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Beto Fantinel detalha reestruturação da política social no RS em visita à Revista Enfoco

Por Reinaldo Guidolin

Fotos: Fredy Vieira

“Pra fazer política, tem que gostar muito das pessoas. E eu sempre gostei de gente”. Com essa frase simples, mas carregada de significado, o secretário estadual de Desenvolvimento Social do Rio Grande do Sul, Beto Fantinel (MDB), resume a motivação que o levou a ingressar na vida pública ainda jovem. Deputado estadual licenciado, ele esteve na sede da Revista Enfoco na última sexta-feira (30), onde falou sobre sua trajetória, os desafios da pasta e os rumos das políticas sociais no estado.

Natural de Dona Francisca, mas com domicílio eleitoral em Santa Maria, Fantinel cresceu em meio à política comunitária. O avô, Benjamin Garçol, integrou a primeira legislatura da Câmara de Vereadores do município e retornou ao Legislativo em 1992. A convivência com ele e com o ex-prefeito Nereu Garçol, figuras muito atuantes na comunidade, despertou seu interesse pela vida pública.

Sua trajetória também foi marcada pelo envolvimento em movimentos estudantis. Foi líder do grêmio estudantil na escola, coordenou grupos de jovens e, na UFSM, participou do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e da cooperativa dos estudantes de Agronomia. Esse histórico de militância ajudou a moldar sua visão sobre o papel do Estado na proteção social.

Uma nova secretaria para um novo tempo

Desde que assumiu a Secretaria de Desenvolvimento Social, Fantinel promoveu uma reestruturação profunda na antiga pasta da Assistência Social. A secretaria passou a operar com um novo desenho institucional, incorporando áreas como inclusão produtiva, primeira infância, juventude, políticas para a pessoa idosa e segurança alimentar, além da assistência, que segue como eixo central.

Segundo o secretário, temas antes negligenciados passaram a ter protagonismo. A primeira infância, por exemplo, foi tratada como etapa decisiva para romper o ciclo da pobreza. Já a segurança alimentar, antes pouco valorizada, tornou-se uma diretoria própria. O mesmo ocorreu com as políticas para idosos, diante do dado de que dois em cada dez gaúchos têm mais de 60 anos.

O fortalecimento da estrutura foi acompanhado por um aumento significativo no orçamento. Se antes a política pública da área operava com cerca de R$ 23 milhões, no último ano, esse valor ultrapassou os R$ 530 milhões. Programas como CNH Social, Mãe Gaúcha, Emancipa Família Gaúcha, Partiu Futuro e Reconstrução integram essa nova abordagem. Um dos lançamentos mais recentes foi o projeto Centro Dia para Pessoas Idosas, que deverá ser implantado em 46 municípios com financiamento integral do Estado.

Apesar dos avanços, Fantinel reconhece que os desafios sociais no Rio Grande do Sul ainda são significativos. Um dado que considera emblemático é o número de pessoas inscritas no Cadastro Único: cerca de 3,3 milhões de gaúchos, o que representa quase um terço da população do estado. Esse índice, segundo ele, contrasta com a capacidade produtiva do RS e evidencia a persistência da insegurança alimentar.

Na avaliação do secretário, não é possível pensar em desenvolvimento sem enfrentar a desigualdade. Ele afirma que qualquer projeto de crescimento que ignore os vulneráveis está fadado ao fracasso, pois a justiça social é pré-requisito para uma sociedade equilibrada. “É uma utopia acreditar que vamos desenvolver uma cidade, um Estado, sem cuidar da desigualdade, sem apoiar os vulneráveis. Para que a gente tenha um território com sentimento de justiça e dignidade, é preciso cuidar de quem teve menos oportunidade.”

Fantinel também enfatiza o caráter estrutural da pobreza, ressaltando que, segundo estudos, uma pessoa nascida em extrema pobreza no Brasil levaria, em média, nove gerações para superar essa condição. “Só com políticas públicas, com estratégia adequada, é possível enfrentar isso”.

O secretário destaca que o objetivo maior das ações da pasta é promover a autonomia das famílias, para que deixem de depender da assistência e passem a ser protagonistas de suas trajetórias. “São programas que visam fazer a emancipação dessas pessoas e elas gerarem riquezas para o território, mas, acima de tudo, gerar autonomia e dignidade para a sua família”.

A meta, segundo ele, é clara: construir uma nova realidade no Rio Grande do Sul, ancorada em oportunidade, proteção e justiça social. “Não existe território que se desenvolva sem enfrentar o tema da vulnerabilidade, da desigualdade social. Ou a gente trata e todo mundo está de mãos dadas para ir para frente, ou o território não vai ter desenvolvimento”.

Na visão do secretário, equidade não é apenas um ideal, mas uma condição básica para que a sociedade funcione como um organismo integrado. “Quem não entender isso, não entende o que é vida em comunidade. A injustiça e a falta de dignidade são coletivas. São demanda de todos. Por isso, é fundamental que todos participem de ações que promovam o cuidado, a dignidade, o desenvolvimento. A solidariedade também conta nesse processo”.

Redação enFoco

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