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Líder no Brasil, O RS colhe os frutos da noz-pecã

Com cerca de 6.300 hectares cultivados e aproximadamente 1.500 produtores, o Rio Grande do Sul é, hoje, o epicentro da pecanicultura brasileira. O estado concentra 92% da área plantada e responde por cerca de 88% da produção nacional de noz-pecã. A liderança também se estende à indústria, mais de 90% das unidades de beneficiamento estão em território gaúcho, fortalecendo a cadeia produtiva regional e posicionando o produto no radar do mercado externo.

O município de Cachoeira do Sul ocupa lugar de destaque nesse cenário. É lá que se encontra o maior pomar de nogueira-pecã da América do Sul, resultado direto da iniciativa pioneira do agricultor Link, que implantou as primeiras árvores há cerca de 80 anos. Segundo Luciano Mazuim, chefe do escritório local da Emater, “a história da pecanicultura brasileira começa em Cachoeira do Sul, por conta da adaptação natural da cultura ao nosso clima e da ação visionária de produtores que trouxeram as primeiras mudas ainda de forma experimental”, explica.

A nogueira-pecã, originária do sul dos Estados Unidos e do norte do México, encontra no Paralelo 30 Sul, condições muito semelhantes às de sua origem, o que favoreceu sua adaptação. Hoje, além de Cachoeira, os polos produtivos mais expressivos estão nos municípios de Anta Gorda e Santa Maria.

A cultura tem avançado de forma sustentável e com forte protagonismo da agricultura familiar. Pequenos e médios agricultores têm encontrado na pecanicultura uma alternativa viável de diversificação de renda. Incentivos públicos, como o programa estadual Pró-Pecã, linhas de crédito rural e assistência técnica têm sido fundamentais para consolidar esse crescimento.

Apesar do cenário promissor, o setor ainda convive com gargalos importantes. As adversidades climáticas, como as chuvas intensas de maio de 2024, seguidas por períodos de estiagem, provocaram perdas de até 40% na safra 2024/2025. Ainda assim, a expectativa para 2025 é positiva, mesmo com menor volume, os frutos apresentam qualidade superior, resultado de práticas aprimoradas de irrigação, manejo integrado e uso de tecnologias adaptativas.

“Mesmo diante das perdas climáticas, há otimismo entre os produtores. A safra de 2025, embora reduzida, tem se destacado pela qualidade dos frutos, reflexo de um esforço contínuo por parte dos agricultores em adotar tecnologias e práticas sustentáveis de manejo”, afirma Claiton Wallauer, presidente do Instituto Brasileiro de Pecanicultura (IBPecan).

Outro entrave técnico relevante enfrentado pelos produtores é a escassez de defensivos agrícolas específicos para a nogueira-pecã. Segundo Luciano Mazuim, chefe do escritório da Emater em Cachoeira do Sul, embora o Brasil tenha mais de 3 mil produtos registrados para uso na agricultura, apenas uma pequena parcela é liberada para aplicação na cultura da pecã — o que dificulta o controle de pragas e doenças. Ele explica que essa limitação está ligada ao fato de a nogueira ainda ser considerada uma cultura regionalizada, o que reduz o interesse de grandes grupos de pesquisa e desenvolvimento.

A comercialização é outro ponto sensível. Os produtores enfrentam dificuldades para garantir preços justos e ampliar a inserção do produto nos mercados nacional e internacional. Ainda assim, a cadeia está se estruturando. Em Cachoeira do Sul, empresas como a Pecanita e a Divinute beneficiam e exportam nozes, principalmente para o Oriente Médio. Grandes marcas como a Nestlé, inclusive, já utilizaram o produto gaúcho na indústria de chocolates.

Além dos benefícios econômicos, a nogueira-pecã também oferece vantagens ambientais. Como árvore perene, contribui para a fixação de carbono, proteção do solo e manutenção da biodiversidade. Mazuim destaca, ainda, o potencial de integração com lavoura e pecuária. “Nos primeiros anos de implantação, o pomar pode ser consorciado com milho ou utilizado como pastagem para ovelhas e bovinos, o que torna o aproveitamento da área ainda mais inteligente”.

Para o futuro, as oportunidades passam pelo fortalecimento da organização dos produtores, pela agregação de valor com produtos processados e, principalmente, pelo aumento do consumo interno, ainda tímido diante do potencial nutricional e gastronômico da noz-pecã. Consolidar a marca Brasil no exterior, com padronização, certificações e escala, também é parte do caminho para um crescimento sustentável da cadeia.

Por: Reinaldo Guidolin
Imagem: Divulgação

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