Santa Maria possui uma longa tradição no setor de confecções, um segmento que há décadas movimenta a economia local, gera empregos e impulsiona o desenvolvimento social. Entretanto, essas empresas enfrentam um gargalo histórico que se mantém até hoje: a escassez de mão de obra capacitada.
Apesar da abundância de vagas de emprego abertas no ramo têxtil, muitas delas permanecem em busca de profissionais qualificados para funções que exigem habilidade prática e conhecimento específico. Esse déficit pode ser explicado por diversos fatores:
- A falta de cursos de formação continuada na cidade;
- A desvalorização social de profissões ligadas à costura;
- A migração de trabalhadores para setores considerados mais atrativos;
- A ausência de estímulos para jovens ingressarem nesse mercado.
Superar esse desafio exige a união de forças. Instituições públicas, universidades, escolas técnicas, associações empresariais, entidades representativas e iniciativa privada precisam somar esforços para que cursos profissionalizantes voltados ao setor têxtil sejam implementados e atualizados conforme as novas demandas do mercado. Além disso, parcerias com o Sistema S e convênios com empresas poderiam aproximar ainda mais a formação acadêmica das necessidades reais da indústria.
Nesse sentido, a construção do Arranjo Produtivo Municipal (APM), iniciativa liderada pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Inovação da Prefeitura de Santa Maria, surge como uma oportunidade concreta. O APM está sendo estruturado para mapear os principais gargalos do segmento, identificar soluções e, com participação ativa das indústrias locais, promover medidas que potencializem a competitividade e a sustentabilidade do setor.
Outro ponto estratégico, que algumas indústrias já adotaram com sucesso, é a diferenciação dos produtos locais e a valorização de sua percepção de qualidade pelos consumidores. Isso pode ser alcançado por meio do design autoral, da aposta em tendências de moda, da criação de coleções exclusivas e da comunicação que evidencie os atributos das peças produzidas em Santa Maria — como durabilidade, acabamento e identidade cultural.
A realização de feiras, exposições e eventos temáticos também pode ampliar a visibilidade do setor e atrair o interesse dos consumidores. Ao proporcionar experiências de moda em nível local, essas iniciativas fomentam o consumo consciente e reforçam a importância de apoiar quem produz na cidade.
Um exemplo inspirador é o trabalho realizado pelo Curso de Design de Moda da Universidade Franciscana (UFN), que recentemente promoveu o Fashion Première. O evento apresentou desfiles de coleções criadas pelos acadêmicos, permitindo a eles vivenciar, na prática, todas as etapas de desenvolvimento de um produto de moda — desde a concepção criativa até a produção e a apresentação final. Iniciativas como essa não apenas fortalecem a formação dos estudantes, mas também aproximam a academia da indústria, estimulando novos talentos a ingressarem no mercado.
Diante da concorrência desleal da indústria chinesa, que inunda os grandes marketplaces com milhões de peças de baixo custo, as confecções locais demonstram resiliência e coragem ao seguir empreendendo. É motivo de orgulho ver que, mesmo diante de tantos desafios, Santa Maria mantém a força de sua indústria do vestuário, capaz de resistir, se reinventar e continuar contribuindo para o desenvolvimento da cidade e da região.