Uma nova febre tem conquistado o paladar dos brasileiros e movimentado as redes sociais: o “morango do amor”. A sobremesa — que lembra a tradicional maçã do amor das festas juninas — consiste em um morango fresco envolvido por brigadeiro branco e uma camada crocante de caramelo vermelho. O doce viralizou nas plataformas digitais, com vídeos de sua produção e consumo alcançando milhões de visualizações. Em algumas cidades, estabelecimentos chegam a registrar longas filas de clientes em busca da iguaria.
Além do sucesso nas redes, o morango também se destaca na economia. O Brasil é o maior produtor da fruta na América do Sul e, em 2023, ocupou a 9ª posição no ranking mundial, com uma produção de 197 mil toneladas, segundo dados da FAOSTAT. As principais regiões produtoras estão localizadas em Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo.
Em que pese o bom desempenho em volume, o país ocupa apenas a 14ª colocação em área plantada, com 5.084 hectares dedicados ao cultivo, o que indica uma produtividade média de 38,7 toneladas por hectare. Essa eficiência contribui para que estados produtores pratiquem preços mais competitivos em relação ao restante do mercado.
Dados da Emater/RS-Ascar indicam que os três maiores produtores gaúchos de morango são Caxias do Sul, Feliz e Pelotas. Na região Central do Estado se destaca o município de Agudo. Aproximadamente 80 famílias produzem morango neste município.
Produção desafiante e mão de obra intensiva
Nos últimos anos, o setor enfrentou desafios importantes, principalmente relacionados ao fornecimento de mudas. Muitos produtores relataram atrasos na entrega, além de problemas fitossanitários e baixo desempenho de variedades importadas. O cultivo do morango também exige alta demanda de mão de obra, dificultando a mecanização e limitando a produção em larga escala.
Essa característica torna o cultivo importante do ponto de vista social, uma vez que gera empregos para os agricultores familiares nas etapas de plantio, manejo, colheita e pós-colheita.
Rentabilidade e fatores que influenciam o lucro
Mesmo considerando os desafios, o morango é uma cultura de alta rentabilidade. A lucratividade, no entanto, depende de uma série de variáveis, como o tipo de cultivo (convencional ou hidropônico), a região produtora, a produtividade, os custos de produção e o preço de venda.
Sistemas mais tecnificados, como os cultivos hidropônicos ou em estufas, costumam gerar maior produtividade e, portanto, maior retorno financeiro. Em condições ideais, é possível alcançar produtividades de até 57,5 toneladas por hectare.
O custo de produção inclui despesas com mudas, insumos (fertilizantes, defensivos), mão de obra, irrigação, embalagens e transporte. Já o preço de venda oscila ao longo do ano, influenciado pela oferta, demanda e forma de comercialização (in natura ou para a indústria).
Estudos apontam que a receita bruta por hectare pode variar entre R$ 45 mil e R$ 100 mil por ano, dependendo do sistema de produção e do mercado. Em cultivos hidropônicos, esse número pode ser ainda maior. No entanto, para chegar ao lucro real, é necessário descontar todos os custos operacionais.
Foto: Paulo Lanzetta
Guilherme G. dos Santos Passamani
Engenheiro agrônomo, doutor em Agronomia
Gerente da Emater/RS-Ascar da região de Santa Maria
e-mail: ggsantos@emater.tche.br