Enquanto a cidade tenta crescer, o transporte público de Santa Maria parece seguir na direção contrária: a do abandono. A recente paralisação, que afetou cerca de 15 mil passageiros, escancarou um problema que a população conhece bem e que vem sendo empurrado com a barriga há décadas.
Hoje, quem depende dos ônibus enfrenta uma rotina de veículos quebrados, atrasos constantes e superlotação. Quantos ônibus em Santa Maria já não pegaram fogo? E o mais absurdo: a passagem, atualmente em R$5,00, já pesa no orçamento de quem trabalha, estuda e luta para manter a dignidade em tempos difíceis. Agora, as empresas de transporte querem ainda mais: propõem reajustar o valor para até R$7,53. Santa Maria já possui uma das tarifas mais caras do Estado e pode ficar ainda pior. Para quê? Uma afronta diante da realidade miserável do serviço prestado.
Não há renovação significativa da frota. Não há aumento real de linhas ou de horários. O que existe é uma estrutura envelhecida, sucateada e resultado de um descaso institucionalizado.
E o pior: o transporte coletivo de Santa Maria permanece nas mãos das mesmas empresas há mais de cinquenta anos sem licitação. Enquanto cidades modernas discutem integração, inovação e qualidade, Santa Maria ainda carrega nas costas um sistema de concessões ultrapassado, fechado, sem concorrência real. Isso desestimula qualquer melhoria de verdade. Por que Santa Maria está sempre atrasada?
A prefeitura, por sua vez, tenta manter a tarifa artificialmente controlada por meio de subsídios pagos com dinheiro público. Uma solução paliativa que não resolve o problema principal. O modelo atual de transporte está falido. Sem concorrência, sem cobrança eficiente e sem um plano sério de mobilidade urbana, o colapso é inevitável. E quem paga essa conta é, mais uma vez, o cidadão comum.
Não é aceitável que, em pleno 2025, uma cidade universitária que atrai milhares de estudantes e trabalhadores todos os anos ofereça um transporte público de má qualidade e ainda mais caro. Também não é aceitável que a resposta para a falência do serviço seja simplesmente jogar a fatura nas costas da população com aumentos abusivos.
Santa Maria precisa urgentemente de uma nova licitação para o transporte público, baseada em critérios técnicos rigorosos, transparência, fiscalização ativa e metas de qualidade. Precisa modernizar sua frota, rever suas linhas, dialogar com quem usa o sistema todos os dias. Precisa entender que transporte público é direito, não privilégio.
Enquanto isso não acontecer, cada paralisação, cada ônibus quebrado e cada aumento de tarifa será mais uma prova de que Santa Maria falhou com sua população e continua parada no tempo.








