Em uma sala de aula diferente das que estamos habituados a ver em escolas convencionais, lá não existem fileiras de mesas e cadeiras para os alunos e nem um único quadro para escrever, nem uma só professora para todos os alunos. A sala de aula é grande e dividida por prateleiras em algumas áreas, como linguagem, matemática, geografia entre outras, uma parte é exclusiva para os alunos poderem esquentarem o lanchinho e lavarem o que foi usado.
Estamos falando de uma sala de aula montessori, o método traz uma proposta pedagógica centrada na autonomia, na liberdade com responsabilidade e no respeito ao ritmo de cada criança. Criado pela médica italiana Maria Montessori, é baseado em observações científicas sobre o desenvolvimento infantil e busca formar indivíduos críticos, conscientes e emocionalmente equilibrados.
Ao contrário do modelo tradicional de ensino, que prioriza a memorização e aulas uniformes, a pedagogia montessoriana parte do princípio de que cada criança é única e deve ser respeitada em seu processo de aprendizagem. “O ensino convencional vai muito de encontro de uma aula igual para todos. Em Montessori, cada aluno tem um planejamento individual que respeita seu tempo, suas habilidades e suas necessidades”, explica Gilvane Lopes, diretora da escola Eu Adoto Montessori, localizada em Camobi.
Eu Adoto Montessori: uma escola diferente
Gilvane, criadora da escola, conta que descobriu o método após anos atuando como professora de matemática em escolas tradicionais e perceber que muitos estudantes chegavam ao ensino médio com grandes defasagens. “Eu via que a dificuldade deles não estava no conteúdo em si, mas na base. Foi aí que encontrei a pedagogia montessoriana e entendi que, se a educação infantil for mal estruturada, todo o restante será comprometido.”
A escola Eu Adoto Montessori é, atualmente, a única instituição da cidade que segue fielmente os princípios montessorianos em Santa Maria. Começou com turmas de educação infantil e hoje já oferece até o terceiro ano do ensino fundamental, com planos de expansão até o nono ano. “Já temos a aprovação legal para ampliar. A demanda só cresce, e hoje só temos vagas para bebês”, conta a diretora.
O crescimento da escola, segundo Gilvane, é resultado do impacto positivo que as famílias percebem nas crianças. “São alunos mais tranquilos, organizados, conscientes”.
Os três pilares do Montessori
Segundo a diretora, o método é sustentado por três pilares filosóficos: autoeducação, educação como ciência e educação cósmica. “A criança aprende sozinha, no seu tempo, com apoio do adulto e de um ambiente preparado. Esse ambiente é cuidadosamente planejado, com materiais desenvolvidos por Maria Montessori, iguais em escolas montessorianas do mundo todo”, afirma.
Nas salas de aula montessorianas, os alunos têm liberdade para escolher suas atividades dentro de um planejamento, e os ambientes são multietários, ou seja, com crianças de idades diferentes no mesmo espaço. “Essa convivência é extremamente rica. Os mais velhos ajudam os mais novos, o que fortalece o aprendizado e desenvolve habilidades sociais. É uma verdadeira educação para a vida”, destaca.
Gilvane ressalta que o papel do professor é muito mais de observador e mediador do que de transmissor de conteúdo. “O adulto precisa estar emocionalmente preparado, conhecer profundamente o desenvolvimento infantil e saber intervir no momento certo. A criança aprende quando é respeitada em suas fases e quando o ambiente oferece os estímulos adequados.”
Educação bilíngue e parceria com as famílias
A proposta pedagógica inclui ainda o ensino bilíngue, com professores que falam português e inglês em sala, as crianças têm contato com os dois idiomas de forma natural, utilizando o inglês ao trabalhar com os materiais de linguagem, mas mantendo a liberdade de se expressar de acordo com seu estágio de desenvolvimento.
Além disso, a escola desenvolve uma relação próxima com as famílias, com formações regulares e orientação sobre como aplicar os princípios montessorianos em casa. “A educação é uma parceria. Fazemos reuniões, escutamos os pais, damos suporte psicológico quando necessário e mostramos na prática o trabalho que realizamos. É impossível não se encantar”, afirma.
Um legado que atravessa gerações
A trajetória de Maria Montessori, nascida em 1870 na Itália, inspira diariamente o trabalho desenvolvido na escola. Primeira mulher a se formar em medicina em seu país, Montessori uniu o conhecimento científico ao olhar sensível para a infância, defendendo que a educação deveria respeitar o desenvolvimento natural da criança, em vez de tentar moldá-la a padrões rígidos. Suas ideias, à época revolucionárias, romperam com os paradigmas tradicionais e ainda hoje influenciam educadores em todo o mundo.
“O que a gente faz aqui é plantar sementes de autonomia, responsabilidade e empatia. Estamos formando pessoas para viverem com consciência, e não apenas para passar em provas”, afirma Gilvane.
Mais de um século depois, os princípios defendidos por Maria Montessori seguem relevantes, sobretudo em um mundo cada vez mais acelerado, que valoriza resultados imediatos em detrimento da saúde emocional e da construção de sentido. Em contraste com essa lógica, o método montessoriano propõe uma educação mais humana, centrada na criança como sujeito ativo de sua própria aprendizagem.
O legado de Maria Montessori não está apenas em seus livros ou materiais pedagógicos. Ele vive nas mãos pequenas que escolhem com concentração uma atividade na estante, nas conversas respeitosas entre colegas de diferentes idades, no brilho nos olhos de uma criança que descobre que é capaz. É uma herança viva, e potente, de uma mulher que acreditava, acima de tudo, na capacidade transformadora da infância.
Por: Maria Francisca de Mello
