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O Déficit de Humanidade

Há um vazio que não para de crescer. Um déficit invisível, mas sentido na pele, no olhar, no silêncio que se instala quando mais precisaríamos de voz. A falta crônica de empatia, o colapso da compaixão, a normalização do absurdo, tudo isso se resume no termo que ouvi esses dias que é o “déficit de humanidade”.

Vivemos dias em que certas frases, antes impensáveis, agora ecoam como lugar-comum: “Imigrante vem roubar emprego”, “Bandido bom é bandido morto”, “Lacração”, “Mulher no lugar dela”, “Criança mimada demais”. E, enquanto o ódio se disfarça de opinião, a violência se banaliza. Nem os animais escapam, são tratados como objetos e descartados como lixo.

O que nos aconteceu? Quando deixamos de enxergar o outro como um igual? Quando o diferente virou ameaça, e não riqueza? Quando a dor alheia passou a ser apenas “mimimi”?

A tecnologia nos aproximou de quem está longe, mas nos afastou de quem está ao lado. Compartilhamos memes, mas não dividimos o pão. Debates viraram combates, e as redes sociais, campos de batalha onde a única regra é “destruir o oponente”. Não importa se é um refugiado em busca de sobrevivência, uma mãe solo lutando pelo sustento, um jovem LGBT expulso de casa ou um idoso esquecido no asilo. Há sempre alguém pronto a julgar, a condenar, a apontar o dedo e nunca para estender a mão.

O mundo está doente. Não de vírus, mas de indiferença. E o remédio não está na ciência, e sim no espelho. Precisamos nos perguntar, todos os dias: Que mundo estamos construindo?Um onde crianças têm medo de brincar na rua, onde mulheres calculam rotas para não serem assediadas, onde negros ainda carregam o peso da história, onde ser quem você é é um ato de coragem?

Não dá mais para normalizar o inaceitável. Não dá para achar que “sempre foi assim” e seguir em frente. Humanidade não é um dado adquirido, é uma escolha. E, hoje, estamos escolhendo mal.

Onde vamos parar? Depende de nós. Ainda há tempo de reabastecer o estoque de empatia, de ouvir mais e gritar menos, de olhar nos olhos e reconhecer: ali também habita um ser humano.

Antes que o déficit nos consuma por completo, é hora de fechar a conta do ódio e reabrir a da esperança.

Porque um mundo sem humanidade não é mundo, é um deserto. E nós estamos morrendo de sede.

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