Enquanto muitas famílias celebravam a Páscoa como um momento de renascimento e esperança, 10 mulheres no Rio Grande do Sul tiveram suas vidas brutalmente interrompidas pelo feminicídio. Pelotas, Serafina Corrêa, Parobé, São Gabriel, Bento Gonçalves, Viamão e Santa Cruz do Sul foram alguns dos municípios que registraram esses crimes hediondos. Em muitos casos, os assassinos foram ex-companheiros das vítimas, e os crimes ocorreram dentro das próprias casas das mulheres ou em via pública, em plena luz do dia mostrando a audácia dos agressores. Dez lares devastados, dez histórias truncadas pela mesma violência misógina que insiste em tratar mulheres como propriedade, não como pessoas.
Os números não são acidentes isolados: são o resultado de uma estrutura patriarcal que naturaliza o controle masculino sobre o corpo, as escolhas e a vida das mulheres. Medidas protetivas são paliativos necessários, mas não suficientes. Enquanto ensinarmos que ciúme é “amor”, que posse é “proteção” e que agressão é “paixão”, continuaremos a colher corpos femininos como frutos apodrecidos desse mesmo sistema.
A mudança começa na raiz: precisamos falar de machismo e misoginia nas escolas. Não basta punir criminosos depois que o sangue já foi derramado; é preciso impedir que novos homens se tornem agressores. Educação não-violenta, debates sobre consentimento e a desconstrução de estereótipos de gênero devem ser parte essencial da formação de crianças e jovens. Enquanto meninos aprenderem que “homem de verdade” é aquele que domina, e meninas internalizarem que sua vida vale menos, estaremos alimentando essa máquina de morte.
A Páscoa deveria lembrar a vitória da vida sobre a morte. Mas para essas dez mulheres – espalhadas por diferentes regiões do estado, em cidades grandes e pequenas – a única mensagem foi a de que o machismo não descansa, não tem feriado, não faz trégua. A geografia variada dos crimes mostra que não se trata de um problema de “uma região” ou “uma classe social”, mas de uma epidemia que atravessa todo o tecido social.
Chega de velar cadáveres e normalizar assassinatos. Precisamos desmontar, tijolo por tijolo, a casa patriarcal que abriga esses crimes.
Por um mundo onde mulheres vivam – sem medo, sem donos, sem violência.








