Dia 20 de agosto foi o Dia Nacional de Conscientização da Dor.
“Sentimos a dor, mas não a sua ausência” – Arthur Schopenhauer.
A dor, especialmente quando se torna crônica, é muito mais que um sintoma: é um desafio humano e de saúde pública. No Brasil, ela carrega o peso de milhões de vidas afetadas, onde cada dia vivido é marcado não apenas pela presença da dor, mas pela ausência de alívio.
O Ministério da Saúde e os relatórios da Organização Mundial da Saúde (OMS) alertam para a dimensão deste problema. Em 2023, foi publicado que 37% dos brasileiros acima de 50 anos sofrem de dor crônica. Outros estudos apontam prevalência ainda maior, chegando a 40% a 45% da população adulta. Em cada estatística, há um rosto, uma história, um cotidiano alterado pela persistência de algo invisível, mas devastador. A dor lombar desponta como a principal queixa, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS).
No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) reconhece a gravidade do tema e estruturou o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) da Dor, aprovado pela Portaria nº 1.083 de 2012 e atualizado em 2024. Esse protocolo oferece diretrizes para diagnóstico, tratamento e acompanhamento dos pacientes, sempre destacando que a dor é multidimensional – atravessa o corpo, a mente e o espírito.
O tratamento proposto inclui desde medicamentos simples até o uso criterioso de opióides em casos graves. Mas vai além: traz para o centro da cena terapias não farmacológicas – fisioterapia, psicoterapia, acupuntura, práticas integrativas e complementares em saúde (PICS) – todas disponíveis no SUS. Mais que protocolos, são tentativas de devolver ao paciente o direito de viver com dignidade.
A OMS, por sua vez, reafirma que tratar a dor é um direito humano. Sua Escada Analgésica, criada inicialmente para a dor oncológica, permanece como símbolo de racionalidade terapêutica: aliviar, passo a passo, sem excessos, mas sem negligências. No entanto, em seu relatório de 2023, “Left behind in pain” (Deixados para trás na dor), a organização denuncia as desigualdades globais no acesso a analgésicos, especialmente à morfina em países de baixa e média renda. A dor, que já é em si injusta, se torna ainda mais cruel quando o alívio existe, mas não chega a quem precisa.
O Brasil, em alinhamento com as recomendações da OMS, busca integrar suas políticas e consolidar a atenção primária como linha de frente no manejo da dor. Estruturar esse cuidado significa não apenas tratar sintomas, mas enxergar o paciente como um ser integral, com corpo, mente, emoções e contexto social.
A dor crônica maltratada não é apenas sofrimento: é semente de depressão, dependência medicamentosa, uso abusivo de anti-inflamatórios, agravamento de doenças associadas e, sobretudo, perda de qualidade de vida. O cotidiano torna-se cúmplice de um sofrimento que não descansa. É a vida esvaindo-se em tons de cinzas.
Se, como disse Shakespeare, “todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente”, é nosso dever coletivo criar políticas, serviços e práticas que não apenas reconheçam essa verdade, mas que lutem contra ela. Aliviar a dor é restituir a vida. É permitir que cada paciente recupere o direito de existir de reescrever sua história – sem o peso de ser refém de si mesma.
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