Esses dias, em meio a um scroll despretensioso pelo Spotify, tropecei numa playlist. Mas não era qualquer playlist. Era A playlist. Daquelas com gosto de 2015, cheiro de gloss de morango e a estética bem definida de uma Anna Clara de 15 anos.
Assim que dei play, minha mente automaticamente me transportou para aquela versão minha: perfil no Tumblr todo trabalhado no dark academia, Ray-Ban redondinho no rosto, piercing dourado no nariz, batom vinho matte da Avon, e o coque frouxo estrategicamente montado, igualzinho aos das personagens que eu escrevia nas minhas fanfics no Wattpad, que por sinal era meu plano de fuga e onde aprendi a amar escrita, e até acho que meu amor por jornalismo literário tenha começado ali e eu nem sabia o que me esperava pela frente..
2015 e 2016 foram os anos que embalaram minha adolescência. Tempos regados jaquetas de couro, delineados com rímel bem presente, a livros como A Culpa é das Estrelas, Percy Jackson, Jogos Vorazes. Tinha MTV sempre ligada depois da aula, os intervalos da escola acompanhados de um fone enroscado no pescoço, ao som de Arctic Monkeys, Lana Del Rey, Tame Impala , e o ritual sagrado de encontrar as amigas e comer churros na volta pra casa. Às vezes sinto saudade de mim mesma naquela época. Sinto falta da menina que sonhava sem limites. Não que eu tenha parado de sonhar… mas aos 15, tudo parecia possível.
(Tá, um certo alívio: as calças de galáxia ficaram no passado, mas a música indie daquela era, essa sim, nunca saiu de moda nos meus fones de ouvido.)
A música, no fim, virou meu jeito favorito de voltar no tempo. Uma cápsula sonora onde reencontro minha essência mais crua e criativa, onde ainda me imagino sendo VJ da MTV ou jornalista da Capricho. E nessa onda de memórias e identidades antigas, um nome surgiu com força: Indie Box.
A festa universitária que a adolescente alternativa dentro de mim sonhava em viver. Lembro como se fosse hoje a primeira vez que fui: coturno preto, short jeans, camiseta preta, camisa xadrez por cima, batom vermelho escuro e o delineado gatinho (que me acompanha desde a adolescência). Me senti num portal entre aquela Anna dos 15 e a que sou agora, e desde então decidi que não perderia nenhuma edição da Indie Box.
Curiosa sobre a história por trás da festa que virou tradição, fui atrás de quem faz esse evento acontecer, e claro, descobrir mais camadas desse fenômeno que pulsa nostalgia a cada batida indie-pop.
Uma festa feita de memórias — e identidade
A Indie Box nasceu em 2011, fruto do amor de dois amigos pela música e pela cena independente. Ambos já tocavam em bandas locais como Jaloux, Paris em Chamas e Carro de Passeio — com o indie rock como trilha principal. Frequentadores assíduos do Macondo Lugar, foi lá que tudo começou, quando o então sócio da casa, Atílio Alencar, ofereceu uma noite de quarta-feira para eles discotecarem suas faixas favoritas.
Nascia assim, quase despretensiosamente, a primeira edição da Indie Box.
“No início a festa acontecia nas quartas e tinha entrada free para estudantes, mas logo caiu no gosto da galera e acabou ganhando espaço na programação fixa da casa, passando a acontecer nos finais de semana”, contam os organizadores.
A seleção musical da festa segue um ritual que mistura curadoria pessoal com escuta ativa do público. “Procuramos misturar os clássicos do indie com as novidades do estilo. É claro que nosso gosto conta, mas o mais importante é tocar o que o público gosta de ouvir.” No Instagram, é comum ver caixinhas para sugestões. Também existe uma playlist colaborativa no Spotify — onde todo mundo pode colocar sua faixa favorita.
Mas se tem uma regra que eles seguem à risca, é essa: nada de remixes, versões acústicas ou mashups. A Indie Box é feita pra cantar junto, em voz alta, na versão original da faixa. Porque, no fim das contas, é disso que a galera gosta: da lembrança viva, da música que marca, do refrão que gruda e nos transporta direto pra uma época.
Para os organizadores, o indie não é só uma sonoridade — é uma época da vida.
“Éramos jovens (hahaha) quando o estilo teve o seu auge. Nós dois somos de cidades pequenas e estávamos recém-chegando em Santa Maria pra cursar faculdade quando rolou o boom do indie rock. Tivemos bandas, tocamos bastante e vivemos esse período de forma bem intensa, então sim, envolve um sentimento de nostalgia.”
E como nem tudo são flores fluorescentes, dificuldades vieram no caminho.
“Muitas casas fecharam, a noite mudou bastante, e o perfil do público também muda de tempos em tempos. Na época da explosão do funk, por exemplo, sempre rolava algum pedido pra sair do nosso estilo e tocar outro tipo de som. Mas o que nos diferencia é exatamente isso: não tocar o que todo mundo toca.”
A fidelidade ao estilo e à proposta fez da Indie Box uma festa que resiste ao tempo e aos modismos passageiros. E talvez seja esse o segredo: manter a essência, mesmo quando tudo muda ao redor.
Hoje, a Indie Box é mais do que uma festa: é um ponto de encontro para quem, assim como eu, se conecta com aquele passado indie de forma emocional e estética. É sobre se sentir pertencente, dançar Fluorescent Adolescent com amigos e reviver, nem que seja por uma noite, a versão adolescente de si mesmo que acreditava que o mundo era um palco cheio de possibilidades. Deixo aqui meu agradecimento a Indie Box, por conseguir resgatar em mim mesma uma versão que, sinto muita falta, mas que tinha um brilho indescritível no olhar para o mundo.
E no fim, talvez a música seja mesmo a nossa máquina do tempo mais honesta.
O agravamento das mudanças climáticas tem gerado impactos significativos em todo o planeta. Oano de…
Nos dias 25 e 26 de outubro, o Lab Criativo, localizado na Vila Belga, será…
A recente interceptação da flotilha de ajuda humanitária em águas internacionais por forças de Israel…
Nesta quarta-feira, a Comissão Especial responsável por acompanhar o projeto de duplicação da RSC-287 realizará…
Chegamos a Outubro, e com ele, o mundo se veste de rosa em uma das…
No dia de ontem, nossa estimada Universidade Federal de Santa Maria, uma das maiores expressões…