“Entre todas as árvores, o primeiro lugar é reservado à oliveira.” A frase do estudioso romano Giulio Moderato Columella, do século I a.C., ilustra a importância milenar dessa árvore, cujos frutos e azeite foram essenciais na alimentação, medicina, higiene e até na iluminação da Roma Antiga. Séculos depois, a oliveira volta a simbolizar prosperidade — desta vez, em território gaúcho. Além disso, a oliveira carrega um forte simbolismo histórico e espiritual desde os tempos bíblicos. Na Bíblia, ela representa paz, bênção e fecundidade; o ramo de oliveira é até utilizado como símbolo de esperança, como quando a pomba levou um ramo de oliveira para Noé após o dilúvio, anunciando o fim das águas e o recomeço da vida. Essa forte tradição mostra que a oliveira é muito mais que uma árvore produtiva: é um símbolo de renascimento e prosperidade que atravessa milênios.
Expansão no campo
O Rio Grande do Sul lidera a olivicultura brasileira, com 6.200 hectares plantados em 110 municípios e 325 produtores. As principais áreas produtoras estão em Cachoeira do Sul, São Sepé, Encruzilhada do Sul, Pinheiro Machado, Canguçu, Caçapava do Sul, Santana do Livramento, Bagé, São Gabriel, Viamão e Sentinela do Sul.
O cultivo de oliveiras no Estado começou de forma experimental em Uruguaiana, com mudas vindas da Argentina. Em 1948, a atividade foi oficialmente introduzida com apoio do governo estadual, que distribuiu mudas aos produtores. Mas o verdadeiro impulso veio a partir de 2005, quando a Secretaria da Agricultura trouxe mudas de um viveiro espanhol e tecnologia de cultivo adaptada ao clima gaúcho. Em parceria, Embrapa e Emater/RS-Ascar iniciaram a capacitação de técnicos e produtores, ampliando o conhecimento sobre a cultura.
Desde então, o setor passou a se estruturar institucionalmente, com a criação do Grupo Técnico de Pesquisa e Extensão em Olivicultura (2008), da Câmara Setorial da Olivicultura (2012) e da Abertura Oficial da Colheita de Olivas, promovida anualmente pela Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi). Em 2015, o Programa Estadual de Desenvolvimento da Olivicultura (Pró-Oliva) consolidou o apoio governamental e privado à cadeia produtiva.
Panorama nacional
O Brasil conta hoje com cerca de 10 mil hectares de oliveiras cultivadas, distribuídas entre mais de 550 produtores em 200 municípios. Além do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Minas Gerais também se destacam na produção de azeite e azeitonas de mesa.
Azeite gaúcho conquista o mundo
Apesar de jovem, a produção gaúcha já acumula reconhecimentos internacionais pela qualidade do azeite extra virgem. Em 2023, foram produzidos 580 mil litros, volume que caiu nos anos seguintes devido ao excesso de chuvas — 193 mil litros em 2024 e 190 mil em 2025.
Mesmo com as adversidades climáticas, o setor mantém ambições elevadas. Produtores apostam na expansão gradual e no aperfeiçoamento tecnológico para, no longo prazo, alcançar níveis de produção semelhantes aos líderes mundiais — Espanha (40% da produção global), Itália (22%) e Grécia (14%).
Olivoturismo: o azeite como experiência
A olivicultura também abriu espaço para uma nova vertente econômica: o olivoturismo. A proposta é aproximar visitantes do processo de cultivo das oliveiras e da produção do azeite, oferecendo degustações e vivências nas propriedades.
No site da Seapi, há 18 empreendimentos cadastrados, sendo três na região Central do Estado. Além de fortalecer o vínculo entre consumidor e produtor, o olivoturismo tem se mostrado uma fonte de renda complementar e uma forma de sustentar economicamente os olivais nos primeiros anos de produção.
Desafios e perspectivas
Embora o Brasil produza azeites de excelência, a oferta de azeitonas ainda é limitada. Para superar esse gargalo, Emater/RS-Ascar, Seapi, Embrapa, Ibraoliva e produtores intensificam ações voltadas à melhoria genética das mudas, manejo sustentável e defesa sanitária das plantações.
O trabalho integrado do Pró-Oliva tem sido fundamental para orientar produtores e fortalecer a cadeia produtiva, consolidando a olivicultura como um novo vetor de desenvolvimento econômico sustentável no Rio Grande do Sul.








