A Páscoa chegou. E com ela, uma avalanche de ovos de chocolate, laços brilhantes, plásticos metalizados, caixas coloridas, fitas, bandejas e papéis com apelo irresistível, que mais parecem enfeites de presente de fim de ano. Em uma data que deveria representar renovação, esperança e conexão entre as pessoas, o que muitas vezes vemos é o excesso tomando conta das prateleiras — e, logo depois, dos lixos das cidades.
Você já parou para pensar quanto do que você compra na Páscoa é realmente chocolate… e quanto é só embalagem?
A cada ano, as campanhas promocionais antecipam mais o calendário da Páscoa. A indústria aposta cada vez mais em estratégias para encantar o olhar do consumidor — principalmente das crianças—, produtos chamativos, prontos para seduzir os consumidores com brindes, personagens licenciados e embalagens cada vez mais elaboradas. Mas o que acontece com todo esse material depois que a festa passa?
Grande parte dessas embalagens é composta por plásticos metalizados (como o famoso papel celofane metalizado), isopores, adesivos, tintas e fitas de difícil reaproveitamento. Esses materiais, mesmo quando encaminhados para a coleta seletiva, muitas vezes não são reciclados por falta de tecnologia ou viabilidade econômica. Resultado: toneladas de lixo descartadas em poucos dias, com destino certo aos aterros sanitários ou, em casos mais graves, ao meio ambiente.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, cerca de 30% do volume de resíduos sólidos urbanos no Brasil é composto por embalagens. Em datas comemorativas, esse número dispara. Apenas durante a semana da Páscoa, estima-se que mais de 20 mil toneladas de resíduos sejam geradas em todo o país, considerando apenas os resíduos de produtos alimentícios, doces e suas embalagens. E quando o lixo não é separado corretamente ou não há coleta seletiva eficiente, a maior parte desse material acaba se perdendo.
Além do impacto visual — lixeiras transbordando no dia seguinte —, há o custo ambiental oculto. A produção de embalagens exige extração de recursos naturais, alto consumo de água, energia e transporte. E quando descartadas de forma inadequada, muitas dessas embalagens vão parar em rios, parques, margens de estradas, gerando contaminação do solo, entupimento de bueiros, proliferação de vetores e até risco à fauna urbana.
Mas há caminhos alternativos. O consumo consciente começa com escolhas mais simples e responsáveis: optar por ovos com menos embalagens ou com materiais recicláveis, prestigiar produtores locais que trabalham com embalagens sustentáveis, reutilizar itens do ano anterior ou até criar os próprios presentes em casa. Panos, potes de vidro decorados, caixas reutilizáveis, tecidos — tudo pode ser criativo e afetivo, sem agredir o meio ambiente.
Outra ação fundamental é o destino correto dos resíduos. Retirar restos de chocolate, separar corretamente os materiais recicláveis, higienizar plásticos e verificar os pontos de entrega voluntária no seu município pode fazer toda a diferença. Em muitas cidades, como Santa Maria, associações de recicladores desempenham um papel essencial nesse processo, e sua valorização é parte da solução.
E que tal aproveitar a data para envolver as crianças e familiares em práticas sustentáveis? Ensinar desde cedo que nossas escolhas têm impacto, que o planeta sente, e que o verdadeiro valor de um presente não está na embalagem, mas no gesto.
A renovação que a Páscoa simboliza também pode — e deve — se aplicar aos nossos hábitos. Reduzir o desperdício, pensar antes de comprar, escolher com consciência e destinar corretamente os resíduos são gestos que tornam nossas celebrações mais alinhadas com o futuro que desejamos construir. Afinal, quando falamos de sustentabilidade, pequenas atitudes feitas com intenção podem ter efeitos duradouros. E isso sim é motivo para celebrar.








