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Quando o lixo transborda: o peso coletivo da irresponsabilidade individual.

Imagine acordar com a água invadindo sua casa, seus móveis boiando, sua rua intransitável. Imagine perder documentos, eletrodomésticos, parte da sua história… tudo porque uma simples garrafa pet foi jogada no lugar errado. Agora multiplique isso por mil. Por mês. Essa é a realidade que vivemos hoje em Santa Maria e em tantas outras cidades brasileiras, onde o descarte irregular de lixo se tornou não apenas uma prática comum, mas um problema de saúde pública, segurança climática e colapso urbano.

De acordo com uma reportagem publicada essa semana, o município gasta mais de R$ 2,5 milhões por mês para recolher resíduos sólidos descartados de forma indevida. São entre 800 e 1.000 toneladas de lixo recolhidas mensalmente fora do sistema formal de coleta em terrenos baldios, beiras de córregos, calçadas, bueiros e esquinas de bairros. Um volume assustador que revela muito mais do que um problema logístico: denuncia um fracasso coletivo em lidar com algo básico, cotidiano e essencial: o nosso próprio lixo.

E não estamos falando apenas de estética urbana. Estamos falando de enchentes evitáveis, doenças transmitidas por vetores como ratos, mosquitos e baratas, prejuízo à infraestrutura urbana e contaminação de solos e águas. O descarte irregular de resíduos compromete a drenagem, entope bocas de lobo, dificulta a passagem da água nos canais, e transforma córregos em depósitos de entulho. Quando a chuva chega (e ela tem chegado cada vez com mais intensidade, como vimos nas enchentes de 2024 e nas tempestades de junho deste ano) o resultado é devastador.

Diante disso, é urgente reconhecer: não é a chuva que causa a tragédia. É o lixo. Somos nós.

Enquanto sociedade, falhamos em educar, fiscalizar e estruturar políticas públicas que deem conta da complexidade dos resíduos urbanos. Mas falhamos, principalmente, quando normalizamos o descarte irresponsável como se ele fosse invisível. Uma sacola jogada no chão pode parecer inofensiva. Mas quando centenas de milhares de pessoas fazem isso todos os dias, o efeito é catastrófico.

Santa Maria está pagando caro por essa negligência. E quando falamos “Santa Maria”, falamos dos cofres públicos, dos recursos que poderiam estar indo para educação, saúde, moradia, mas que estão sendo usados para limpar aquilo que nunca deveria estar sujando.

Mais do que indignação, é preciso ação.

  • O que fazer?

A primeira resposta está na educação ambiental, e ela não deve ser limitada às escolas. É necessária uma mobilização comunitária, com campanhas públicas constantes, presença nas comunidades, rodas de conversa nos bairros, ações integradas entre prefeitura, empresas, universidades e organizações sociais. Educar é formar consciência, é tornar visível o impacto do que parece pequeno.

A segunda resposta está na infraestrutura de descarte e coleta seletiva. Muitas pessoas ainda jogam lixo em locais inadequados por falta de opção. É preciso ampliar os pontos de coleta, facilitar o acesso da população a contêineres, programar mutirões regulares e descentralizados de recolhimento de volumosos, fortalecer a atuação das cooperativas de reciclagem e valorizar os catadores como agentes ambientais.

A terceira resposta está na fiscalização inteligente e justa. O poder público precisa agir com firmeza contra o descarte irregular, mas também com equidade, entendendo as vulnerabilidades sociais envolvidas. Multas, quando aplicadas, devem ser acompanhadas de orientação. E a legislação precisa avançar para responsabilizar também quem lucra com o problema, como empresas que descartam entulho em áreas proibidas.

E, por fim, a resposta mais poderosa está na mudança individual. Porque tudo começa com uma escolha. A escolha de não jogar lixo pela janela do carro. A escolha de não abandonar um sofá no terreno ao lado. A escolha de separar o lixo reciclável. A escolha de cuidar da cidade como extensão da sua casa.

Cuidar dos resíduos é cuidar da vida. É proteger os cursos d’água, é garantir que as chuvas não tragam desespero, é reduzir os riscos de epidemias, é respeitar o trabalho dos profissionais da limpeza, é preservar os ecossistemas urbanos que ainda resistem entre o concreto. É, no fim das contas, respeitar o outro. Numa época em que falamos tanto de sustentabilidade, o básico ainda é urgente: não jogar lixo onde não se deve. Que essa verdade tão simples não seja esquecida. Porque o próximo alagamento não será culpa do clima. Será culpa da nossa omissão.

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