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Membrana da placenta vira curativo e SUS aprova uso em pacientes com queimaduras

Por Reinaldo Guidolin

Um material que até pouco tempo era descartado após partos agora ganha um novo e importante uso no sistema público de saúde brasileiro. A membrana amniótica, estrutura retirada da placenta de mulheres que deram à luz, acaba de ser aprovada para uso como curativo biológico no tratamento de queimaduras pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

O método, que já era utilizado em caráter experimental em alguns hospitais públicos de São Paulo, demonstrou resultados expressivos na redução da dor e na aceleração da cicatrização. A decisão de incorporar a técnica à rede pública foi tomada pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias do SUS (Conitec) no início de maio de 2025 e representa um avanço importante na medicina regenerativa do país.

Como funciona o novo curativo

A membrana amniótica corresponde à camada mais interna da placenta, responsável por proteger o feto contra impactos, desidratação e infecções durante a gestação. Após o parto, o tecido pode ser coletado, mediante autorização da mãe, e passa por um processo semelhante ao de transplante de pele, que inclui triagem, exames, esterilização e armazenamento em bancos de tecidos.

Fininha, flexível e resistente, a membrana pode ser aplicada em qualquer região do corpo, inclusive mãos e rosto. Uma vez colocada sobre a ferida, forma uma barreira biológica que ajuda a evitar infecções, reduz a perda de líquidos, alivia a dor e estimula a regeneração celular. O curativo pode permanecer na pele por até 14 dias.

“Os pacientes queimados morrem de infecção, então só de prevenir infecção já é um grande ganho, né? Além disso, vai reduzir a dor do paciente, porque você vai cobrir aquela terminação nervosa que fica exposta por conta da queimadura”, explica André Oliveira Paggiaro, chefe do Banco de Tecidos da Unidade de Queimados.

Avanço com base na experiência

A técnica já é aplicada há décadas em países como Estados Unidos e integrantes da União Europeia, e teve sua primeira utilização emergencial no Brasil durante a tragédia da Boate Kiss, em 2013. Desde então, vinha sendo utilizada apenas em pesquisas específicas. Agora, com a autorização do SUS, a expectativa é de que a oferta do material seja ampliada em até quatro vezes.

A Santa Casa de Porto Alegre, que abriga um dos quatro bancos de tecidos humanos do Brasil, será uma das responsáveis pela distribuição da membrana. Segundo o cirurgião plástico Eduardo Chem, diretor do Banco de Pele da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, a medida amplia o alcance de um recurso seguro e eficiente.

“Com a membrana amniótica, poderemos atender muito mais pacientes com um recurso biológico eficaz e acessível”, afirma Chem.

A liberação plena do uso depende agora do aval do Sistema Nacional de Transplantes, que definirá os critérios para doação, as instituições habilitadas e os protocolos técnicos.

Segurança, eficácia e alternativas naturais

Além de ser biocompatível, o curativo à base de membrana amniótica tem propriedades anti-inflamatórias e analgésicas, o que o torna uma alternativa segura e eficaz, com baixo risco de rejeição. Pode ser usado em queimaduras de segundo grau, feridas extensas e áreas de enxerto, contribuindo para a redução do tempo de internação e dos custos hospitalares.

Nos últimos anos, outras soluções naturais também foram testadas no país. Um exemplo é o uso da pele de tilápia no tratamento de queimaduras, iniciativa surgida no Nordeste e que ganhou repercussão internacional, inclusive sendo citada em séries como Grey’s Anatomy e The Good Doctor.

Expectativa de início ainda em 2025

O Ministério da Saúde prevê que a nova terapia esteja disponível à população logo no início do segundo semestre. A proposta é ampliar a rede de maternidades captadoras e habilitar novos bancos de tecidos, garantindo que mais pacientes, em diferentes regiões do Brasil, possam se beneficiar da técnica.

Enquanto isso, casos como o do pintor Leonardo da Silva, de 42 anos, atendido com o curativo biológico após sofrer uma descarga elétrica, já mostram os bons resultados da abordagem. “A dor diminuiu. Quando os enfermeiros abrem o curativo, eu vejo as melhoras que está tendo. Tenho fé em Deus que vou sair daqui bom”, disse o paciente.

Reinaldo Guidolin

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