No momento em que escrevo este texto, as penas ainda estão sendo fixadas. Confesso que não sou uma pessoa de muita fé, mas nunca duvidei da mesma. Dentre os personagens bíblicos, destaco Salomão e Moisés. Salomão, em uma passagem do Velho Testamento, quando questionado por Deus sobre o que desejaria pedir, escolheu a sabedoria. Moisés orientou, guiou e aconselhou seu povo por 40 anos no deserto.
Moisés não tinha a força das redes sociais, dos grupos de WhatsApp, nem mesmo da comunicação por rádio. Pelo que a história conta, também não tinha o dom da oratória, por ser gago. O que moveu Moisés foi a força que move os grandes homens: a fé. A fé é o que nos resta.
O Brasil passa por seu período mais delicado desde o suicídio de Vargas e a deposição de Jango. Os partidos políticos não merecem confiança: advogam em causa própria ou em interesse de alguém. Temos um Congresso e um Senado acovardados pela opinião pública.
A instabilidade política é benéfica para o capital especulativo e para os grandes bancos, mas avassaladora para o câmbio, a inflação, o desemprego e os juros. O capital especulativo ganha com o câmbio e com os juros (tem informação privilegiada), compra e vende ações na mesma rapidez com que as penas são votadas.
No dia 8 de janeiro, muitos dobraram, triplicaram ou até quadruplicaram seus lucros. O câmbio alto pressiona os preços internos (medicamentos, energia, eletroeletrônicos e até mesmo o pão francês), ou seja, gera inflação, aumento contínuo e generalizado dos preços. Câmbio alto e inflação alta devem frear a queda na taxa de juros, o que significa estagnação do consumo — este já se locomove a passos de tartaruga.
A fé em Deus, a fé em um conjunto de ideias, a fé em um projeto político, a meu ver, chegou ao fim. Uma reforma política talvez seja o caminho, mas o problema é que não temos um Moisés para nos guiar neste deserto que parece não ter fim.
Mateus Sangoi Frozza
Economista / Professor Universitário / Consultor Financeiro