Mulher, mãe e advogada, Eizzi Melgarejo trilhou seu caminho com empatia e coragem de recomeçar
Por Anna Clara Tesche / Foto: Marcelo Brum
Desde pequena, Eizzi já demonstrava sinais de quem viria a ser quando crescesse. Foi uma menina curiosa, argumentativa, intensa e com um forte senso de justiça. Era daquelas crianças que não se contentavam com respostas rasas. Queria entender os “porquês” de tudo. “Sempre tive espírito justiceiro”, lembra ela, sorrindo.
Criada em vila militar, sua infância foi marcada por constantes mudanças de cidade. Isso dificultava vínculos longos com amigos o que até a chateava, mas que ao passar do tempo notou que nessas mudanças, se oferecia uma bagagem cultural rica e variada, cada lugar era uma nova oportunidade de fazer amigos, de conhecer culturas, cidades, o que fez a mesma entender que na vida tudo é uma construção, e adaptação ao novo. Com um pai, militar mas muito amoroso, e a mãe, professora dedicada, Eizzi dividia a casa com seu irmão mais novo, a convivência com o irmão, com quatro anos de diferença, era intensa – amor e ódio. “A gente era gato e rato na infância, depois ele se tornou meu parceiro de debates”. Hoje vejo isso na relação do Pietro com o Theo, meus filhos mais velhos’”, conta rindo. Ao observar os filhos repetirem sua história, a empatia pela própria infância amadurece. A irmã mais velha de ontem compreende a mãe mais compreensiva de hoje. A pequena futura advogada sempre esteve em meio a essas figuras fortes, a pequena Eizzi cresceu afiada, observadora e cheia de perguntas, pronta para buscar as respostas de todos os seus porquês.
O Direito que escolheu Eizzi
No ensino médio, seu amor por leitura e redação só cresceram, mas foi nessa época que surgiu um certo flerte por farmácia, já que entre as exatas, química era a matéria que mais gostava. Mas seu destino já estava traçado, sendo uma fã nata de séries criminais, investigação, como Law & Order e Dexter, e outras séries que envolviam questões de justiça do canal Discovery Channel, e seu jogo favorito sendo “detetive”, Direito era faculdade ideal que conquistaria Eizzi, seja pelo senso investigativo, pela humanidade que a mesma carregava, e a sua vontade de fazer a diferença.
Ela entrou na faculdade com olhos brilhando para o Direito Penal, já que seu amor por direito investigativo a levou para esse caminho, mas foi com o decorrer das cadeiras que foi se deparando com a realidade, viu que podia ir além, assim se apaixonou por muitas áreas do direito, mesmo tendo sua paixão por direito criminal, que a mesma acha lindo sua teoria, notou que na prática era diferente, e que muitas coisas iam longe de seus princípios, tomou uma decisão difícil mas necessária. Ao finalizar a graduação, onde ficou focada no direito criminal, decidiu não seguir carreira na área. Mas, outro amor se estabeleceu no âmbito profissional: o Direito civíl. Foi quando notou a extensão que se tem nessa temática, descobriu então o Direito de Família, área onde encontrou sentido, conexão e propósito. Era ali que a escuta se tornava ferramenta de transformação, onde a conversa, aproximação com cliente, então viu como mesmo indo na linha de direito familiar, ainda se tem investigação, “ Eu comecei a ver como eu gostava de atender as pessoas, gostava de ouvir a história delas, gostava resolver. “E, de toda forma, por mais que a gente não entre nessa questão de linha investigativa, a gente, como profissional, tem que puxar um fio da meada da história da vida do cliente. Isso para poder colocar dentro de uma petição e levar ao juiz. Temos que criar essa linha de raciocínio, e de apurar os fatos com profundidade, conectando os elementos jurídicos à vivência real daquela pessoa, para que o processo não seja apenas um conjunto de documentos, mas sim a tradução legítima da verdade que precisa ser ouvida.”
E foi com essa mente aberta profissionalmente, que Eizzi percebeu que podia adentrar em outras áreas sem perder seu amor por investigação e por resolver conflitos. Ali ela começou a se aventurar por outras áreas, sem perder sua maior paixão profissional. “Sou canceriana, com ascendente em Áries e lua em Leão. Apesar da sensibilidade do meu signo solar, é a força do meu ascendente que me traduz e que conduz minha atuação: firme, determinada, resiliente e com senso de justiça aguçado. Sou estrategista por natureza e não hesito em agir com firmeza quando se trata de proteger interesses, sou aquela mãe que impõe limites, mas também, briga no parquinho pelos filhos. Sou exatamente assim com meus clientes.”
A maternidade como nova fase de aprendizado
Sendo sempre uma mulher independente, já estava casada ao final da graduação, pronta para encarar o mercado de trabalho, quando se depara com a sua primeira gravidez, que não estava em seus planos naquele momento foi um grande choque, já que naquele período estava em estágio e focada em sua vida profissional, na época, espaço para maternidade não era opção. Mas como diz o ditado depois da tempestade, vem o arco íris, quando caiu a ficha que seria mãe, tudo mudou, sabia que aquele bebê estava na sua vida já, desde o ventre, ele fazia parte de quem Eizzi seria. Mesmo sendo mãe aos 24 anos, se mostrava ser uma “mãe leoa”, com uma gravidez de risco, onde teve que passar grande parte em repouso, ela sabia que sua vida precisava do equilíbrio de um libriano. E foi assim que Pietro nasceu, tudo mudou em sua mente. “Eu acredito que ele veio na hora que tinha que vir.. E creio que o primeiro filho, ele ensina a gente a ser mãe, ele foi, assim, a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Veio no momento que eu mais precisava. E eu sou eternamente grata a ele por me dar o presente de ser a mãe dele, é um menino muito especial, inteligente, cativante, determinado”
Eizzi conta que ser mãe, não foi só uma mudança física e hormonal, foi de mente também. Para quem estava focada somente em si, querendo crescer na carreira como advogada, se tornar mãe naquele momento foi essencial para ver além de si, não ser egoísta em suas escolhas. E isso não era fraqueza, pelo contrário, era sua fonte de força. Durante essa fase de maternidade, seu hábito de leitura se intensificou. “Sempre gostei de ler, desde criança. E na gravidez do Pietro, mergulhei nos livros sobre maternidade, criação de filhos e psicologia infantil. Eu queria me preparar, queria entender, queria acertar.” E foi a experiencia com o primeiro filho, com a calma, tranquilidade e doçura dele que Eizzi sentiu a necessidade de ter outro filho, quando seu primeiro filho estava com 4 anos, planejou o Theo, um sagitariano que trouxe para a sua rotina alegria, curiosidade e diversão: “O Thetheo é encantador, amoroso, engraçado, carismático, sagaz e inteligente.”
Essa curiosidade nata e o desejo de se conectar profundamente com os filhos moldaram sua forma de se manter: empática, firme mas sempre aberta ao diálogo. Cada fase trouxe novas lições. “O Pietro é mais quietinho, introspectivo. O Theo já é intenso, parecido comigo. E o Bento está chegando com uma personalidade forte. A gente tenta ser igual com todos, mas cada filho é único.”
Durante a pandemia, sendo uma mãe divorciada, com dois meninos, Eizzi passou por um reencontro, foi quando reencontrou Vinicius, seu atual marido com quem, hoje, divide a vida e parte do escritório onde são sócios e atuam como advogados. “Dividir a vida e o trabalho com meu marido é um presente. Ele é uma referência para mim, me completa em tudo e traz leveza para os meus dias. Sei que muitas pessoas não conseguem trabalhar ao lado do parceiro, mas para mim é inspirador, ele me fortalece, me apoia e me lembra, todos os dias, que é possível. Casal que sonha junto, cresce junto! É parceria e admiração mútua.” Os dois eram colegas de faculdade, e acabaram se afastando por questões da vida, e com esse reencontro anos depois, floresceu algo em ambos, assim sua família estava completa, pelo menos era o que ela pensava.
Tendo uma boa relação com os filhos de Eizzi, Vinicius mal sabia que ali crescia não só um padrasto, mas também um pai. Assim nasceu Bento, uma surpresa que chegou para somar. Inesperado e com uma personalidade forte, o pequeno aquariano mostrou ser o irmão que os meninos precisavam, o filho que Vinicius desejava, e o tijolo que se fazia necessário na construção do lar da advogada: “O Bento foi uma surpresa e um presente! Ele é uma alegria de criança, doce, querido e com temperamento forte!”
Dentro de casa, Eizzi é o tipo de mãe que não foge da luta. Literalmente. “Meus filhos adoram brincar de lutinha comigo. Nunca fui de frescura. Gosto de ver os jogos de futebol deles, amo aventura, praticar esporte, adrenalina e barulho.” Ela mesma se define como uma mistura astrológica interessante. Sobre a criação dos filhos, ela tem clareza: prefere combinados ao grito. Ao lado do marido, Vinícius, busca equilíbrio.
Carreira com escuta, visão e presença
Os primeiros passos na advocacia vieram com o acolhimento de casa: Seu pai, militar, com uma empresa de software, a convidou para ser advogada da empresa dele. A mesma encarou como um desafio, começando a carreira aprendendo a advogar sozinha, na cara e na coragem, como ela mesma conta em entrevista. Foi trabalhando na empresa do pai que ela teve contato com muitas áreas, como Direito do trabalho e Proteção de dados, que na época era algo que não era tão falado no Brasil. Mas como tudo em sua vida, esse era apenas o ponto de partida. Logo, Eizzi sentia que precisava trilhar um caminho que tivesse mais da sua identidade, da sua escuta e da sua forma de ver o mundo.
Depois de passar por outros escritórios e ganhar experiência como associada, percebeu que era hora de voar com suas próprias asas. Foi então que a oportunidade surgiu, um convite inesperado de um colega de profissão (e, futuramente, de vida): Vinícius. O convite foi para ser associada do escritório, que na época era Urach e Jensen, nesse período começou a trabalhar, sendo muito bem recebida, logo se conectou com os propósitos e valores da empresa.
Em 2024, Eizzi se consolidou como sócia do escritório Urach, Jensen, Abaide, Melgarejo e Brum (UJAMB), referência em Santa Maria há mais de 18 anos. Reconhecido pela ética, confiança e excelência técnica, o escritório sempre prezou por uma atuação humanizada e estratégica, valores que dialogam diretamente com a forma de ver o Direito que Eizzi defende. “Temos os mesmos valores e formas de trabalhar, o que me dá muita confiança”, afirma.
Com uma equipe comprometida, o escritório vive um momento de expansão e novas perspectivas. Entre suas conquistas, está a abertura de uma unidade em Santa Catarina, com foco nas áreas de Direito Imobiliário e Tributário, uma movimentação que representa não apenas crescimento geográfico, mas também o fortalecimento de um modelo de advocacia que alia técnica, proximidade e inovação.
Acredita no poder do diálogo, aposta na mediação e pratica uma escuta qualificada, porque sabe que o melhor litígio é o que pode ser evitado com inteligência. Essa visão clara e madura do Direito se reflete nos artigos que escreve, nas falas públicas que compartilha e nas mentorias que conduz com outras mulheres empreendedoras. E se o começo foi desafiador, ele também foi decisivo. Porque foi ali, entre fraldas e livros de Direito, que Eizzi entendeu: sua missão era cuidar e proteger. Seja dos filhos, dos clientes ou de quem ainda está aprendendo a encontrar sua própria voz.
Equilibrando mundos: o desafio (e o dom) de ser mãe e empresária
Conciliar maternidade com a vida empreendedora não é tarefa simples, e Eizzi nunca tentou romantizar essa realidade. Para ela, esse equilíbrio é construído todos os dias, entre e-mails respondidos com um bebê no colo, reuniões e audiências marcadas entre horários escolares e textos jurídicos redigidos com a mente ainda ruminando uma conversa difícil com um dos filhos.
Ser mãe de três meninos, em fases tão diferentes da infância e da adolescência, enquanto gerencia um escritório de advocacia consolidado, exige mais do que disciplina: exige presença emocional. E foi essa presença que ela fez questão de cultivar em cada canto da vida.
“A gente aprende com eles todos os dias. O Pietro, por exemplo, está entrando na adolescência, e é uma fase muito sensível. Eles se fecham, começam a ter mais dúvidas, mais conflitos internos. E aí, o desafio é aprender a respeitar esses limites, entender essa individualidade. Não é mais só cuidar, é estar junto, sem invadir”, conta. Eizzi lida com isso com a mesma escuta que desenvolveu na profissão, só que, dentro de casa, a petição vira conversa ao pé da cama, e o olhar jurídico cede lugar à intuição materna.
A rotina exige adaptações constantes. Às vezes, a prioridade é estar no karaokê improvisado com Theo, seu companheiro sagitariano de risadas e receitas. Em outros momentos, é preciso equilibrar tempo com o bebê da casa, Bento, o pequeno aquariano da casa, com prazos e responsabilidades que não esperam.
Mas o que poderia ser exaustivo, para ela virou aprendizado. “Eles me mostram todos os dias que eu não posso controlar tudo. Que eu preciso confiar. E isso também levo para o escritório. Porque uma boa liderança é aquela que escuta, acolhe e sabe delegar.”
Com o tempo, Eizzi aprendeu que não existe fórmula mágica. Há dias em que tudo dá certo. Há dias em que o cansaço vence. Mas em todos eles, ela busca uma coisa: coerência. A mulher que seus filhos veem é a mesma que os clientes encontram no escritório. Firme, humana, transparente.
E mais do que lidar com a agenda lotada, o maior desafio, e também a maior conquista, foi aprender a não se culpar por não estar em todos os lugares ao mesmo tempo. É justamente esse equilíbrio possível, embora imperfeito, que ela faz questão de mostrar para outras mulheres. Que é possível empreender com afeto. Maternar com autonomia. Ser firme e ao mesmo tempo ter empatia. Ser múltipla sem deixar de ser inteira.
Porque no fim das contas, Eizzi não é uma mulher dividida entre mundos. Ela é um elo entre eles. E cada parte da sua vida, a profissional, a pessoal, a materna, se entrelaça e se alimenta da outra. É nisso que está sua força. É nisso que está sua verdade.
A Força que Nasce do Cuidar
Eizzi Melgarejo é a prova viva de que é possível trilhar um caminho profissional sólido sem perder a delicadeza dos afetos. Que é possível sustentar a firmeza de uma liderança sem abrir mão da escuta e da empatia. Que dá, sim, para ser muitas, mulher, mãe, advogada, empreendedora, sem se fragmentar. Ela não escolheu entre ser racional ou emocional, entre a maternidade ou a carreira. Escolheu ser inteira em tudo o que faz.
Com coragem e coerência, construiu uma trajetória pautada em valores e presença. Sua história não é sobre dar conta de tudo. É sobre fazer escolhas conscientes, sobre cultivar vínculos verdadeiros, dentro e fora do escritório. É sobre inspirar outras mulheres a também se autorizarem a ocupar espaços com sensibilidade e potência.
Seus filhos a reconhecem como exemplo, sua equipe a admira como referência, e suas clientes a enxergam como aliada. Em cada papel que desempenha, Eizzi reafirma seu propósito: transformar com empatia, liderar com humanidade, e seguir construindo, dia após dia, uma advocacia que também acolhe, assim como ela.
Porque no fim, mais do que falar de leis ou processos, a história de Eizzi Melgarejo fala de pessoas. E de como é possível ser farol para outras, mesmo quando a estrada é desafiadora. E como ela mesma aprendeu com os filhos, com os clientes, com a vida: cada fase é um recomeço. E cada recomeço, uma chance de ser ainda mais verdadeira.
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