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Carne Ovina Gaúcha: tradição, sabor e potencial de crescimento

A carne ovina está conquistando espaço no mercado brasileiro, impulsionada por uma demanda crescente e pelo interesse por proteínas diferenciadas, de alto valor nutritivo e sabores únicos. Mais do que uma tendência gastronômica, trata-se de um setor com enorme potencial de expansão, que pode se tornar protagonista no agronegócio nacional com investimento em genética, manejo, alimentação, sanidade e tecnologia.

No Rio Grande do Sul, a ovinocultura é muito mais que produção: é parte da identidade e da história de mais de 47 mil produtores presentes em 496 municípios. Essa tradição secular se renova com a ação conjunta da Emater/RS-Ascar, da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco), Embrapa, sindicatos, universidades e institutos federais que vêm promovendo inovação tecnológica, assistência técnica qualificada e sistemas produtivos sustentáveis. Destacam-se iniciativas como os centros estaduais de Diagnóstico e Pesquisa em Ovinocultura (Ceovinos), em Encruzilhada do Sul e em Hulha Negra, e a Política Estadual da Ovinocultura (Fundovinos/RS).

Avanço do abate formal: o melhor resultado desde 2014

Em 2023, foram abatidos 253.148 ovinos no RS o maior volume desde 2014, com destaque para municípios como Santana do Livramento, Quaraí e Alegrete. Além de abastecer, ainda que de maneira insuficiente, o mercado interno, o Estado se apresenta como exportador interestadual, enviando carne ovina para Santa Catarina e Paraná.

O perfil do animal abatido tem foco em cordeiros. Na cotação de preços feita pela Emater/RS-Ascar o kg vivo do cordeiro vale de R$ 9 a R$ 12,55.  A indústria demanda principalmente machos com menos de 12 meses, que representaram 35% dos abates em 2023. Em segundo lugar estão as fêmeas com mais de 12 meses, com 31%. Isso demonstra uma divisão quase equilibrada entre animais jovens e adultos no abate total. 

Rebanho estratégico e guardião do Pampa

Com mais de 3,3 milhões de ovinos distribuídos em 47.767 propriedades, o RS concentra 72% do rebanho em apenas 30 municípios, especialmente no Bioma Pampa, onde a criação de ovinos atua como importante aliada na preservação ambiental do campo nativo. Santana do Livramento mantém o título de Capital Nacional da Ovelha, liderando o ranking nacional de produção.

Apesar do avanço, a taxa de assinalação (indicador que mede o número total de cordeiros desmamados em relação ao total de matrizes colocadas em monta/encarneiradas) ainda é baixa, limitando a produtividade. É nesse ponto que pesquisa e Extensão Rural são decisivas: melhorar índices reprodutivos, ampliar a eficiência produtiva e tornar a carne ovina gaúcha ainda mais valorizada.

Região Central: carne como vocação 

A região Central do RS tem mais de 300 mil ovinos e cerca de 6 mil produtores, dos quais 80% deles criam ovinos com a finalidade de produzir carne. A estrutura de abate conta com oito abatedouros inspecionados (SIM e CISPOA), mas não há unidades com SIF — uma oportunidade clara para novos investimentos.

Por aqui, há a predominância de cruzamentos adaptados (51,6%), com raças como Texel, Corriedale, Ideal e Ile de France.

Desafios e oportunidades

O setor ainda enfrenta gargalos como:

  • concentração do rebanho e da produção formal em poucos municípios;
  • baixa taxa de assinalação;
  • abate e comercialização informais;
  • falta de profissionalização da gestão;
  • desconhecimento das demandas do consumidor;
  • abigeato e competição por áreas com grãos bovinocultura; 
  • predadores (cachorros, alguns animais silvestres  e javali).

A Emater/RS-Ascar, na região de Santa Maria, planeja atender mais de 640 produtores em 2025 atingindo um rebanho estimado em 10.083 ovinos, com foco em produtividade, sustentabilidade e acesso a mercados, onde cortes tradicionais como churrasco de pernil, paleta, costela e espinhaço com mandioca na panela são bastante apreciados.

Com manejo correto, genética superior e foco na qualidade, o Rio Grande do Sul não apenas manterá seu protagonismo, mas ampliará sua presença no mercado interno e externo, garantindo que a carne ovina gaúcha seja sinônimo de tradição, sabor e excelência.

Foto: ARCO

Guilherme G. dos Santos Passamani

Engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia

Gerente da Emater/RS-Ascar regional de Santa Maria

e-mail: ggsantos@emater.tche.br

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