Como já se tornou habitual, os primeiros meses do ano, além do calor cada vez mais sufocante devido à catástrofe climática que enfrentamos, trazem uma notícia que também tem o potencial de sufocar o povo de Santa Maria: o aumento no preço da passagem de ônibus.
Nos últimos anos, apesar da pressão da Associação dos Transportadores Urbanos (ATU), o reajuste da já absurda tarifa de R$ 5,00 foi evitado por meio da transferência de milhões de reais dos cofres públicos para as empresas de transporte e da demissão da maioria dos cobradores. No entanto, este ano ainda não há qualquer sinalização da Prefeitura sobre possíveis medidas para impedir que os usuários sejam penalizados, ainda que de forma insuficiente, como ocorreu no governo anterior.
No final do ano passado, acompanhamos mais uma audiência pública sobre a licitação do transporte coletivo, que já se tornou uma verdadeira lenda urbana. Infelizmente, os principais problemas enfrentados pela população ficaram de fora das discussões promovidas pelo Poder Executivo e pelos empresários do setor. A ampliação de linhas, a renovação e expansão da frota e a instalação de ar-condicionado nos veículos não parecem estar no radar da administração municipal. Ainda assim, não há qualquer perspectiva concreta de quando — ou se — essa licitação será finalmente concretizada. Enquanto isso, a notícia de que o preço da passagem pode subir em até 10%, ficando entre R$ 7,50 e R$ 8,00, soa como um verdadeiro assalto ao bolso do trabalhador. Um aumento injustificável quando comparado a cidades de porte muito maior, inclusive capitais, e principalmente quando analisamos a qualidade do serviço prestado.
Segundo pesquisa realizada em 2023 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), os gastos com transporte público comprometem cerca de 13,5% do orçamento das famílias mais pobres, justamente aquelas que vivem nas periferias e precisam se deslocar, muitas vezes utilizando mais de um ônibus, para trabalhar, estudar, realizar consultas médicas ou simplesmente acessar a cidade.
A luta por um transporte público de qualidade e acessível é, portanto, uma luta pelo direito à cidade e por qualidade de vida para a população. Chega a ser inacreditável que se cobre um preço tão alto para que as pessoas possam se deslocar dentro da própria cidade onde vivem. Durante a campanha eleitoral do ano passado, o PSOL voltou a levantar a bandeira da tarifa zero para o transporte público municipal — uma proposta que não tem nada de utópica. Pelo contrário, já é uma realidade em diversas cidades do país. Mesmo que o transporte continue sendo pago, o mínimo que deveria ser garantido à população é uma tarifa justa e um serviço condizente com o valor cobrado. Se analisarmos a qualidade do serviço prestado pela ATU em Santa Maria, fica evidente que nem mesmo os atuais R$ 5,00 se justificam. Em vez de aumento, o que a população deveria receber é uma drástica redução no preço das passagens.
Infelizmente, não podemos contar com o bom senso dos empresários do transporte, tampouco com a Prefeitura do PSDB, que há pelo menos oito anos tem atuado como tábua de salvação das empresas. Ao que tudo indica, o assalto contra os usuários deve continuar. Diante disso, resta à população se organizar em todas as esferas possíveis e lutar contra esse aumento injustificável.
Exemplos não faltam de que, quando o povo se mobiliza, os governos são obrigados a ouvir e recuar. Da nossa parte, estaremos onde sempre estivemos: ao lado da população e dos movimentos sociais, contra o aumento da passagem e em defesa de um transporte público digno. No que depender do nosso mandato, essa luta terá lugar garantido na Câmara de Vereadores.