O sistema da moda que conhecemos hoje se consolidou de forma efêmera com uma
mentalidade hiper: hiperconsumismo, hiperconectividade, hiper fast fashion. Hoje, o hiper fast
fashion produz entre 8 a 10 mil peças de vestuário por dia. É claro que a acessibilidade da
moda a tornou mais democrática e, em meio a uma sociedade líquida, os seres humanos
conseguem ser mais livres e, por isso, há tanta diversidade de estilos e de roupas em um
curtíssimo prazo de tempo.
No entanto, você já se perguntou: quantos resíduos sólidos, entre eles, as roupas,
geramos e descartamos como se fossem lixo? Vivemos a ilusão de que nossos resíduos
simplesmente desaparecem, jogados no lixo, a coleta passa, e já não é mais problema nosso.
Mas para onde vão as roupas que as marcas e os consumidores descartam de forma indevida?
Segundo o relatório Global Waste Management (2024), em apenas 1 ano, são geradas cerca
de 2,1 bilhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos em todo o mundo, e até 2050, pode
ter um aumento de 56%.
A partir disso, precisamos pensar em alternativas para solucionar esses desafios que
influenciam diretamente na crise climática que estamos passando na atualidade. Por isso,
precisamos repensar as nossas ações e refletir “uma vez que abrimos os olhos para as
questões ambientais e sociais que nos cercam, não dá para voltar atrás e tentar viver como se
elas não existissem (Nader, 2021). Sendo assim, uma das principais e mais sustentáveis
alternativas é a moda circular, pois as roupas foram feitas para circularem e não serem
descartadas em aterros ou ficarem guardadas em guarda-roupas e em desuso.
Nesse cenário, existem iniciativas locais para solucionar as questões referidas acima,
como é o caso do Garimpo da Moda do curso de Design de Moda da Universidade
Franciscana. Um evento clássico do curso que é realizado desde 2016 (semestre em que fui
monitora do Laboratório Teciteca do curso). A primeira edição contou com a participação
apenas dos estudantes de moda, onde trocaram roupas, calçados e acessórios. No ano
seguinte, resolvemos abrir para que o público externo pudesse consumir as peças. A partir de
então, o Garimpo vem crescendo e ganhou espaço na cidade de Santa Maria e região por
fomentar a economia solidária, criativa e sustentável ao vender produtos de moda com preços
de desapego.
E por que garimpar? No primeiro ano, pesquisamos muito sobre os brechós (que ainda
não eram tão evidenciados na sociedade) e entendemos que garimpar roupas pode significar
buscar, selecionar e encontrar produtos em brechós e bazares como se estivesse procurando
um tesouro valioso. Esse termo é usado porque o processo de encontrar uma peça única, estilosa e de boa qualidade é semelhante ao de um garimpeiro que procura pedras preciosas.
Essa prática também está ligada à moda sustentável, ao promover a reutilização de itens,
reduzir o desperdício e dar uma nova vida a roupas usadas. Esse é o propósito: roupas e
produtos carregados de significados, que contam histórias, que fizeram parte de momentos
valiosos da vida de diferentes gerações.
Além disso, um dos objetivos do Garimpo da Moda é também estimular os nossos
estudantes de moda a fazerem a moda circular e olhar para esse ramo como uma oportunidade
de investimento e geração de renda. Pois nesse cenário, destacamos que o mercado de
vestuário de segunda mão deve atingir U$$ 367 bilhões até 2029, crescendo 2,7 vezes mais
rápido que o mercado convencional, segundo o relatório anual Risale Report da Plataforma
Thred Up. O relatório ainda destaca que 48% dos consumidores mais jovens agora consideram
a revenda como sua primeira opção ao procurar roupas, um aumento de sete pontos
percentuais desde 2022.
Por fim, deixo aqui o convite para o próximo: segunda quinzena de abril de 2026, junto
com a Semana do maior movimento ativista de moda do mundo, o Movimento Fashion
Revolution. Pois o Garimpo é realizado semestralmente. Ademais, deixo aqui algumas
reflexões para desmistificar preconceitos com as roupas de segunda mão. Xô, preconceito!
Substitua “nunca acho nada” por “tem que ter disposição”. Substitua “roupas velhas” por
“roupas com história”. Substitua “roupas de brechó têm energia pesada” por “roupas
provenientes de trabalho escravo têm energia pesada”. Substitua “brechós são bagunçados”
por “brechós têm personalidade” Tome coragem, “arregace” as mangas e faça a moda circular,
com ética e responsabilidade.








