Nos últimos anos, o discurso do “menos Estado” ganhou força no debate público, vendido como a solução para ineficiências e gastos excessivos. No entanto, o que vemos na prática não é uma redução da intervenção estatal, mas sim uma transferência de recursos públicos para o setor privado. Prática que muitas vezes beneficia grupos econômicos aliados de quem propaga esse mesmo discurso.
A narrativa do “Estado mínimo” costuma vir acompanhada de cortes em políticas sociais, saúde, educação e infraestrutura, alegando que o mercado resolveria tais questões com mais eficiência. O problema é que, ao mesmo tempo em que se defende essa redução, governos mantêm ou até ampliam subsídios bilionários para grandes empresas, isenções fiscais para setores privilegiados e parcerias público-privadas vantajosas para investidores. O Estado não desaparece, apenas muda de mão.
Como uma estratégia comum, o desmonte deliberado de serviços e instituições públicas vem para justificar privatizações. Quando um governo corta verba da saúde, da educação ou do transporte público, o serviço piora e surge o argumento: “O Estado não funciona, tem que privatizar”. O que não se diz é que a ineficiência foi criada de propósito, abrindo espaço para negócios lucrativos às custas do erário.
A maior ironia é ver setores que pregam a “não intervenção” dependendo pesadamente de dinheiro público. Bancos, agronegócio, indústria e até gigantes da tecnologia recebem incentivos fiscais, empréstimos com juros baixos e contratos estatais. Enquanto isso, o cidadão comum paga mais por serviços essenciais, agora nas mãos de empresas privadas.
Essas mesmas empresas que defendem o “Estado mínimo” quando estão em crise, correm para pedir socorro estatal. Assim a conta fica para a população, que arca com ajustes fiscais e perde direitos. É um jogo de mão dupla: o lucro é privado, mas o risco é público.
O debate não deveria ser “menos Estado” versus “mais Estado”, mas sim para quem serve o Estado. Enquanto alguns políticos usam esse discurso para justificar o desmonte de conquistas sociais em benefício de poucos, é preciso lembrar que um Estado forte é essencial para reduzir desigualdades e garantir direitos. A verdadeira eficiência não está na entrega cega ao mercado, mas em um projeto de nação que não troque o bem comum pelo interesse das elites.








