda na fase de projeto, com falhas que favorecem a falta de ventilação, drenagem inadequada e a escolha errada de materiais. O resultado são ambientes propícios à umidade. A arquiteta Rafaela Ferrigolo explica que um dos principais fatores é a falha na impermeabilização de superfícies como pisos, lajes e paredes durante a construção.

Dentro de casa, alguns cômodos são especialmente vulneráveis à umidade. Banheiros sem ventilação natural, áreas de serviço mal planejadas, armários embutidos e quartos com infiltrações.

“A falta de ventilação natural aumenta a probabilidade de mofo nos ambientes, pois impede que a umidade seja eliminada. A melhor forma para evitar esse problema é pensar em estratégias de ventilação cruzada durante o projeto” orienta Rafaela. E complementa: “janelas em extremidades opostas da edificação cria correntes de ar dentro do espaço e permite a circulação de ar em todos os ambientes”.

A arquiteta também alerta para o uso inadequado de materiais porosos, como madeira, gesso, concreto e cerâmica, que absorvem umidade com facilidade se não forem bem protegidos.

“Um erro comum é a tentativa de economizar na impermeabilização, o que compromete a durabilidade da construção. Além disso, ignorar as indicações de uso dos materiais pode gerar sérios problemas.” – reforça Rafaela.

Como prevenir o mofo dentro de casa

– Posicionamento da casa: Ambientes úmidos (como banheiros) e os mais usados (como salas) devem estar voltados para o norte. Essa orientação recebe mais luz solar durante o dia, o que ajuda a reduzir a umidade e inibe o crescimento de mofo.

– Evite materiais porosos sem proteção: Madeira crua, gesso exposto, tecidos que absorvem muita umidade. Prefira materiais impermeabilizados ou com tratamento antifúngico, especialmente em áreas úmidas.

– Invista em isolamento térmico: ajuda a manter a temperatura estável e evita o acúmulo de umidade por condensação, uma das principais causas de mofo.

– Ventilação natural planejada: Promova a entrada e saída de ar em todos os cômodos. Isso reduz a chance de mofo.

– Ventilação em horários estratégicos: No outono e inverno ventile ao meio-dia. Na primavera e verão opte pela manhã e fim da tarde.

– Use desumidificadores e equipamentos de ventilação: Os desumidificadores são ideais para ambientes com pouca ventilação natural, como closets, porões e banheiros internos. Já ventiladores e exaustores são ótimas opções em cozinhas e banheiros para renovar o ar e expulsar o excesso de umidade. Utilize quando a ventilação natural não é suficiente.

Dica extra: Hoje em dia há desumidificadores com design moderno que podem integrar bem à decoração.

Riscos à saúde

O mofo é um dos principais agravantes de doenças respiratórias alérgicas. Sua presença nos ambientes internos está diretamente relacionada à sintomas como tosse, espirros, congestão nasal e até falta de ar. Para entender melhor os impactos do mofo na saúde, especialmente durante o inverno, a enFoco conversou com a médica pneumologista Keli Cristina Mann, especialista em endoscopia respiratória da Unidade Clínica do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM).

Segundo ela, “os pacientes ao inalar os esporos do mofo, que é uma doença fúngica, dos mais variados fungos, têm piora das doenças respiratórias, principalmente asma, rinite, e sinusite. A exposição prolongada pode até alterar a resposta inflamatória dos pacientes e provocar infecções bacterianas ou fúngicas, por exemplo, a pneumonia”. A médica ressalta que mesmo quem não tem histórico alérgico pode, com o tempo, desenvolver reações

Embora o mofo possa afetar qualquer pessoa, os grupos mais vulneráveis são as crianças pequenas e os idosos. Nos pequenos, o sistema imunológico ainda está em desenvolvimento, por isso apresentam dificuldade no uso de medicações. Já os idosos costumam ter doenças associadas, como diabetes, hipertensão ou problemas cardíacos, que se agravam com infecções respiratórias.

Durante os meses mais frios do ano, o problema tende a se intensificar. Casas fechadas, pouca ventilação e umidade favorecem o crescimento do mofo — e, consequentemente, o aumento de sintomas respiratórios. “Há um aumento importante na procura por atendimento, tanto em emergências quanto em consultórios, unidades de saúde básica e SUS. As pessoas ficam mais tempo expostas ao mofo dentro de casa”, relata a pneumologista.

Sintomas e reações mais comuns

Entre os sintomas observados estão a tosse (especialmente matinal), congestão nasal, crises de asma e bronquite, coriza e espirros constantes e dermatite atópica, especialmente em crianças. Nos casos mais severos, pode haver irritabilidade em bebês e piora de doenças neurológicas em idosos após infecções respiratórias.

Diagnóstico e tratamento

Para confirmar a relação entre mofo e doenças respiratórias, os exames incluem:

  • Hemograma completo, com atenção aos eosinófilos
  • Espirometria, para avaliar a função pulmonar (em crianças a partir dos 6 anos)
  • Dosagem de IgE total e específica, como para o fungo Aspergillus

O tratamento envolve o controle das doenças de base, como asma e rinite, o uso de medicações apropriadas e a vacinação contra infecções respiratórias, como a gripe (influenza) e a pneumonia pneumocócica. Além disso, é fundamental eliminar o mofo do ambiente, evitando a exposição contínua. “A primeira medida é sair do ambiente contaminado e resolver os problemas estruturais do imóvel”, reforça a médica. 

Combater o mofo deve ser uma prioridade em qualquer época do ano, e ainda mais durante o inverno. Manter os ambientes bem ventilados, evitar o acúmulo de umidade e realizar limpezas frequentes são medidas simples, mas eficazes, para manter longe esse inimigo invisível que compromete a qualidade de vida e da casa.

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