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Além da Semana do Meio Ambiente: o que estamos fazendo nos outros 358 dias do ano?

Na última quinta-feira, 5 de junho, celebramos mais um Dia Mundial do Meio Ambiente. Criada em 1972 pela Organização das Nações Unidas, a data tem como objetivo chamar a atenção global para os problemas ambientais e reforçar o compromisso com a proteção dos recursos naturais. Em torno dela, multiplicam-se eventos, palestras, postagens nas redes sociais, plantios simbólicos e ações pontuais que, por alguns dias, colocam a pauta ambiental sob os holofotes. Em muitos lugares, é organizada a chamada “Semana do Meio Ambiente”, onde órgãos públicos, empresas, escolas e universidades realizam atividades temáticas. A mobilização é importante. Mas ela precisa, com urgência, ultrapassar o calendário.

O meio ambiente não cabe em uma semana. Ele não se resolve com eventos pontuais nem com discursos de ocasião. O desafio da sustentabilidade exige presença contínua, políticas públicas estruturantes e, principalmente, mudança de comportamento. É preciso reconhecer que ainda tratamos o tema ambiental como algo externo, distante, secundário – quando, na verdade, ele está no centro da nossa saúde, da nossa segurança, da nossa economia e da nossa qualidade de vida.

Na série de colunas que venho escrevendo nos últimos meses, temos abordado diversos exemplos de como essa desconexão entre discurso e prática tem custado caro. A destruição das matas ciliares, como vimos no caso do Rio Soturno, não é resultado de um evento climático isolado, mas sim de anos de ocupação irregular, desmatamento e ausência de fiscalização. A falta de saneamento básico, discutida nas semanas anteriores, não é só uma questão de infraestrutura, é uma das principais causas de doenças e contaminação dos nossos cursos d’água. E mesmo quando falamos de consumo consciente, como no caso das embalagens de Páscoa ou do lixo urbano, voltamos à mesma raiz do problema: não aprendemos a lidar com os nossos impactos de forma contínua.

O que se vê, com frequência, é um esforço concentrado durante a “semana” do meio ambiente, com ações simbólicas — que são, com certeza, muito válidas, é verdade —, mas que não se desdobram em políticas permanentes. Plantamos árvores, mas esquecemos de garantir sua sobrevivência. Falamos sobre a importância dos rios, mas não olhamos para o esgoto que corre a céu aberto. Recolhemos lixo em ações coletivas, mas não exigimos melhoria da coleta seletiva. Postamos frases inspiradoras, mas seguimos com hábitos destrutivos no cotidiano. O que falta é coerência. E continuidade.

Santa Maria, como tantas outras cidades do país, vive uma realidade que exige um olhar ambiental comprometido e permanente. Temos problemas sérios com drenagem urbana, ocupação de áreas de risco, descarte inadequado de resíduos, falhas nos processos de licenciamento ambiental e uma coleta seletiva que ainda não é de fato inclusiva, eficaz ou abrangente. Nossos arroios urbanos estão poluídos. Nossas margens de rios estão desprotegidas. Nossos solos estão vulneráveis. E o clima tem respondido com força.

Por isso, mais do que celebrar a Semana do Meio Ambiente, precisamos assumi-la como ponto de partida para o resto do ano. Que cada palestra realizada, cada conteúdo produzido, cada ação comunitária realizada nesses dias sirva como base para programas contínuos de educação ambiental, fiscalização, recuperação de áreas degradadas e incentivo à sustentabilidade. Que os compromissos firmados por instituições públicas e privadas durante esta semana saiam do papel. Que o diálogo ambiental vá além dos “ambientalistas” e passe a ser parte de toda gestão, de toda política, de toda escola, de toda empresa.

A urgência climática que enfrentamos não se resolve com campanhas bonitas. Ela exige enfrentamento real. Exige políticas públicas com orçamento, com cronograma, com indicadores de impacto. Exige protagonismo social. Exige técnicos valorizados, conselhos ambientais ativos, transparência nas decisões. E exige, também, uma população disposta a entender que cuidar do meio ambiente não é um favor à natureza, é uma condição de sobrevivência para todos nós.

Que a Semana do Meio Ambiente de 2025 seja lembrada não pelas fotos publicadas, mas pelas ações sustentadas. Que as reflexões não se apaguem com o encerramento dos eventos. Que o meio ambiente esteja nas pautas de todas as semanas do ano. Porque, se não estiver, não haverá futuro digno para ser celebrado nos próximos 5 de junho.

Ana

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