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O Futuro é Agora 

Findou-se o verão. As aulas cessaram, as piscinas se esvaziaram, os balneários e praias adormeceram. Mas, enquanto ortopedista, testemunhei cenas que ecoam como alertas silenciosos—pequenos gestos de descuido que podem desenhar tragédias. 

Crianças e adolescentes, frágeis como folhas ao vento, estão sob nossa guarda. Nós, os adultos, supostamente responsáveis, deveríamos ser seus portos seguros. No entanto, quantas vezes os vemos soltos no banco da frente dos carros, sem cinto, sem altura, sem proteção? Quantos se equilibram como acrobatas no teto solar, ou agarram-se às motos, com ou sem capacete, entregues ao acaso? 

Patinetes, skates, patins—dançam sobre rodas sem a armadura que os salvaria. E os trampolins, palcos de festas, abarrotados de corpos pequenos, de pesos e idades distintas, sem um olhar verdadeiramente atento a zelar por eles. 

Os números não mentem, apenas sussurram verdades duras. Segundo a OMS, a POSNA, o CDC e a AAP, os acidentes são a principal causa de morte em crianças acima de um ano. Mais de 830 mil vozes se calam, anualmente, vítimas de quedas, trânsito, afogamentos, queimaduras. Por cada vida perdida, dezenas de leitos hospitalares, centenas de gritos silenciados nos pronto-socorros. 

Nas estradas, o perigo espreita. Acidentes de trânsito lideram as mortes entre 5 e 14 anos. Cadeirinhas negligenciadas, cintos abandonados, capacetes esquecidos—cada ausência é um convite à tragédia. Nos ônibus, crianças em pé, balançando em frotas antigas, enquanto as cidades, caóticas, viram labirintos sem saída. 

E o lazer? Esportes e brincadeiras, que deveriam ser sinônimos de alegria, carregam sombras. Fraturas de punho, cotovelos partidos, trampolins que se transformam em armas domésticas. Nos EUA, já se levantaram contra seu uso em casa. Aqui, seguimos desatentos. 

Dentro de casa, os perigos se disfarçam de normalidade: móveis que viram precipícios, líquidos que viram chamas, venenos que se confundem com doces. As quedas, sozinhas, respondem por 60% das emergências pediátricas. 

Uma em cada quatro crianças carregará uma cicatriz significativa antes dos 16 anos. Nos EUA, 2,8 milhões de visitas ao pronto-socorro, anualmente, falam de ossos quebrados. No Brasil, as estações ditam o ritmo das fraturas—mas a negligência é uma constante. 

A prevenção é poesia que salva. Cadeirinhas bem ajustadas, capacetes que coroam cabeças, ruas redesenhadas para abraçar os pequenos. Campanhas que ensinem, políticas que protejam, cidades que acolham. 

O futuro não é um lugar distante. Ele se faz agora, em cada escolha, em cada cuidado. Ele está em nossas mãos—frágil, urgente, vivo. 

O futuro é presente. E ele nos chama.

Coluna por: Dr. Humberto Palma

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