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A morte e o amor que fica

A morte ainda é um tabu. Evitamos falar sobre ela, como se calar fosse suficiente para mantê-la distante. Quando pensamos na nossa própria finitude, sentimos um desconforto inevitável.

Mas, para quem tem animais de estimação, há algo ainda mais doloroso: encarar a morte deles com mais frequência do que gostaríamos.

Eles vivem menos. Essa é uma das poucas certezas tristes que acompanham a alegria de ter um pet. Vivemos os ciclos da vida deles em ritmo acelerado: a energia da juventude, a doçura da maturidade, os sinais do envelhecimento, o adoecimento e, por fim, a despedida.

Para muitos tutores, perder um animal é a primeira experiência real de luto. E não raro, essa dor é subestimada. “Era só um cachorro”, dizem. Mas não era. Era parte da rotina, da família, do afeto mais puro. A perda de um pet nos joga de frente com a impermanência  e nos faz lembrar, mesmo que inconscientemente, da nossa própria vulnerabilidade.

No consultório, vejo tutores com os olhos marejados diante de um diagnóstico terminal, ou segurando as patas dos seus companheiros nos últimos suspiros. Nessas horas, não há palavras que confortem por completo, mas há uma verdade que sustenta: o amor que demos e recebemos foi real.

Talvez esse seja o maior ensinamento dos animais, viver o presente, amar sem reservas, estar inteiro enquanto se está aqui. Eles não temem a morte como nós. Eles simplesmente vivem, até o fim. E nos mostram, com simplicidade e dignidade, que o ciclo da vida pode ser doloroso, mas também profundamente bonito.

Se aprendermos a enxergar a morte com menos medo e mais compreensão, talvez possamos vivenciar cada fase, nossa e dos nossos companheiros, com mais leveza, presença e gratidão.

Redação enFoco

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