Desde o primeiro sinal das chuvas intensas que atingiram nossa região, a equipe de extensionistas rurais da Emater/RS-Ascar demonstrou um compromisso inabalável com o bem-estar das comunidades rurais. Nossos profissionais se mobilizaram imediatamente, para realizar um levantamento minucioso das perdas que é parte importante dos Decretos de Emergência realizados nos municípios. Este trabalho, que exige sensibilidade, precisão técnica e muito empenho, continua conforme os acessos às comunidades vão sendo restabelecidos. Cada informação coletada, cada imagem registrada, compõe um Boletim Preliminar que retrata fielmente a dimensão do impacto nos 35 municípios da região administrativa da Emater-RS/Ascar de Santa Maria.
Os números impressionam e nos convidam à reflexão. Em determinados municípios, o volume de chuva ultrapassou a marca dos 560 mm em poucos dias, um índice que supera em muito a média histórica e que, inevitavelmente, se traduz em tragédia para centenas de famílias. Muitas delas perderam tudo: suas casas, suas plantações, seus animais e, em muitos casos, a esperança de recomeçar. O drama humano é visível nos olhares de quem busca abrigo em casas de parentes, amigos ou nos abrigos oficiais, improvisados às pressas para acolher tantos desabrigados.
As consequências para a infraestrutura são igualmente devastadoras. Estradas e acessos, fundamentais para o escoamento da produção e para o deslocamento das pessoas, foram interrompidos ou destruídos. O isolamento de comunidades inteiras dificulta o socorro e agrava o sofrimento de quem depende do campo para sobreviver.
No setor agropecuário, as perdas financeiras são desafiadoras. Pastagens submersas comprometem a alimentação do gado de corte e dos rebanhos de ovinos, resultando em queda expressiva na produção de carne. Na produção de leite, os desafios se multiplicam: além da baixa qualidade das pastagens, as dificuldades logísticas para o transporte diário do leite levam a perdas constantes, que se acumulam dia após dia e ameaçam a continuidade pelos produtores.
A apicultura, vital para a polinização e para a geração de renda, teve sua produção de mel afetada. Na piscicultura, as enxurradas arrastaram peixes e destruíram açudes, comprometendo anos de trabalho e investimento. Os produtores de fumo viram suas mudas e camalhões serem levados pelas águas, enquanto lavouras de milho, prestes a serem colhidas, foram devastadas em questão de horas. A produção de hortifrutigranjeiros, essencial para o abastecimento local, será novamente suprida por outras regiões, elevando custos e dificultando o acesso a alimentos frescos para a população.
Na agricultura, as culturas de inverno, recém-semeadas, foram fortemente afetadas. O trigo, que já vinha sofrendo com a redução de área plantada devido às adversidades climáticas dos últimos anos, enfrenta agora mais um revés. Perdas em lavouras de canola, aveia preta e aveia branca se somam ao cenário de prejuízos que se impõe sobre nossos produtores rurais, muitos dos quais já estavam fragilizados por eventos climáticos recentes como a recente estiagem na safra de verão. As lavouras de arroz já haviam sido colhidas mas não escaparam dos prejuízos, os quadros planejados com técnica topográfica mais uma vez foram dizimados, sistemas de irrigação e drenagem perdidos além de muitos equipamentos e maquinários.
Mas muito além do financeiro, o prejuízo é também social, pois afeta diretamente a segurança alimentar e a renda das famílias rurais. Esse sofrimento se traduz em endividamento crescente e em um êxodo rural acelerado, fenômeno que já vinha acontecendo há anos. Muitas famílias, ao perderem tudo, veem-se obrigadas a abandonar suas terras e buscar abrigo nas cidades, deixando para trás não só seus bens, mas também suas raízes, sua cultura e sua história. O relato de agricultores que perderam plantações, criações e até suas casas revela o desespero de quem, de uma hora para outra, precisa recomeçar do zero, muitas vezes sem apoio suficiente para reconstruir a vida.
Para quem vive cada dia dependendo do sol e da chuva, os desafios não se encerram nos prejuízos imediatos. A vida no campo exige uma resiliência diária. Em menos de 60 dias, muitos municípios enfrentaram uma severa estiagem, e pouco mais de um ano atrás, uma enchente histórica já havia deixado marcas profundas. Esses eventos extremos, cada vez mais frequentes e intensos, nos obrigam a repensar, com urgência, nossa relação com a natureza e com a produção de alimentos.
É fundamental que todos compreendam a dinâmica das águas e a importância de adotar técnicas conservacionistas amplamente validadas pela ciência. O enfrentamento dessas adversidades não pode ser uma tarefa individual. É preciso agir de forma coletiva, analisando as bacias hidrográficas, promovendo a cooperação entre produtores, técnicos, gestores públicos e a sociedade como um todo. Só assim construiremos uma resiliência climática verdadeiramente eficaz e duradoura.
Ressalto que a responsabilidade é de todos os cidadãos! Nas cidades, é alarmante ver o lixo produzido sem destinação adequada, que, a cada chuva, emerge dos bueiros em forma de plásticos, tecidos e resíduos diversos, agravando ainda mais as consequências dos eventos climáticos. Nosso modo de interagir com o meio ambiente precisa mudar. A sustentabilidade deve ser uma bandeira comum a todos. Cada cidadão, do campo ou da cidade, precisa fazer a sua parte, ou eventos como este continuarão a impactar nossas vidas de forma cada vez mais severa.
A enchente histórica de 2024 é um chamado à ação. Ela nos ensina, de forma dolorosa, que ainda temos muito a fazer para regenerar nossos solos e reparar os danos causados pela chuva. Nós, da Emater/RS-Ascar, reafirmamos nosso compromisso em orientar e apoiar a adoção de boas práticas agrícolas, porque acreditamos em uma agricultura sustentável e regenerativa, promovendo a convivência harmônica entre a produção e o meio ambiente. Convidamos todos os cidadãos, do campo e da cidade, a se engajarem, educando-se e cuidando adequadamente de seus resíduos. É hora de unir esforços, de assumir responsabilidades e de agir com solidariedade, para que possamos construir um futuro mais seguro, resiliente e sustentável para todos.
Não podemos mais adiar as mudanças necessárias. O futuro do campo, das cidades e das próximas gerações depende das escolhas que fazemos hoje. Juntos, podemos transformar desafios em oportunidades e garantir que tragédias como esta não se repitam com a mesma intensidade.
Foto: Marcelo Steiner
Por: Guilherme G. dos Santos Passamani
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