Você já percebeu como tem crescido o número de crianças agindo como adultos, e, ao mesmo tempo, de adultos tentando reviver a infância? A adultização das crianças se tornou tema de debates e vídeos virais, e não é à toa: estamos diante de uma inversão preocupante. Meninas e meninos que deveriam estar brincando estão sendo expostos a discursos, roupas e responsabilidades emocionais que não cabem à sua idade. Muitas vezes, isso não acontece só nas redes sociais, mas dentro das casas, com filhos ocupando o lugar de consolo e estabilidade emocional dos pais.
Na visão sistêmica, essa inversão dos papéis acontece quando os adultos deixam de ocupar seu lugar. Pais e mães, muitas vezes feridos emocionalmente, projetam em seus filhos a necessidade de cuidado, acolhimento e companhia, fazendo com que as crianças passem a cuidar de quem deveria cuidar delas. Isso gera uma ruptura: a criança deixa de ser filha e passa a ser “parceira emocional”, crescendo antes da hora, com culpas que não lhe pertencem.
Por outro lado, cresce também o número de adultos que não querem crescer. Adultos que buscam conforto em objetos infantis como bebês reborns ou até chupetas, não como afeto simbólico, mas como fuga da realidade. São homens e mulheres que não conseguiram amadurecer emocionalmente, e que, sem suporte, voltam inconscientemente para a infância como forma de evitar as dores do presente.
Esse movimento revela uma grande dor coletiva: a ausência de referências adultas inteiras e disponíveis emocionalmente. Quando a dor da vida adulta é evitada, e a criança interior ferida comanda nossas decisões, deixamos de oferecer às novas gerações o chão firme que elas precisam. E, no campo sistêmico, essa ausência de estrutura desequilibra todo o sistema familiar.
Resgatar a ordem começa com consciência. É papel dos adultos ocuparem seu lugar com maturidade, reconhecendo suas dores, buscando apoio e se responsabilizando por si. Só assim, as crianças poderão voltar a ser crianças. E o sistema, enfim, encontrará descanso e equilíbrio.
Hoje te convido realizar um exercício sistêmico: Faça se e somente se fizer sentido para ti.
Exercício Sistêmico: “Meu Lugar, Seu Lugar”
Esse exercício é feito com palavras, presença e verdade. Pode ser realizado em pé, um de frente para o outro (pai/mãe e filho), ou com objetos simbólicos (como bonecos, almofadas ou papéis com nomes).
Passo 1: Reconhecendo os lugares
O adulto olha para a criança (filho/filha) e diz com calma e firmeza:
“Eu sou o adulto.
Você é meu filho/minha filha.
A responsabilidade da nossa história é minha, não sua.
Você não precisa cuidar de mim.
Sou eu quem cuido de você.”
Pausa. Respire fundo. Permita que as palavras sejam sentidas antes de continuar.
Passo 2: Devolvendo o que não é da criança
Se sentir, o adulto pode continuar:
“Tudo que você tentou carregar para me ajudar, eu recebo de volta agora.
Obrigada(o) por tentar — mas agora você pode apenas ser criança.”
Se for feito com objetos, o adulto simbolicamente “tira” algo das mãos da criança (um peso imaginário) e diz: “Isso é meu. Eu cuido disso agora.”
Passo 3: Acolhendo a nova ordem
A criança, se for possível e natural (não forçada), pode dizer:
“Obrigada(o) por ser meu pai/minha mãe.
Eu posso ser só sua filha/seu filho agora.”
Se não houver resposta, tudo bem. O mais importante é o adulto fazer o movimento interno.
Recomendações importantes:
- Esse exercício pode ser feito em silêncio, apenas com gestos e intenções, se as palavras forem difíceis.
- Também pode ser feito de forma simbólica, com cartas escritas, ou sozinho, representando o filho (caso ele seja pequeno ou não esteja presente).
- O mais importante é o movimento interno do adulto de assumir a responsabilidade que lhe cabe e liberar a criança do peso.
Se esse movimento fizer sentido para você o faça e depois me conta no direct do meu Instagram será muito bom falar com você bjs da Michi.
Michi Milanni – Enfermeira, Terapeuta Sistêmica Empresarial e CEO do movimento Empreendedorismo e Elas.