Nos últimos anos, o empoderamento feminino se tornou um dos temas mais presentes nas conversas, nas redes sociais, nas propagandas e até nas músicas. Foi – e continua sendo – uma conquista importante: significa dar voz, espaço e dignidade às mulheres, depois de séculos de silêncio e submissão. Mas, entre tantas vozes e interpretações, algumas leitoras me trouxeram uma provocação: será que, em certos momentos, não estamos vivendo também o excesso do empoderamento?
Quando o empoderamento se confunde com rigidez, há um risco de perdermos a leveza que nos é tão própria. De sermos pressionadas a estar sempre em posição de força, como se a vulnerabilidade fosse um defeito e a delicadeza, uma fraqueza. O problema é que esse caminho pode nos afastar daquilo que, muitas vezes, é a essência do feminino: a beleza de equilibrar firmeza e sensibilidade, racionalidade e intuição, decisão e acolhimento.
Já na metade do século passado, Simone de Beauvoir alertava que, em busca de igualdade, algumas mulheres poderiam cair na armadilha de negar a própria feminilidade, adotando apenas os padrões masculinos de poder. Décadas depois, a filósofa Nancy Fraser observa outro efeito: o discurso da “mulher empoderada” foi muitas vezes absorvido pelo mercado, transformando-se em cobrança de produtividade, consumo e perfeição.
Ou seja, se por um lado ganhamos autonomia, por outro surgem novas prisões. A mulher que não se sente “suficientemente empoderada” passa a carregar um peso invisível, como se precisasse ser forte o tempo inteiro, bem-sucedida em todas as áreas, impecável por fora e invulnerável por dentro. E isso, ao invés de libertar, pode sufocar.
Eu mesma já vivi algo parecido. Houve um tempo em que comprei, quase sem perceber, o ideal da mulher invencível. Depender de alguém, pedir ajuda ou admitir fragilidade era algo impensável. Eu me orgulhava de dar conta de tudo sozinha, como se isso fosse a prova máxima da minha força. Mas, com o tempo e com a maturidade, aprendi que o verdadeiro poder não está em carregar o mundo nos ombros. Descobri que ser leve, aceitar apoio e reconhecer a beleza da delicadeza é também uma forma de força.
O verdadeiro empoderamento não é a imposição de um novo modelo, mas a liberdade de ser quem somos. Ser firme sem perder a suavidade. Ser independente sem rejeitar o afeto. Ser delicada sem abrir mão da força. Talvez o maior poder feminino esteja exatamente aí: no equilíbrio, na capacidade de transformar contradições em beleza, e de viver cada papel que escolhemos não por obrigação, mas por consciência.
Com alma, beleza e propósito,
Mariane Verardi