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Do Rio ao Mar: Palestina Livre

A recente interceptação da flotilha de ajuda humanitária em águas internacionais por forças de Israel expõe, de maneira incontestável, o abuso de autoridade que há décadas marca a relação daquele Estado com o povo palestino e com a comunidade internacional. A flotilha levava alimentos, remédios e suprimentos básicos para Gaza, onde a população vive sob bloqueio permanente e condições humanitárias catastróficas. Ainda assim, em vez de permitir a chegada da ajuda, as embarcações foram cercadas, invadidas e dezenas de pessoas foram presas. Um episódio que, além de ilegal, fere princípios elementares do direito internacional e criminaliza a solidariedade.
Esse fato, por si só grave, não pode ser compreendido isoladamente. Ele se insere em um contexto muito mais amplo e sistemático de violências que caracterizam a política de ocupação israelense. O que se desenrola diante dos nossos olhos é um genocídio. A palavra não é um exagero retórico, mas uma constatação reconhecida por organizações de direitos humanos, juristas e testemunhas que diariamente
relatam o que ocorre em Gaza e na Cisjordânia.
Os números falam por si: milhares de mortos, grande parte deles civis. Entre as vítimas, a presença esmagadora de crianças e mulheres revela a brutalidade da ofensiva. Bombardeios atingem casas, hospitais, escolas e campos de refugiados. Famílias inteiras são exterminadas em poucos minutos. Não se trata de “efeitos colaterais” de uma guerra, mas de uma política deliberada de destruição, que visa
sufocar a vida palestina em todas as suas dimensões.
Neste cenário, é fundamental destacar também o perigo das atitudes extremas do sionismo. O que nasceu como um movimento político no século XIX transformou-se, em sua vertente mais radical, em um projeto de exclusão, segregação e violência que coloca em risco não apenas o povo palestino, mas a própria possibilidade de convivência pacífica entre povos e culturas no Oriente Médio. O extremismo sionista alimenta uma ideologia que legitima ocupações, demolições de casas, expulsões em massa e massacres de civis, tratando a Palestina como um espaço a ser conquistado e esvaziado de seus habitantes originais. Essa visão radicalizada é incompatível com a justiça, com o direito internacional e com a dignidade humana.
O silêncio de parte da comunidade internacional diante dessa realidade é ensurdecedor. Sob o manto da suposta “neutralidade”, países e lideranças se omitem, quando não reforçam, direta ou indiretamente, a continuidade da violência. Mas é impossível sustentar a narrativa de neutralidade quando o que está em jogo é tão claro e tão visível. Não há simetria entre ocupante e ocupado, entre um Estado fortemente armado e um povo sitiado e despojado de seus direitos fundamentais.
Tirar as vendas é um imperativo ético. É reconhecer que o que acontece na Palestina não é apenas um conflito territorial, mas uma tentativa sistemática de apagamento de um povo. A cada dia que passa sem uma resposta firme da comunidade internacional, cresce a impunidade de quem promove a ocupação e o
massacre, e se alonga o sofrimento das vítimas.
“Do rio ao mar, Palestina livre” não é apenas um slogan repetido em protestos ao redor do mundo. É uma exigência moral de toda uma geração que se recusa a aceitar a normalização da barbárie. Significa afirmar que a Palestina tem direito à vida, à liberdade, à autodeterminação e à dignidade. Significa dizer que nenhuma justificativa militar ou diplomática pode apagar a urgência de pôr fim ao genocídio em
curso e ao avanço das ideologias extremistas que o sustentam.
O desafio é imenso, mas também é inadiável. A história julgará não apenas os que bombardearam, mas também os que se calaram. O futuro da Palestina será, inevitavelmente, um termômetro do futuro da humanidade. E, diante dessa escolha, é preciso repetir sem hesitar: do rio ao mar, Palestina livre.

Mariana

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