As fortes chuvas que voltaram a assolar Santa Maria esta semana revelaram algo que já era visível, mas raramente discutido com coragem: a quantidade de lixo que vai parar nos rios e arroios. Dados recentes divulgados pela prefeitura mostram que, após os temporais, cerca de 500 toneladas de resíduos foram recolhidas em mutirões de limpeza, erguidos em sangas, córregos e pontos de risco nos bairros Campestre do Menino Deus, Pinheiro Machado, Tancredo Neves, Noal, Passo D’Areia e no Distrito de São Valentim.
Esse volume impressionante (equivalente a cerca de 50 caminhões-cheios de lixo) foi retirado das redes de drenagem e escoamento pluvial, encaminhado à Central de Tratamento da CRVR ou entregue a entidades parceiras por meio do programa Descarte Legal. Mas o fato é que essa situação se repetirá sempre que a drenagem falha e o descarte irregular continuam. A lição é clara: sem reciclagem eficaz e descarte consciente, o lixo causa enchentes e ameaça vidas.
O índice de reciclagem na região de Santa Maria é alarmante: apenas 1,17% de todo o lixo gerado pela população é reciclado. Isso significa que mais de 98% dos resíduos secos vão direto para aterro, ou pior, acabam nos rios, contaminando a água, o solo e ampliando os riscos de doenças. Mesmo com esforços para estruturar a coleta seletiva desde 2023, a cobertura segue restrita a alguns bairros e condomínios, e as limitações operacionais ainda comprometem o impacto da iniciativa.
Por isso, reciclar não é um gesto simbólico é uma estratégia de prevenção climática. Cada lata, cada garrafa, cada saco reciclável que entra na coleta seletiva é menos entupimento de bueiro, menos lixo nos rios e menos impacto na capacidade da cidade de escoar água em momentos críticos.
Enquanto isso, graças à estrutura da Coleta Seletiva em Santa Maria, canalizada pela ASMAR desde 2023, cerca de 335 toneladas de resíduos secos foram recolhidas em seis meses contra mais de 38 mil toneladas encaminhadas ao aterro sanitário no mesmo período (dados extraídos da coleta e reciclagem do ano de 2023, seis meses após a implementação da parceria com a ASMAR). O contraste revela uma urgência: precisamos multiplicar a adesão, intensificar campanhas e desenvolver estratégias para incluir bairros não atendidos, condomínios, comércios e serviços públicos.
O lixo não respeita feriados ou limites geográficos. Quando chove, ele é carreador de doenças. E mais do que diminuir o volume de lixo, é preciso garantir que o que for descartado vá para o lugar certo. O descarte irregular alimenta o assoreamento dos corpos d’água, fechando rotas de escoamento, causando alagamentos e ampliando os impactos econômicos, sociais e ambientais.
Além disso, a infraestrutura de reciclagem precisa ser fortalecida: apoiar os catadores, valorizar sua economia solidária, estruturar galpões de triagem e criar incentivos para que cooperativas atuem com dignidade e sustentabilidade, não apenas como atividades marginais. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) exige essa responsabilidade compartilhada e gestão integrada, mas Santa Maria ainda precisa avançar muito nessa direção.
Atos individuais como separar lixo seco de orgânico são fundamentais, mas sem um sistema público robusto, sem políticas claras e sem fiscalização, continuam insuficientes. Precisamos coletar vídeos, imagens, relatos, usar os dados e envolver escolas, associações, empresas, bairros e lideranças comunitárias em campanhas verdadeiras de mobilização.
Precisamos também valorizar o programa Descarte Legal, inaugurado em 2019, que oferece pontos de entrega para bens inservíveis, móveis e eletroeletrônicos, uma alavanca importante para evitar que itens volumosos virem foco de lixo em enchentes futuras.
Reciclagem é prevenção. É investimento estratégico contra tragédias anunciadas. E é também uma forma de cuidar da saúde da água e do solo, que nos abastecem e sustentam. Cada detalhe conta: impedir que uma sacola entope um bueiro, evitar que um resto de comida estragada seja levado pela enxurrada, garantir que garrafas e papéis sigam para a triagem.
Por isso, esta coluna tem um chamado urgente: faça sua parte. Separe seu lixo, informe-se sobre a coleta seletiva da sua região, use canais como as redes sociais e telefones da prefeitura municipal, para denunciar focos de descarte, participe de mutirões comunitários e incentive quem convive direta ou indiretamente com o serviço dos resíduos: catadores, cooperativas, agentes públicos.
Sem todos nesses papéis, a próxima enchente será igual — ou pior. Mas com uma cidade mobilizada, o lixo pode virar recurso, comunidades podem virar ecossistemas urbanos mais resilientes, e o ato de reciclar se transforma em uma ação climática.
Lixo no lugar certo é mais do que slogan. É dignidade urbana, é cuidado coletivo, é prevenção. E, acima de tudo, é pensar no futuro, antes que a próxima tempestade mostre mais uma vez o que insistimos em ignorar.
Muitas vezes, ao visitar escolas, postos de saúde e equipamentos da assistência social, ouço o…
Na sessão desta quinta-feira (10), a Câmara de Vereadores de Santa Maria aprovou o Projeto…
Neste domingo, dia 13 de julho, o clima de festa junina vai se misturar com…
Julho chegou e, com ele, as férias escolares, tão esperadas pela criançada. É tempo de…
Uma decisão judicial movimentou a região da Quarta Colônia nesta semana. A juíza Rosangela Maria…
O programa Agora Tem Especialistas, lançado pelo Governo Federal, do presidente Lula, por meio do…