- EUA de olho na Elevação do Rio Grande
Foto: Luigi Jovane / USP
A Elevação do Rio Grande, formação geológica a 1.200 km da costa do RS, voltou ao centro do xadrez geopolítico. Rica em terras raras, insumos-chave para tecnologias de ponta, a “ilha submersa” de 500 mil km² é reivindicada pelo Brasil desde 2018, mas segue sem soberania reconhecida pela ONU. Enquanto isso, os Estados Unidos, que não são signatários da Convenção do Direito do Mar, já demonstram interesse na área, sem obrigação de respeitar a decisão da comissão internacional.
Na última semana, o presidente do Ibram, Raul Jungmann, revelou que o encarregado de negócios dos EUA no Brasil procurou o setor mineral em busca de informações sobre os recursos. A investida diplomática provocou resposta imediata de Lula: “Aqui ninguém põe a mão. Este país é do povo brasileiro”, afirmou em evento em Minas. A crise se soma à tensão comercial provocada pelo novo tarifaço imposto pelos norte-americanos a produtos brasileiros.
Especialistas apontam que o impasse pode virar moeda de troca em negociações bilaterais envolvendo desde mineração até tecnologia, investigações e defesa. Sem controle legal sobre o território, o Brasil tenta acelerar sua tese de que a elevação é uma extensão natural da plataforma continental. Mas, até lá, a cobiça por minérios críticos segue acirrando os bastidores.
Para analistas, há risco, mas também margem para cooperação. O Brasil detém expertise em exploração submarina e, se conquistar o reconhecimento da ONU, ganha fôlego no cenário global da transição energética. A Elevação do Rio Grande é mais que uma fronteira geológica, é uma peça estratégica no jogo da soberania e dos interesses minerais do século XXI.
- Projeto propõe controle rígido para Pit Bulls em Rio Grande
Tramite na Câmara de Vereadores de Rio Grande, um projeto de lei que propõe regras mais rígidas para a criação e circulação de cães da raça Pit Bull e similares no município. A proposta, assinada por um grupo de parlamentares, determina a proibição da venda e reprodução desses animais, além da exigência de microchipagem e castração compulsória. Também estabelece critérios para a condução em locais públicos, como uso de focinheira, guia curta e condutor maior de idade, com restrições de acesso a áreas de grande circulação, como escolas e praças.
A justificativa central do Projeto de Lei nº 114/2025 é o aumento da segurança pública, sobretudo após casos de ataques envolvendo cães dessa raça no país. No entanto, o texto levanta debates sobre o limite entre a proteção da coletividade e os direitos dos tutores responsáveis. Entidades de proteção animal já se manifestaram, em outras cidades com legislações semelhantes, alegando que a periculosidade está menos ligada à raça e mais à criação inadequada e à negligência de tutores. A imposição de regras generalizadas pode penalizar quem segue boas práticas de cuidado e socialização.
Caso aprovado, o projeto ainda dependerá de sanção do Executivo municipal. Além das medidas preventivas, o texto prevê multa de R$ 5 mil para quem descumprir as normas, com possibilidade de apreensão do animal e responsabilização do tutor em caso de abandono ou ataques. O desafio, porém, será garantir fiscalização efetiva e equilibrada, sem alimentar preconceitos contra raças específicas, uma questão que exige não apenas leis duras, mas também educação, políticas públicas de bem-estar animal e estrutura de controle urbano.
- Nikolas Ferreira e aliados viram réus por ataques a Fuad Noman em BH
A Justiça Eleitoral mineira tornou réus o deputado federal Nikolas Ferreira (PL) e outros três nomes ligados ao bolsonarismo em Minas Gerais por suposta campanha difamatória contra o ex-prefeito Fuad Noman (PSD), falecido em março deste ano. A decisão, assinada pelo juiz Marcos Antônio da Silva, do TRE-MG, acolhe denúncia do Ministério Público que acusa Nikolas, os deputados estaduais Bruno Engler (PL) e delegada Sheila (PL), além da ex-candidata a vice-prefeita, coronel Cláudia Romualdo (PL), de articularem uma ofensiva de desinformação na reta final das eleições municipais de 2024 em Belo Horizonte.
O episódio mais grave envolveu a associação de trechos da obra literária de Fuad a crimes como pedofilia e erotização infantil. O material, veiculado em vídeos durante o segundo turno, foi alvo de decisão judicial para remoção, mas voltou a circular por ação direta de Nikolas, segundo o MP. A Procuradoria classificou a ofensiva como “campanha sistemática de desinformação”, e pede a inelegibilidade dos envolvidos.
A acusação aponta Nikolas como protagonista da ação e destaca os impactos emocionais que os ataques provocaram em Fuad e sua família. O ex-prefeito conciliava a disputa eleitoral com um tratamento contra câncer e foi reeleito com 53,7% dos votos. Testemunhas como a viúva e os filhos devem depor ao longo do processo. O caso tem desdobramentos políticos relevantes, já que Nikolas é cotado para disputar o governo de Minas em 2026.
- Eduardo Bolsonaro defende sanções dos EUA contra autoridades brasileiras
Em nova ofensiva internacional, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) voltou a pedir a aplicação da Lei Global Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF, e agora amplia o alvo: os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara, Hugo Motta, também entraram no radar. A legislação americana, que prevê sanções como suspensão de vistos e bloqueio de bens, costuma ser usada contra líderes de regimes autoritários — nunca contra um ministro de Suprema Corte em país democrático.
Eduardo, que está nos EUA desde março, diz contar com o “arsenal de Trump” para pressionar o Judiciário e o Congresso brasileiros, associando a imposição de tarifas comerciais ao que chama de “crise institucional” provocada por Moraes. O deputado ainda criticou o colega Nikolas Ferreira (PL-MG) por não aderir à cruzada contra as autoridades brasileiras, dizendo-se “decepcionado” com a “falta de engajamento” do aliado mais votado do Congresso.
A aposta de Eduardo, no entanto, é arriscada. Ao mirar os presidentes das duas Casas do Congresso, ambos integrantes do Centrão, o filho do ex-presidente pode estar tensionando uma base que o bolsonarismo busca ter como aliada. Caso essa ofensiva se concretize e ganhe corpo nos bastidores diplomáticos, é possível que provoque a ira de líderes partidários de centro, o que pode isolar ainda mais o grupo bolsonarista no tabuleiro nacional. Afinal, por mais que ainda detenham força nas redes sociais, na arena política, bravatas internacionais têm alto custo.
O filho do ex-presidente também defende abertamente a anistia a Jair Bolsonaro como condição para reverter o tarifaço americano. Para ele, não adianta enviar comitivas ao exterior enquanto o Congresso não pautar a anistia e o impeachment de Moraes. O discurso ganhou coro de Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que afirmou que “se o Brasil fizer o dever de casa, a sanção acaba no mesmo dia”. Enquanto isso, Eduardo é investigado no Brasil por suspeita de articular sanções contra o próprio país como forma de obstruir processos em curso no STF.
- Zambelli agradece Flávio e tenta colar rótulo de “exilada política”
A deputada federal licenciada Carla Zambelli (PL-SP) reapareceu em vídeo nas redes sociais, por meio de um perfil alternativo, para agradecer ao senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que teria intercedido por ela junto a autoridades italianas. No registro, gravado de local não identificado, Zambelli afirma ser uma “exilada política” e elogia o gesto do filho do ex-presidente ao pedir que o governo de Giorgia Meloni a receba como perseguida. A parlamentar está foragida desde junho, após ser condenada a 10 anos de prisão por falsidade ideológica e invasão do sistema do CNJ.
Na gravação, Zambelli também diz que as sanções impostas pelos Estados Unidos contra figuras ligadas ao bolsonarismo, como a revogação de vistos e o bloqueio de bens de Eduardo Bolsonaro, servem para “facilitar o entendimento” das autoridades italianas sobre sua situação. Embora evite citar nomes como Alexandre de Moraes ou Donald Trump, a fala é mais um movimento para tentar internacionalizar sua narrativa de perseguição.
Com redes sociais bloqueadas por ordem do STF e incluída na difusão vermelha da Interpol, Zambelli tenta usar o ativismo como escudo, ao passo que sua defesa nega a condição de foragida. O gesto de Flávio, no entanto, reacende os sinais de alinhamento entre parte da família Bolsonaro e movimentos para tentar vitimizar quadros da extrema direita, estratégia que, na prática, pressiona o governo italiano e pode servir de palanque antecipado para os que pretendem disputar o eleitorado bolsonarista em 2026.
- Crédito consignado é sancionado com foco nos CLTs e nos motoristas e entregadores de aplicativos
O presidente Lula sancionou a lei que cria o Crédito do Trabalhador, linha de consignado voltada a empregados da iniciativa privada com carteira assinada. A proposta, já operando desde março por meio de Medida Provisória, ganha agora status de lei e inclui, por decisão do Congresso, motoristas e entregadores de aplicativo, que poderão comprometer até 35% da renda com as parcelas. Desde o lançamento, mais de R$ 21 bilhões já foram movimentados em 4 milhões de contratos, com destaque para a adesão de trabalhadores que ganham até quatro salários mínimos, público que antes tinha acesso restrito ao crédito com taxas mais baixas.
Com juro médio mensal de 3,56%, o novo consignado chega como uma alternativa a operações mais caras do mercado, cujas taxas superam os 8% ao mês. Para garantir segurança, Lula também assinou decreto que exige verificação biométrica nos contratos, além de vetar o compartilhamento de dados pessoais entre bancos, sob argumento de violação à LGPD. A fiscalização ficará por conta do Ministério do Trabalho, que poderá multar empresas que fizerem descontos indevidos ou deixarem de repassar os valores aos bancos.
A sanção marca um aceno do governo ao trabalhador formal e ao setor financeiro, ao mesmo tempo em que joga luz sobre a fragilidade de parte da força de trabalho, que vê no consignado uma saída para o aperto. O Comitê Gestor das Operações de Crédito Consignado, criado por lei, terá agora a missão de equilibrar o acesso ao crédito com responsabilidade financeira, uma equação complexa num cenário de economia ainda oscilante.