Há tempo disponível para que as crianças e jovens nas escolas básicas tenham pleno acesso ao patrimônio cultural potencialmente veiculado pela educação física? Defendo aqui a proposição de que esse tempo tem se caracterizado pela marca de uma preocupante escassez. Além de muitos professores de educação física lidarem com condições de espaço e de recursos inadequados, o fator tempo tem sido determinante para que as experiências com as atividades corporais sejam insuficientes para crianças e jovens. Resultado? Maiores riscos associados à formação de condutas aversivas à atividade física e favoráveis ao sedentarismo.
O patrimônio cultural vinculado à missão da educação física na escola está relacionado com três formas de aprendizagem, a saber: a aprendizagem do movimento, a aprendizagem por meio do movimento e a aprendizagem sobre o movimento. O tempo de aula aproximado de 50 minutos, bem como a baixa frequência de aulas de educação física durante a semana, têm constituído um desafio para professores de educação física que buscam criar condições para que o referido patrimônio seja acessado e assimilado pelas gerações mais jovens de acordo com essas três modalidades de aprendizagem.
Considerando que o apoio à aprendizagem do movimento, por exemplo, é tarefa essencial do ensino em educação física, como desenvolvê-lo com tão escasso tempo por meio do trabalho pedagógico com as unidades temáticas preconizadas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que abrange os mais variados jogos, desportos, danças, lutas, ginásticas e práticas de aventura?
Alguns pesquisadores apontam que, para encontrar uma solução diante das referidas condições temporais de trabalho, o docente deveria mudar o foco com relação à modalidade de aprendizagem do movimento. Tratar-se-ia ajudar os alunos a melhorar a qualidade de suas habilidades motoras, de seus gestos de movimento, através de dicas verbais bem direcionadas de aprendizagem, a fim de que os alunos possam melhor canalizar cognitivamente sua atenção para o aprimoramento de habilidades motoras, incluindo especialmente momentos em que pratiquem atividades corporais extraescolares.
Mas, como dissemos, é missão da educação física apoiar pedagogicamente também as aprendizagens sobre o movimento e por meio do movimento, a fim de que o patrimônio da educação física seja mais plenamente apropriado e usufruído pelas gerações mais jovens. Para isso, o docente deve ter conhecimentos sólidos sobre a história dos desportos e das danças, as implicações das atividades corporais para a formação do caráter, as possibilidades de uso adequado de informações e de atividades de natureza lúdica para atingir a melhoria das habilidades motoras, entendidas aqui como fatores preditores da aquisição e manutenção de estilos de vida saudáveis ao longo da vida etc.
A fim de que todo esse trabalho seja realizado com esmero, além de reafirmarmos nosso compromisso com o aprimoramento constante da formação profissional em conexão com as demandas de um mundo complexo e em rápida aceleração, é fundamental que nos conscientizemos de que a educação física merece mais espaço e tempo nas escolas. O vasto patrimônio cultural que essa disciplina potencialmente pode veicular pode cumprir um papel decisivo para a saúde e a qualidade de vida futura dos cidadãos em formação na educação básica.









1 Comentário:
Adorei, a revista precisa trazer mais conteúdos como este.