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Do Pampa à Mata Atlântica: o mel gaúcho que conquista o mundo!

Em um cantinho singular do planeta, onde os biomas da Mata Atlântica e do Pampa se encontram, as flores de Aroeira, Ipê-amarelo, Angico e Acácia oferecem seu pólen às incansáveis abelhas da região Central do Rio Grande do Sul. Esse trabalho delicado e ancestral, tecido pelas mãos de apicultores de cidades como Santiago, Cacequi, Unistalda e São Francisco de Assis, transforma o néctar dessas flores em um mel tão especial que cruza oceanos, adoçando o paladar de norte-americanos, canadenses e alemães. Em 2023, o Brasil exportou esse “ouro líquido” para 29 países, movimentando US$ 5,4 milhões (cerca de R$ 31 milhões), um testemunho do valor de um trabalho que é mais do que uma profissão — é uma paixão, um legado.

Imagine a dedicação destes apicultores, acordando antes do sol para cuidar de suas colmeias, ouvindo o zumbido das abelhas como uma sinfonia da natureza. Cada pote de mel carrega não apenas o sabor único dos biomas gaúchos, mas também as histórias de famílias que, geração após geração, mantêm viva a tradição apícola. Eles vendem seu mel para associações locais, como a Associação Regional Santiaguense de Apicultores (Arsa), que reúne 94 associados em Santiago, e essas organizações conectam o interior do Rio Grande do Sul às exportadoras de Santa Catarina e do próprio Estado, levando o mel brasileiro a mesas do outro lado do mundo. É uma corrente de esforço, cuidado e orgulho que faz o mel da região Central pesar na balança comercial do país.

Mas a vida dos apicultores não é só doçura. As enchentes de maio de 2024, que castigaram o Rio Grande do Sul, trouxeram um golpe devastador. No auge da safra, milhares de colmeias foram arrastadas pelas águas e cerca de 10% das abelhas do Estado perderam a vida. A safra gaúcha de mel 2024/2025, inicialmente estimada em 9 mil toneladas, pode sofrer uma perda de um terço. Para muitos apicultores, a enchente não levou apenas colmeias, mas sonhos, horas de trabalho e a esperança de um ano próspero. Ainda assim, a resiliência brilha na região Central: em Santiago, a Arsa projeta produzir entre 400 e 450 toneladas de mel, mesmo com as cicatrizes deixadas pela tragédia. Cada colmeia reconstruída é um ato de coragem, uma prova de que o carinho pelas abelhas e pela terra é mais forte que qualquer tempestade.

No entanto, novos desafios pairam no horizonte. A possibilidade de importar mel chileno acende um alerta vermelho. A Câmara Setorial da Apicultura e Meliponicultura, vinculada à Secretaria de Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), teme a entrada da bactéria Paenibacillus larvae, causadora da Cria Pútrida Americana, uma doença devastadora para as abelhas. O Brasil conquistou o status de livre dessa praga em 2006, e a chegada de esporos resistentes a antibióticos poderia ameaçar não apenas as colmeias, mas a própria economia apícola, que sustenta, no caso do Rio Grande do Sul, 20 mil famílias. É como se as abelhas, essas pequenas guardiãs da biodiversidade, sussurrassem um pedido de proteção àqueles que as cuidam.

Enquanto isso, a Emater/RS-Ascar trabalha incansavelmente para fortalecer esse setor tão vital. Em 2025, a instituição planeja atender 8.758 apicultores em 220 municípios, ensinando técnicas modernas de manejo e impulsionando a comercialização de produtos como hidromel, vinagre, geleias, própolis e cera. Muitos desses produtos nascem em agroindústrias familiares, certificadas pela Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), onde o mel ganha novas formas e sabores, carregando a essência do Rio Grande do Sul. Cada frasco de hidromel, cada vela de cera, é um pedaço da história de um apicultor que transformou desafios em oportunidades.

O mel da região Central não é apenas um alimento, é uma celebração da vida, da natureza e da resiliência humana. Feito a partir do pólen endêmico de flores que coexistem nesse encontro entre a Mata Atlântica e Pampa, ele carrega o sabor de um lugar que pulsa com autenticidade. É o suor de quem reconstrói colmeias após enchentes, da esperança de quem protege as abelhas de novas ameaças e do orgulho de saber que um produto tão puro, nascido em solo gaúcho, conquista o mundo.

Cada colherada de mel é um lembrete de que, mesmo diante de adversidades, a união entre homem e natureza pode criar algo extraordinário. Ao compartilhar essa história, você celebra não apenas o mel, mas as pessoas que, com amor e determinação, fazem dele uma ponte entre o Rio Grande do Sul e o mundo. Que tal apoiar estes apicultores comprando mel local, compartilhando suas histórias ou até visitando uma agroindústria familiar? Cada gesto conta para manter viva essa doce tradição!

Foto: Alberto Marsaro Junior

Redação enFoco

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