Nos últimos dias, a comunidade da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) foi abalada por uma série de e-mails com conteúdo racista, misógino e homofóbico, acompanhados de uma imagem de uma arma e a frase “chacina na UFSM”. O gesto covarde, que tenta semear o medo e o caos, é mais um sintoma do tempo sombrio em que discursos de ódio e intolerância deixaram de ser marginais e passaram a circular com naturalidade em espaços públicos e digitais.
A universidade pública — patrimônio de todo o povo brasileiro — é hoje um dos principais alvos dessa violência simbólica e ideológica. Não é coincidência. É nas universidades que florescem o pensamento crítico, a diversidade, a ciência e a liberdade. E é justamente isso que o extremismo mais teme: o conhecimento e a pluralidade.
As ameaças dirigidas à UFSM são uma tentativa explícita de silenciar vozes que historicamente foram excluídas dos espaços de poder e saber. Como lembrou o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi), os alvos são claros: corpos negros, indígenas e LGBTQIAPN+. O ódio a essas presenças é o ódio à própria democracia. E quando o ódio se arma — mesmo que em montagens virtuais — a sociedade precisa reagir com firmeza, solidariedade e responsabilidade.
É alentador ver que a Reitoria agiu prontamente, acionando a Brigada Militar, a Polícia Civil e a Polícia Federal. Também é importante o posicionamento de entidades e lideranças, como o deputado Paulo Pimenta, reafirmando o compromisso com a comunidade acadêmica. Mas não basta reagir ao ataque — é preciso compreender o que o alimenta.
Esses episódios não nascem no vácuo. Eles são consequência de anos de desinformação, do desmonte de políticas educacionais, e da banalização do discurso violento que ganhou força nas redes e até em tribunas oficiais. Quando figuras públicas relativizam a violência, quando o racismo e a homofobia são tratados como “opinião”, quando o negacionismo se apresenta como “liberdade de expressão”, abre-se espaço para que o extremismo encontre terreno fértil.
A UFSM, como tantas outras instituições federais, representa a conquista de gerações que acreditaram que o Brasil só pode ser soberano com educação pública, gratuita, laica e inclusiva. É dever de todos nós defendê-la — não apenas de ameaças explícitas, mas também das tentativas sutis de deslegitimar seu papel social.
Hoje, mais do que nunca, é tempo de reafirmar o pacto com a vida, com a ciência e com a democracia. Que a comunidade universitária saiba: não está sozinha. O poder público, especialmente o Parlamento, precisa se posicionar de forma clara e sem ambiguidades.
O medo é a arma dos covardes. O conhecimento é o escudo dos que acreditam em um futuro de justiça, igualdade e paz.








