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Esporte em dose dupla

Transformação. Essa é a palavra que define o que o judô representa para a família de Victor e João, irmãos gêmeos de 14 anos, moradores de Santa Cruz do Sul. Mais do que um esporte, se tornou ponte, abrigo e horizonte, não apenas para os meninos, mas para todos ao redor deles.

O início foi quase por acaso. Victor enfrentava dificuldades na escola. Alvo de bullying por causa do corpo, buscava um espaço onde pudesse recuperar a autoconfiança. O judô, sugerido como atividade extracurricular, acabou se revelando uma forma de resistência silenciosa, uma resposta que não vinha com os punhos, mas com disciplina, equilíbrio e respeito. João, inspirado pelo irmão, decidiu seguir o mesmo caminho. Subiu no tatame, vestiu o quimono e, aos poucos, também se apaixonou pelo esporte. O que começou como curiosidade, se transformou em uma paixão compartilhada. E o que era apenas uma atividade fora da escola, virou o centro da rotina, das conquistas e dos sonhos de toda a família. 

Hoje, os ‘gêmeos do judô’ dividem mais do que a aparência similar. São atletas de alto rendimento, colecionadores de medalhas e donos de sonhos olímpicos. No tatame, eles se espelham um no outro. João diz, com simplicidade e firmeza, que sua maior inspiração é o próprio irmão. Victor, por sua vez, revela que o que mais o impulsiona é o amor profundo pelo esporte. Essa relação de admiração mútua vai além das lutas. Eles se desafiam, se apoiam e, mesmo nos momentos mais difíceis, caminham lado a lado. “Felizmente, sempre amei muito este esporte, e o João sempre foi um incentivo a continuar, mesmo sem ter razões para desistir. Nós dois sempre queremos superar um ao outro”, conta Victor.

E o esforço já rendeu frutos. Em 2025, João conquistou o 3º lugar no Sul-Brasileiro, um feito marcante para o jovem atleta. Victor, com orgulho, celebra uma marca consistente: “Acho que minha conquista mais marcante foi minhas 4 medalhas de ouro em campeonatos estaduais. Isso em 4 anos lutando o estadual. Uma marca grandiosa para mim.”

Mas nem tudo são pódios e comemorações. A vida de quem compete em alto nível traz consigo desafios. A pressão de manter o desempenho, o controle rigoroso de peso e as exigências emocionais de cada campeonato fazem parte da rotina dos irmãos. “A pressão de estar lá e estar no peso da minha categoria é difícil”, admite João. “O maior desafio é a pressão, mas não posso deixar de falar do dinheiro. Os campeonatos são muito caros, ainda mais os de fora do estado”, completa Victor.

Na torcida, no apoio e na rotina: o papel da família

A vida dos irmãos segue um ritmo acelerado. Os dias começam cedo, com escola pela manhã, e se estendem até a noite nos tatames. Às 20h30, retornam para casa. Terças e quintas são reservadas exclusivamente aos estudos, com foco em deveres, trabalhos e provas escolares. Mesmo com essa carga, eles ainda encontram tempo para o que é natural a toda criança e adolescente: jogar futebol, ping pong, videogame, ou simplesmente dormir um pouco mais nos dias de folga. Mas a paixão pelo judô nunca sai do foco.

“Eu sempre deixei isso aberto para eles, a escolha do que querem fazer. Eles amam o judô e passam horas do dia dedicados a ele”, conta o pai, Tiago Rauber, que os acompanha desde a primeira aula e é testemunha do impacto profundo que o esporte teve na vida dos filhos e também na rotina da família.

A partir do momento em que os meninos se encontraram no esporte, a vida em casa passou a girar em torno de treinos, viagens, alimentação balanceada e todas as exigências de uma rotina de atletas. “Precisamos ser autônomos, correr atrás de muita coisa, fazer concessões. Mas eles amam o que fazem. Então vale a pena”, afirma o Tiago.

As medalhas, que já ocupam espaço nas prateleiras da casa, não são apenas conquistas individuais: são vitórias compartilhadas. “Ver os dois subindo no pódio, cada um na sua categoria, é uma realização pessoal. Pai só quer ver o filho feliz. E o judô traz isso para eles. Então seguimos”, conta o pai, emocionado.

Mas seguir em frente, no alto rendimento, exige mais do que força de vontade. Requer estrutura, visibilidade e apoio. “O maior empecilho para qualquer atleta é o apoio financeiro no começo, quando os custos são mais altos”, destaca o pai, mencionando despesas com inscrições, viagens, hospedagens e equipamentos.

A mãe resume o sentimento com uma frase que carrega o peso e a beleza da jornada: “Às vezes me pego pensando como uma simples atividade extracurricular mudou tanto nossa vida. Desde que eles decidiram ser atletas de alto rendimento, se dedicam ao máximo. Treinam muito, exigem-se demais e querem sempre mais. No que puder, e até no que não puder, vamos apoiar. Porque esse sonho transformou nossa vida inteira.”

Hoje, os irmãos são exemplos, não apenas para quem pratica judô, mas para qualquer jovem que busca um propósito. E é com maturidade surpreendente para os seus 14 anos que eles deixam um recado para quem está pensando em dar o primeiro passo nesse caminho. “Judô é muito mais do que aprender golpes”, diz João. “É ter respeito, disciplina e atitude. O importante não é ganhar sempre, mas nunca desistir.”

Victor completa com uma visão que carrega o peso de sua própria trajetória: “Acho que o esporte na infância e na adolescência é essencial. Esporte gera mentalidade pra vida adulta, ensina princípios, ensina a perder… e isso vale pra vida toda.”

Em Santa Cruz do Sul ou onde o sonho os levar, eles já deixaram uma marca: a de que o judô, assim como a vida, se aprende no chão, mas se conquista em pé.

Se essa história te inspirou, ajude esses meninos a realizarem um sonho: chegar à fase final do Campeonato Brasileiro, em João Pessoa, na Paraíba, e representar com orgulho o nosso estado. Contribua pelo PIX: 054.611.960-39.

Mariana

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