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EMAET: a escola onde a arte respira em Santa Maria

Logo na entrada, o cheiro fresco de tinta pairava no ar. O corredor iluminado conduzia os olhos para as primeiras obras, criações de alunos que já anunciavam, silenciosamente, o que aquela escola representa. Em meio a pincéis, instrumentos e esculturas em formação, se encontra a alma da EMAET – Escola Municipal de Artes Eduardo Trevisan,  um espaço onde a arte não apenas se ensina, mas vive.

Fundada em 1982, por jovens artistas que sonhavam em democratizar o acesso à arte, a EMAET há mais de 40 anos transforma a realidade de crianças, adolescentes e adultos em Santa Maria. Mais do que uma escola pública, é um território de expressão, de afeto e de cidadania. Hoje, com cerca de 600 alunos e cursos gratuitos de teatro, artes visuais, música e práticas circenses, segue sendo a única instituição pública voltada exclusivamente ao ensino das artes no município.

Na tarde em que visitamos a escola, o cotidiano artístico revelava-se em cada canto. Na sala de escultura, dois alunos concentrados moldavam o silêncio em forma. O camarim, a sala de teatro ampla e bem equipada, a acústica envolvente da sala de música, tudo parecia respirar dedicação. E entre uma porta e outra, a surpresa: estudantes de artes visuais decoravam os banheiros da escola, pincéis na mão e sorrisos no rosto, numa atividade que misturava criação e comunidade.

Ao sair, já era hora do lanche. No refeitório, a mesa com pães e frutas aguardava os alunos,  porque ali, alimentar-se também é um gesto de cuidado. É nesse cenário simples e potente que a EMAET constrói seu legado.

“Com a EMAET eu entendi a dinâmica que o curso poderia me proporcionar como futura artista. No dia da inscrição do vestibular, optei por licenciatura em artes, porque minha professora aqui me inspirava. Hoje sou professora de Artes Visuais, de fotografia, e faço parte da equipe diretiva como coordenadora pedagógica”, conta Andressa, ex-aluna da escola que um dia sonhou voltar,  e voltou.

Para a diretora da instituição, Elionice Dias Machado, o espaço vai além da estrutura física:

“Há 43 anos, a EMAET transforma vidas por meio da arte. Ensina a conviver, a se expressar, a respeitar o outro e a acreditar em si mesmo. É uma escola pública com alma.”

Resistência e urgência

Apesar da potência, a EMAET enfrenta desafios que ameaçam seu funcionamento. Quatro turmas de teatro infantil estão sem aulas por falta de professores. Faltam também um educador ou educadora especial e um intérprete de Libras, profissionais essenciais para atender estudantes com deficiência, incluindo dois alunos surdos que frequentam a instituição.

“O impacto é grande. As crianças sem aula de teatro perdem um espaço importante de criação e convivência. E isso afeta até a rotina das famílias, que precisam buscar os filhos mais cedo. É uma quebra no fluxo do dia, no planejamento da escola, no direito à arte”, relata Elionice.

Embora o atual prédio, alugado pela prefeitura no fim de 2023, ofereça boas condições físicas, a ausência de equipe completa compromete a proposta pedagógica.

“Temos um espaço ótimo, mas sem equipe não há como o trabalho acontecer como deveria. O professor de teatro, o educador especial e o intérprete de Libras são urgentes. Precisamos deles agora”, reforça a diretora.

No último dia 2 de junho, a comunidade escolar ocupou as galerias da Câmara de Vereadores de Santa Maria em um ato pacífico e comovente. Com cartazes coloridos, depoimentos emocionados e o grito coletivo “A EMAET não é invisível!”, estudantes, professores, familiares e apoiadores pediram providências do poder público.

O que diz a Secretaria de Educação?


O movimento exige a contratação imediata dos profissionais em falta e a garantia de investimentos contínuos na escola, a Secretaria de Educação afirmou ter conhecimento sobre a falta dos profissionais e informou que já realizou reuniões com a direção da escola para esclarecer o trâmite de chamamento. Na quarta-feira (4), foi publicado um edital para contratação de professor de teatro e de intérprete de Libras. Segundo a pasta, os profissionais convocados têm 10 dias para assumir as vagas. Caso haja desistência, um novo edital é solicitado e o processo se reinicia.

Sobre a importância da EMAET, a Secretaria destacou que a escola é considerada um equipamento estratégico da Rede Municipal de Ensino, contribuindo de forma significativa para a formação artística e cultural dos estudantes. A sede atual, mais ampla e acessível, permitiu a ampliação do atendimento e do público, reforçando o compromisso com a inclusão e a diversidade.

A reportagem também questionou se a escola faz parte de um planejamento estratégico da Secretaria. Em resposta, a pasta garantiu que há projeções para ampliação das atividades, tanto no atendimento direto na sede da EMAET quanto na atuação da equipe artística dentro de outras escolas da rede, como forma de complementar os currículos escolares.

Sobre os protestos realizados por estudantes e professores, o posicionamento oficial foi de respeito às mobilizações. A pasta afirmou que “está aberta ao diálogo e que todas as demandas apresentadas pelas instituições de ensino são recebidas e encaminhadas para avaliação”.

Por fim, quanto à comunicação entre a Secretaria e a direção da EMAET, a resposta foi de que há diálogo constante, com reuniões sendo realizadas ao longo do ano, algumas solicitadas pela própria escola e outras pela gestão da pasta.

Arte é direito, não luxo

Em tempos de fragilidade nas políticas culturais, a situação da EMAET escancara um dilema: que lugar a arte ocupa no projeto de cidade que se quer construir? Ao negligenciar sua única escola pública de artes, Santa Maria corre o risco de apagar uma chama que há décadas ilumina trajetórias.

A EMAET não é apenas um prédio com oficinas: é uma política viva. É onde o pincel encontra o afeto, onde a música ensina escuta, onde o teatro transforma timidez em coragem. Preservá-la é preservar o direito de sonhar com mais cor e mais sentido.

“A escola é o coração da arte de Santa Maria. É pública, gratuita, inclusiva e cheia de amor. Temos alunos incríveis, temos vontade de fazer. Só precisamos da equipe completa. Investir na EMAET é investir em arte, afeto e cidadania. Nós não somos invisíveis”, finaliza Elionice.

Enquanto isso, nas paredes pintadas, nos palcos improvisados, nos olhos atentos dos alunos, a arte segue resistindo. Porque onde há cor, há voz. E onde há EMAET, há vida.

Por Samara Debiasi e Anna Clara Tesche

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