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Quando as crianças viram produto e a sociedade aplaude

Era uma vez uma época em que ser criança significava ter os joelhos ralados, pular amarelinha e os dias marcados pela invenção de mundos imaginários. Hoje, ser criança, para muitos, é ter um perfil no Instagram antes mesmo de saber amarrar os sapatos, é dançar coreografias sensuais com hashtags de viralização e carregar na mochila não apenas livros, mas a pressão por likes e a ansiedade de um corpo que ainda nem sabe o que é ser corpo.

A adultização infantil não é um fenômeno novo, mas ganhou contornos perversos na era digital. Crianças de 8 anos preocupadas com “skincare”, meninas de 9 ansiosas por cremes antirrugas, meninos expostos a jogos violentos e conteúdos pornográficos. Tudo isso sob o olhar complacente de algoritmos que monetizam a atenção infantil. As redes sociais, em vez de espaços de brincadeira, viraram vitrines onde a infância é performada para adultos, muitas vezes com conotações que beiram a exploração. O caso do influenciador Hytalo Santos, que transformou adolescentes em personagens de um reality show sexualizado, é só a ponta do iceberg.

O pior é a naturalização disso. Achamos “fofo” quando uma criança repete gestos de adultos, mas não questionamos quem está consumindo esses vídeos. Plataformas como TikTok e Instagram facilitam a exposição: 88% das crianças entre 9 e 17 anos já têm redes sociais, muitas acessando conteúdos inapropriados porque os controles parentais são frágeis ou inexistentes. E enquanto os algoritmos promovem vídeos de meninas dançando de forma erotizada, pedófilos usam códigos como “trade” para trocar material ilegal nos mesmos espaços .

A psicóloga Ana Beatriz Chamat alerta: a adultização gera adultos inseguros, com baixa autoestima e dificuldade de formar vínculos saudáveis . A juíza Vanessa Cavalieri compara a internet a “uma rua escura, cheia de criminosos” e pergunta: Por que largamos nossas crianças lá sozinhas?.

Precisamos urgentemente frear essa máquina. Exigir que plataformas priorizem proteção, não lucro. Relembrar que infância não tem replay. E, sobretudo, devolver às crianças o direito de ser apenas isso: crianças. Antes que o único “era uma vez” que restará seja o de uma geração que nunca pôde viver sua própria história.

A infância é um direito, não um espetáculo.

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