A música nativista perdeu uma de suas vozes mais marcantes. João Chagas Leite foi muito mais que um cantor e compositor: foi um símbolo de autenticidade, de ternura e de fidelidade ao chão gaúcho. Sua trajetória, marcada por mais de cinco décadas de dedicação, ajudou a moldar a identidade cultural do Rio Grande do Sul.
Autor de mais de 300 composições, João imortalizou canções como “Desassossegos”, “Penas”, “Pampa e Querência”, “Ave Sonora” e “Por Quem Cantam os Cardeais”. Conquistou 13 primeiros lugares em festivais nativistas, foi bicampeão consecutivo da Tertúlia Musical Nativista de Santa Maria e homenageado em diferentes municípios, sempre reconhecido como um dos grandes nomes da música regional.
Mas além do artista consagrado, havia o homem generoso, de riso fácil e alma doce, que enxergava a música como ponte entre as pessoas. Quem conviveu com ele sabe que a sua presença enchia o ambiente — fosse no palco, numa roda de prosa ou em família.
Tive a honra de conviver de perto com esse João sensível e humano. E é impossível falar sobre sua ausência sem lembrar o quanto ele foi um avô amoroso para a minha filha, Valentina. Entre uma cantiga e outra, entre festivais e viagens, ele sempre encontrava tempo para estar presente, com a ternura e o cuidado que só os grandes homens sabem ter. A música, para ele, também era um gesto de amor — e esse amor agora segue vivo no olhar da Valentina, que carrega o brilho e o canto do avô no coração.
Em junho de 2024, tive a alegria de indicar seu nome para receber a Medalha Coração do Rio Grande, a maior honraria do Parlamento santa-mariense, aprovada por unanimidade. Naquela sessão solene, ele estava sereno e sorridente — talvez sem imaginar que aquela seria uma de suas últimas homenagens em vida, mas ciente do carinho e do reconhecimento que o povo de Santa Maria e do Rio Grande do Sul lhe devotavam.
João Chagas Leite nos deixa a herança de um talento imenso, de uma humanidade que atravessa gerações e de uma obra que permanece como patrimônio afetivo e cultural do nosso povo.
Que sigamos ouvindo sua voz como quem escuta o vento nas coxilhas — lembrando que artistas como ele não se despedem, apenas mudam de lugar.
João Chagas Leite, Presente!








